Capítulo 4

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Dormência.
Por mais que eu tentasse afrouxar o aperto de minha mão ao redor da maçaneta, meus dedos implorando por circulação sanguínea, meu cérebro estava muito ocupado tentando pensar em alguma saída para a súbita revelação que caíra como uma bigorna sobre minha cabeça.
Quando finalmente fui capaz de reagir, fiz a primeira coisa que me ocorreu, por mais estúpida que ela pudesse ser.
Num milésimo de segundo a porta estava aberta, e Elliot e Emily me encaravam com olhos surpresos.

– Anne... – ela começou num suspiro assustado, apesar de meus olhos estarem fixos no irmão – Desculpe pelo barulho, eu...

– É verdade?

Minha voz saiu rouca e grave, e só então me dei conta de que mal havia respirado desde que começara a ouvi-los. Não consegui regularizar a situação, que por sinal só piorou, já que eu estava prestes a receber uma resposta e a adrenalina em meu sangue pareceu duplicar.

– O quê? – Emily perguntou, franzindo a testa em confusão. Bufei, revirando osolhos. Não era hora para desconversar!

– O que você ia me dizer – insisti, ainda focada em Elliot – Sobre o Ben... Ele é... Ele é filho do Harry ?

– Quê? – Elliot riu, olhando para a irmã com incredulidade e levando alguns segundos para voltar a falar, como se o choque que minhas palavras o causaram tivesse roubado as dele – Eu já tinha percebido que você era bobinha, mas maluca também? Como ele traz uma doida dessas pra cá?

– Eu não sei o que você ouviu... – ela o interrompeu antes que ele pudesse
continuar, lançando-lhe um olhar de censura e abafando seus risinhos antes de se voltar para mim, que apenas franzi a testa e esperei pelo momento em que tudo faria sentido de alguma forma – Mas o que você acabou de dizer é simplesmente absurdo.

– Eu ouvi a conversa de vocês... Eu... Mas...

– Você...? – Elliot ergueu as sobrancelhas, parecendo impaciente e me olhandocomo se eu estivesse numa camisa de força.

Emily ostentava a mesma expressão, porém bem mais atenuada. Engoli em seco.
Talvez eu tivesse interpretado erroneamente a conversa dos dois... Talvez eles nem estivessem falando sobre Harry . Eles não estavam exatamente próximos da porta... E se eles estivessem apenas passando pelo corredor discutindo sobre alguém ser pai de Ben e eu tivesse inventado todo o resto em minha cabeça?
Que vergonha.

– Uh... Eu... Me desculpe – gaguejei, olhando de um para outro com extremo embaraço, na certeza de que meu rosto ficava cada vez mais vermelho a cada segundo – Mas é que eu ouvi vocês conversando e por um momento... Por um momento eu pensei que... 
      
– Pensou errado – Elliot concluiu por mim num tom irritado, erguendo uma sobrancelha – Agora pare de ficar escutando a conversa alheia pelo outro lado da porta e vá se arrumar para o jantar. Audrey é pontual quanto às refeições e você ainda está horrorosa.

– Desculpe – murmurei apenas, tensa demais para me esboçar alguma reaçãodecente, e o observei puxar a irmã (que mal me olhara depois de meu vexame eterno, provavelmente constrangida demais com a ideia de ter um filho com o próprio primo) pelo braço corredor abaixo até se afastarem da porta e entrarem num dos últimos quartos. Assim que me dei conta de que estava sozinha, soltei todo o ar involuntariamente preso em meus pulmões, mortalmente envergonhada e extremamente aliviada. Eu podia não conhecê-los direito, mas ambos pareceram bastante convincentes em sua represália, o que tirou de minha cabeça a imagem de Harry e Ben como pai e filho.
Fechei a porta do quarto novamente, respirando fundo por alguns segundos para estabilizar as batidas de meu coração e o ritmo frenético de minha mente. Bati a cabeça contra a madeira repetidas vezes também, me detestando por ter sido tão lunática. Elliot provavelmente tinha razão; eu devia ter alguns parafusos a menos.

Biology IIWhere stories live. Discover now