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SN SILVA

Mais de um mês se passou e finalmente encarava o calendário, doze de dezembro de dois mil e vinte e dois. Já era o mês do Natal e me sinto culpada por ter que deixar esse lugar tão bonito logo nesta época tão bonita. Por algum motivo gosto bastante do natal, gosto do espírito natalino que vemos nos filmes. Se tem uma coisa que gosto é fazer coisas de Natal. Quer dizer, também nunca participei de uma ceia em família ou troquei presentes no amigo secreto, no entanto amo fazer biscoitos e enfeitar árvores de Natal. Exatamente como estou fazendo agora.

Jungkook não concordou com a ideia de colocar uma árvore de Natal na sala de estar, e descobri que eles não comemoravam no Natal da mesma maneira que a maioria costuma fazer. Na verdade ao que entendi Taehyung ia sempre com sua família, assim como Zinco que por ventura descobri que seu verdadeiro nome é Jimin. E o Jungkook... ia para sua própria balada beber e ficar chapado até o dia amanhecer e ele nem saber o que fez na noite passada. Isso é bastante deprimente considerando que todos vão ver suas famílias.

Eu me sentia angustiada por deixá-lo aqui. Amanhã é o dia de ir embora. É o dia em que o homem que me deu a vida e que me colocou para baixo vai estar provavelmente morto e meu país talvez entrará num caos assim como sua família. Não posso mentir, mal vejo a hora de voltar. De poder sentir o calor do meu país por mais que eu o odeie muitas vezes. Poder abraçar a Camila e viver uma nova vida com um outro emprego fora do hospital. Esse sentimento me era desconhecido, está doendo mesmo que eu ainda esteja aqui com ele.

São só sete da manhã e eu levantei assim que ouvi os caras trazendo a árvore gigante que Jungkook me permitiu enfeitar. Tá, talvez ele tenha me deixado fazer isso só porque disse que era meu último pedido antes de partir. Nosso relacionamento tem sido tão perfeito que me dá medo, porque sei que relacionamentos não são para serem perfeitos. Assim como tudo no universo. Nossa rotina sexual não é tão presente assim e por culpa minha mesmo, ando me sentindo insegura e me pergunto o porquê sendo que nunca fui assim. Não para me tornar alguém tão preocupada com a minha aparência.

Jungkook tem sido compreensivo e atencioso com isso, digo, eu falo para ele o que sinto e aprendi a me abrir muito mais do que deveria. Ele ama isso. Chega a ser cômico a nossa rotina, enquanto eu não faço nada o Jungkook faz tudo e chega em casa a noite já vindo direto para meu quarto, onde toma banho e conversamos. Lhe perguntei certa vez porque não íamos para o quarto dele nunca e ele disse que não gosta que ninguém fique entrando lá porque é um lugar de refúgio. Eu respeitei. Não iria agir como uma criança e ver o que tinha dentro de seu quarto.

Não posso fuçar as coisas dele desta maneira, porque eu também tenho minha privacidade. Por exemplo, poderíamos acabar com a vida do Raul com a carta da minha mãe e com o diário dela, mas eu implorei para que ele não fizesse isso porque estaria me sentindo exposta também. E ele não o fez. Mesmo sabendo que para a sua máfia seria como ganhar um ouro de presente. Eram informações que acabariam na mesma hora com o governo de Raul. E só consigo agradecer por Jungkook ter me dado isso, quer dizer, ter tido toda essa coragem.

Ele de fato parece uma criança perdida. Órfão. Descobri que odeia essa palavra e não, não o chamei disso, só comentei o que acho de crianças órfãos porque estávamos conversando sobre pais irresponsáveis. Essa palavra em si já é dolorida, carregando uma essência única que imagino ser incapaz de descrever em uma só palavra. Para Jungkook, ter visto a mãe morrer e matar o próprio pai foi como colocar a culpa inteira em uma criança inocente que não tem nada a ver com a situação. Porque ele é a pessoa mais inocente disso tudo.

E não digo isso para defendê-lo com unhas e dentes porque sei que as atrocidades que fez não foram poucas, acredito que tudo tenha um motivo. Acredito que muita gente que se torna assassina, tem um lugar de seu cérebro que lhe faz pensar que isso vai lhe fazer bem. E para minha surpresa Jungkook nunca errou quando matou alguém, de acordo com ele pessoas inocentes nem mesmo entravam em sua lista. As pessoas que matava eram para derem pegas pela justiça, mas nem mesmo a justiça era capaz de fazer os caras pagarem. Se ele pode acabar com o sofrimento de algumas pessoas, porque não fazer isso?

DÍVIDA PERFEITA | Livro I • JJKWhere stories live. Discover now