Capítulo 15 - Maria

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Maria Eduarda

_ Ele sempre foi daquele jeito? - Lucas pergunta com dificuldade de falar, movimentando-se pouco, para não sentir mais dor

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_ Ele sempre foi daquele jeito? - Lucas pergunta com dificuldade de falar, movimentando-se pouco, para não sentir mais dor. Estava com o pescoço, braço e perna esquerda enfaixados, alguns arranhões na testa e nos olhos, provavelmente ficaria acamado durante todo esse feriado de natal e ano novo.

Suspirei alto enquanto observava seu olhar deprimido.

_ Sim, ahn... - Pausei e pensei um pouco - Nos conhecemos ainda na escola, sempre fomos da mesma turma. Eu costumava ficar de canto com minhas amigas, ele fazia a bagunça na sala, mas ninguém se importava muito, na real, era engraçado ver as peças que pregava nos alunos mais novos. - Eu sorri sentindo nostalgia desses momentos - Eu queria fazer parte dos grupos populares da escola, então fui me aproximando dele e dos amigos. No começo, minhas amigas implicaram bastante, mas depois que começamos à ir em festas e tudo mais, quando só pais dele não estavam em casa... Foi mágico.

Lucas olhava-me com tom de desprezo, talvez arrependido, mas continuei a falar, pousando a mão em seus cabelos.

_ Mas ele sempre bebia demais, extrapolava em drogas pesadas, ficou muito possessivo quando começamos a namorar, e pra piorar sempre trazia umas garotas que eu não conhecia, era festa todo dia, e praticamente me proibiu de sair para ver minhas amigas.

_ E seus pais? Não fizeram nada? - Lucas perguntava com uma voz extremamente rouca.

_ Eu não tenho pais.

Um silêncio sombrio tomou conta do quarto. Olhares desconfortáveis se confrontavam ali.

_ Eu nunca vi meu pai, ele simplesmente desapareceu quando eu era muito nova, e minha mãe se envolveu com vários caras, mas nenhum deles nunca deu certo - Pausei e ajeitei o braço dele na cama, para que pudesse deitar ao lado. - Não tínhamos dinheiro para absolutamente nada, minha mãe gastava demais com besteiras, fomos despejadas da antiga casa, por que não tinha dinheiro pra pagar... Aí fomos morar com o Jonathan, que tinha oferecido ajuda pra gente... Mas minha mãe logo caiu nas drogas, e eu nem tenho mais contato com ela, mas sei que deve estar por aí, a cracolândia é enorme...

_ Então na verdade você mora na casa dele? - Perguntou Lucas ainda tentando absorver todas as informações.

_ Sim, isso! - Respondi enquanto o abraçava - Eu comecei a trabalhar numa lojinha, aí estava juntando dinheiro pra sair de lá... - Suspirei - E depois estava pensando em abrir medida protetiva, pra... Não machucar mais ninguém.

_ E quantas vezes ele te bateu? - Perguntava Lucas quase à lacrimejar.

_ Eu não sei, algumas vezes, quando bebe demais, mas está tudo bem... Ele sai de vez em quando, fazer algumas paradas aí, e só volta de noite... Ou as vezes nem volta. As vezes eu não sinto vontade de viver, é como se o mundo tivesse acabado pra mim. Não consigo sair da cama nem sorrir. Acho que na real, nem lembro mais de como é isso.

Lucas fechou os olhos e e passou a mão direita na cabeça, como se estivesse muito aflito e preocupado. Depois voltou seu braço para me abraçar. Eu nunca confiei tanto em alguém quanto agora e também estava preocupada com o que podia acontecer, nunca esperei ver ninguém se machucar por causa dos meus problemas e da minha vida, mas também não poderia deixar essa oportunidade cair por terra, havia acabado de conhecer essas pessoas tão gentis.

_ A minha família é um pouco conturbada também. - Ele voltara a abrir os olhos - Meus pais nunca se separaram, mas discutiam todos os dias por diversos motivos, também entrei em depressão por isso, e foi aí que decidi vir morar com meus amigos, já não aguentava mais aquela bagunça e precisava ter mais liberdade. - Contava Lucas.

Levantei minha cabeça para olha-lo, senti que estava relembrando momentos ruins, então tentei faze-lo mudar de ideia.

_ E agora que está com seus amigos, se sente melhor? Consegue estudar e ter suas coisas? - Perguntei.

_ É completamente diferente, eu consigo sentir que tenho uma verdadeira família, tenho pessoas que se importam comigo e querem me ver crescer, estar ao meu lado e, mesmo que tenhamos algumas discussões de vez em quando, resolvemos fácil e não abandonamos ninguém - Lucas responde com toda a alegria que o restava.

_ Como diz o ditado, a união faz açúcar? - Eu ri.

_ Sim, exato! Gostei dessa! - Ele respondeu sorrindo pra mim.

Aproximamo-nos até nossos narizes de encostarem e cada vez que íamos ao encontro de olhares, mais alto ouvia sua respiração. E no silêncio que se encontrava a casa inteira, vazia, nossas bocas se juntavam. E nos beijamos por alguns minutos. Dentre os últimos meses da minha vida, nunca havia sentido mais essa sensação boa, uma mistura de melancolia e felicidade, como se um peso estivesse saído de mim, e ao mesmo tempo, uma saudade e vontade enorme de viver.

Afastamo-nos.

_ Eu vou conversar com o Felipe e vou ver o que podemos fazer pra tentar te tirar desse lugar, okay? - Ele dizia com toda a certeza do mundo.

_ Obrigada - Respondi quase como um sussurro em seu ouvido.

Acho que dessa vez, conseguirei mudar o rumo da minha vida. Acho que dessa vez, voltei a sentir esperanças.

 Acho que dessa vez, voltei a sentir esperanças

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850 palavras.

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A Quarta ParedeWhere stories live. Discover now