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SN SILVA

O que dizer sobre pessoas apaixonadas? A paixão tecnicamente é a parte boa do amor e sei disso pelos meus bons olhos que me faz observar os mínimos detalhes em algumas situações. Tenho colegas de trabalho com um relacionamento tecnicamente acabado, aquele em que as duas pessoas se sentem tão cansadas e fadigadas que tesão se torna algo esquisito para o casal. E aprendi com eles que isso é o início para o amor. O amor não é feito só de momentos bons, não em um relacionamento. O que se torna uma coincidência já que eu nunca namorei.

Mas não é porque nunca namorei, que nunca me apaixonei. Porque já me apaixonei sim por alguém, inclusive ele era meu superior. Quer dizer, ele era médico e eu uma enfermeira. Ele tecnicamente era meu chefe. E a maneira que ele me cativou foi pela sua simplicidade e humildade, nossa amizade era genuína e talvez ele tenha sido o único homem até hoje que realmente foi honesto comigo. Era um dos poucos médicos que não tinha vergonha de sair com uma enfermeira, não romanticamente dizendo, nós só almoçamos algumas vezes juntos já que eu trabalhava no mesmo plantão que ele.

Carlos era o seu nome. Ele era baixo, para um homem, seus cabelos eram ralos, e ele parecia indiano. A explicação era a sua mãe indiana. E olha, ele também sofria racismo como eu. Talvez esse fora o papo que fizemos nos aproximar dessa maneira. Eu me apaixonei, me apaixonei a ponto de não dormir ansiosa para encontrá-lo, mas também não seria capaz de acabar com a carreira dele e nem com a minha que estava acabando de começar. E justamente por isso que me tornei obrigada a trocar de plantão com outra pessoa para nunca mais vê-lo. Eu o encontrei outras vezes no corredor, mas não passava de um desconhecido.

E devo dizer que conheço muito bem o olhar de pessoas apaixonadas. Olhares brilhantes, costumam ser cheios de vida. Porque parece com o amor, é tão semelhante que chega a ser um sinônimo. E enquanto aquela conversa curta tinha rolado, com os olhos cerrados e quase fechados a ponto de enxergar somente meus próprios cílios, vi a Alice quando se aproximou. E ela tinha esse olhar para Césio. Mesmo que ele nesse exato momento estivesse cortando o barato dela por completo, e no fundo esse foi o mesmo fora que acabei dando no Carlos. Ou que ele teria me dado se fosse capaz de abrir a minha boca.

Alice estava tentando se conformar com a paixão que sentia por ele, estava deduzindo e indicando para seu cérebro esquecer daquela ideia e cutucar seu coração para se esquecer também. Como eu fiz. No entanto isso aqui parecia muito mais... doloroso. Eu e Carlos nem mesmo nos beijamos, já esses dois já tiveram momentos de sexo e provavelmente outras coisas. Então, mesmo que seja bem direto, é rude para alguém que ama escutar do outro que foi só sexo e que foi o suficiente.

Convenhamos, o Césio já tem cara de quem quebra corações.

Não sei porque mas ele continuou ali ao meu lado depois que todos saíram, enquanto isso o encarei ainda de olhos bem cerrados e com uma maldita dor de cabeça por conta do barulho, seu maxilar ainda parecia travado e ele mordia a boca com bastante frequência. Alice disse que ele estava se apaixonando por mim... mas eu não tenho certeza. Primeiro, não há motivo. Segundo, os olhares que disse antes, são o oposto dos olhos sem sentimentos que ele carrega. Assim como eu, cheio de cicatrizes.

Era como uma ideia estúpida dizer que ele vai se apaixonar por mim, e eu? Não tenho nada a dizer sobre isso. O que quero é que esse pesadelo acabe, porque não aguento mais dormir o dia inteiro ou ficar andando por aquela casa enorme sozinha. Não sirvo para ficar parada, eu tenho que estar em movimento fazendo alguma coisa mesmo que seja inútil. Me apaixonar não está nos meus planos, infelizmente também sei que não tenho como prever isso porque nossos sentimentos são apenas para serem sentidos. É quase impossível controlá-los. Então devo dizer que o futuro é incerto, mas esse cara?

DÍVIDA PERFEITA | Livro I • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora