13| Convite

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Algumas semanas haviam se passado, mas a minha cabeça nunca havia parado pra pensar em Den. Seu casaco ainda estava no meu quarto, esperando ser entregue ao dono, mas eu ainda não estava preparada para vê-lo novamente; não quando a última situação havia sido embaraçosa.
Porém, de alguma forma, eu ainda o via em alguns lugares que eu frequentava, e quando não o via, eu me sentia sendo observada. Era assustador.

Elsa havia cumprido com o que disse sobre arranjar um meio de transporte mais seguro, e acabou comprando um carro na mão de uma amiga dela. Não era do último modelo, mas estava novo e era bonito, sendo o suficiente para eu me movimentar, sem me preocupar com os horários do ônibus ou de ser assediada nesse mesmo transporte público.

Essa questão, ainda não foi cem por cento resolvida. Aliás, em qualquer lugar nós podemos ser assediadas. Não importa se é no ônibus, na rua, na escola, faculdade ou no trabalho. Não quando o assunto é tentar impor a porra da masculinidade sobre o sexo feminino.
Não estamos seguras em nenhum lugar, por isso, somos forçadas à nos privar de muitas coisas, para garantir um pouco de segurança. Não é certo, e nem deveria ser assim...
Era de dar nojo!

Eu ainda estava medrosa quanto à noite. Evitava os lugares escuros, e quase sempre pedia para Kim ficar comigo até o meu último horário.

A universidade estava em greve, o que me deixou irritada, pois faltava pouco para eu entrar em recesso.

Agora, eu só estava me ocupando com livros e com a lanchonete. Mas isso encheu tanto a minha mente, que eu resolvi sair e dar uma volta pelos pontos mais visitados da cidade. Claro, de dia.

As sequelas ficam, e eu não sabia quando que eu iria me sentir segura novamente. Mas uma coisa é fato: a vítima sempre fica com traumas. Devemos apenas respeitar o seu tempo e apoiar suas decisões; e foi o que Elsa e Diana fizeram.

E eu desejava que todas as vítimas do mundo tivessem esse apoio.

~~

Parei na praia, e fiquei lá durante a tarde toda, até dar o meu horário de ir para a lanchonete. Voltei para casa tarde, mas pelo menos, agora eu tinha carro.

Diana, ao contrário de mim, achava que isso era um bom sinal para poder irmos às festas.

ㅡ Oi, Pen.ㅡ ouvi a voz de Alan.

Tirei meu boné do rosto e o vi de pé, fazendo sombra em meu corpo deitado na grama.

Eu estava em um dos parques, deitada, com o boné no rosto.
Alan estava com uma regata, com uma bermuda de surfe, e o cabelo loiro solto.

ㅡ Oi, Alan.ㅡ me apoiei no cotovelos para encará-lo melhorㅡ Há quanto tempo estava aí?

ㅡ Cheguei agora. Posso? ㅡ perguntou, apontando para o meu lado.

Fiz que sim com a cabeça e ele se sentou, pegando meu livro e o folheando.

ㅡ Você sumiu durante esses dias.ㅡ comentou sem me olhar.

ㅡ Eu estava focada nos estudos.ㅡ respondi, o que não era cem por cento mentira ㅡ E você?

ㅡ Ah, sabe como é... Eu gosto de surfar na maior parte do tempo.ㅡ me entregou o livro ㅡ Você anda muito ocupada?ㅡ me lançou um olhar esperançoso.

Engoli em seco, fingindo não notar.

ㅡ Depende.ㅡ falei ㅡ Minha mãe voltou à trabalhar como enfermeira, então eu tenho que cuidar do meu irmão mais novo.

Ele mordeu o lábio inferior, pensativo.

ㅡ Todos os dias?

ㅡ Não. Só nas segundas, terças e quintas.

ㅡ Então você pode sair na sexta?ㅡ propôs.

Parei um pouco para raciocinar, antes de dizer:

ㅡ Eu saio mais cedo do trabalho, mas fico cansada... Desculpa.ㅡ lamentei.

ㅡ E no sábado? Podemos ir à uma festa na casa de um amigo meu.ㅡ insistiu ㅡ Vai ser maneiro, pô! Só vai ter a galera de maior.

Presumi que Diana não fosse, então.

Eu odiava sair assim, ainda mais com Alan. Ele era um cara legal, mas era muito emocionado também. Sempre que ele bebia, virava o maior galinha que eu já havia visto... Imagina comigo como sua "acompanhante"?

Porém, como eu não sei dizer um não na lata, acabei tentando contornar a situação;

ㅡ Ah... Não sei. Eu sou muito caseira, você sabe.

Ele riu.

ㅡ É só uma festa. Dessa vez, sem Diana no seu pé. Você só vai aproveitar e depois a gente volta assim que você quiser, de boa?

Suspirei.
Ele não vai desistir.

ㅡ Então tá, mas não te garanto que eu fique por muito tempo. ㅡ esclareci.

Ele assentiu e beijou minha bochecha, me deixando levemente corada e surpresa. Alan se levantou da grama e me olhou, ainda sorrindo.

Eu nunca havia lhe dado uma chance, essa era a primeira vez.

ㅡ Então tá. Eu te pego nove da noite, pode ser?!

ㅡ Ah... Beleza! ㅡ respondi tentando parecer animada.

ㅡ Obrigado, Pen. ㅡ sorriu demonstrando sua covinha ㅡ Tô indo na praia, se tu quiser...

Sorri de lado.

ㅡ Não, valeu. Mas boa sorte nas ondas.

Ele acenou agradecido e foi se afastando.

ㅡ Então, tá! Tchau, até sábado!

Suspirei fechando minhas coisas e me joguei de novo na grama, com os olhos fechados e os braços abertos.

Que merda.

~~


Um Acordo ( Concluída)Where stories live. Discover now