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SN SILVA

Nos aproximamos da mesa do suposto americano, meus pés estavam doendo e as presilhas em meu cabelo estavam me pinicando. Na verdade eu já tinha sido confundida com uma africana por duas pessoas e o pior de tudo é que nem perguntam para mim, perguntam para o Césio como se eu não fosse capaz de responder. Já sofri muito racismo no meu próprio país, mas aqui o negócio realmente parece muito pior. Eu olho ao meu redor e só consigo enxergar pessoas iguais, devo dizer que adivinhando a maioria deve ser suíço, o mesmo padrão de rosto, levemente comprido, olhos azuis, cabelos loiros ou num loiro mais escuro. Eu sinto que estou no meio de clones. Para minha surpresa Césio era um dos que se diferenciava, mesmo sendo da Suíça, seus cabelos são pretos como carvão e ainda penteados para trás deixando sua face muito mais chamativa, nem parece com os outros.

Ele se aproximou devagar segurando minha mão, ficar quieta no meu canto me fez notar algumas coisas, ele parecia ter fobia social. A maneira como ele passava os olhos pelas pessoas que roçavam contra sua roupa ao passar e pedir licença ou a maneira como ele parecia assustado cada vez que olhava para aquela porta enorme de entrada e via um monte de gente entrando. Sua mão apertava a minha inconscientemente, se Césio se tocasse de que estava me apertando ou me acariciando dessa maneira nem mesmo iria me segurar. Eu o deixei fazer isso, primeiro para mantermos nossa aparência de marido e mulher, segundo porque não era problema se ele estava com medo. Suas mãos suavam e minhas mãos também suavam, e por isso nossas peles estavam extremamente grudentas. Na verdade meu corpo inteiro estava a suar, porque fico assim sempre que há pessoas demais no mesmo lugar, mesmo que a brisa fraca do ar condicionado bata bem contra minha nuca meu corpo continua a reclamar e reclamar da quentura.

Apertou a mão do homem que eu nem mesmo sabia o nome, sorri largo. Era um homem robusto e bonito. Cabelos castanhos, num tom pouco mais escuro que o caramelo, arrumados num topete baixo, corpo majoritamente malhado e robusto, no seu pescoço não tinha nenhum indício de tatuagem, só a corrente de puro prata que brilhava. Seus olhos eram escuros e pela má iluminação não pude vê-los mais de perto, sua boca não era carnuda no entanto era bem desenhada. Bonita eu diria. Ele pôs os olhos em mim assim que Césio saiu de minha frente e apontou para minha pessoa, dei um passo a frente entre as cadeiras que estavam na mesa redonda e apertei sua mão por educação.

- Franklin Walker. É um prazer senhorita. - Concordei com a cabeça, para alguém que fica atenta aos assuntos de política, aquele nome não me era muito estranho. Ele era o braço direito do presidente dos Estados Unidos, Nasstor, talvez fosse muito mais confiável do que o próprio vice. Me venho a perguntar porque ele não era o vice no entanto também nunca chegou a se candidatar a nada, sempre trabalhou para Nasstor e por isso aquele cargo lhe pertencia.

- Sn. Digo o mesmo. - Balancei a cabeça enquanto ele soltou minha mão. Automaticamente os dois se sentaram, um do lado do outro e me sentei ao lado de Césio, ele me encarou de cima a baixo e em seguida olhou para a cadeira vazia ao lado de Franklin. Bufei e segurei meu vestido, levantando e indo me sentar ao lado do homem. Catei uma taça de vinho no caminho, essa noite não parecia acabar nunca e me sentia cada vez mais no tédio. No tédio não, acho que esta não seria exatamente a palavra. Me sentei respirando fundo pronta para me abrir para alguém que encontro pela primeira vez na vida.

Falar sobre algumas coisas, ainda mais feitas pelo meu pai, ainda servem como gatilhos para mim. E por isso evito falar sobre isso, nem mesmo a Camila sabe sobre algumas coisas. Raul me trata como um bicho, não é nem como um animal, porque animais não merecem essa crueldade. Ele me trata como algo tão maléfico na vida dele que é como se eu fosse capa de matá-lo só pelo toque. Imaginem uma criança louca para receber um abraço do pai e receber um tapa no rosto? Essa era eu. Pequena, inocente e com a esperança de que meu pai iria olhar pra mim e sorrir. Felizmente depois de crescer sei que não desejo nem olhar para a cara dele e que não preciso disso.

DÍVIDA PERFEITA | Livro I • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora