Harry sorriu ao me receber em seu sofá depois do almoço. Ele foi me buscar na faculdade e me levou até seu apartamento, como de costume às sextas.
– Você está tensa hoje – ele comentou, deslizando as mãos sobre meus ombrosdevagar – Aconteceu alguma coisa?
Aproveitei-me de minha posição, de costas para ele, e fechei os olhos, odiando aquela situação cada vez mais. Neguei com a cabeça antes que ele pudesse notar meu desconforto.
– Não – disse apenas, omitindo a segunda e mais importante parte da resposta.
Mas vai acontecer.
Dali a algumas horas, eu descobriria se Niall estava falando a verdade.
– Como não? Suas costas estão rígidas – ele insistiu, nem um pouco satisfeito com minha resposta monossilábica – Algum problema na faculdade?
Aproveitei a deixa e inventei a primeira desculpa em que pude pensar.
– Não é bem um problema... Tenho um trabalho em grupo para terminar até semanaque vem, e você sabe que sou péssima em lidar com pessoas.– Ah, sim – Harry riu, massageando minhas clavículas, ao que eu não pude deixar de reagir, relaxando pelo menos os músculos sob seu toque – Entendo perfeitamente seu estresse.
Não, você não entende.
– Pois é.
Eu sinto muito.
– No que eu puder ajudar, por favor, peça – ele sussurrou em meu ouvido, beijandomeu pescoço – E não se preocupe. Pode abusar.
Por favor, não me odeie pelo que estou fazendo.
Virei-me de frente para ele com um sorriso fraco. Antes que ele abrisse a boca e perguntasse se realmente estava tudo bem fora o suposto trabalho em grupo, beijei sua boca, segurando a gola de sua camiseta como se uma força invisível o puxasse para longe de mim.– Eu tenho que ir – murmurei contra seus lábios, ao que ele franziu a testa – Daqui apouco o pessoal do grupo vai lá para casa.
Engoli a angústia que mentir para ele causava, e mantive minha expressão neutra. Harry suspirou, tristonho, porém conformado.
– Tudo bem, eu te levo – ele disse, levantando-se do sofá junto comigo e se dirigindo à bancada, onde a chave da moto repousava – Mas vou logo avisando que cobrarei um beijo bem dado de despedida.
Incapaz de não me deixar contagiar por seu bom humor, dei um sorriso derretido antes de segui-lo até o elevador.
– Justo.
– Lá vamos nós – Elliot suspirou, quando entrei em seu carro, mais tarde naqueledia – Está preparada?
– Eu nunca estou – respondi, passando as mãos pelo rosto na tentativa de memanter focada – Mas alguém precisa resolver esse assunto, e já estamos alguns anos atrasados.
Ele assentiu prontamente, mais do que concordando com minhas palavras, e
arrancou rumo ao laboratório de exames. Niall já estava lá quando estacionamos, e parecia levemente desgrenhado, com olheiras suaves sob os olhos, como se não tivesse conseguido fechá-los durante a noite anterior. Antes de deixarmos o veículo, eu e Elliot nos entreolhamos, ponderando o que tamanha ansiedade poderia significar. Em vão, claro; só havia um jeito de descobrir.– Eu já estava quase te ligando – ele disse ao nos ver, caminhando energicamenteem nossa direção mesmo sabendo que teria que dar meia volta e seguir conosco prédio adentro.
– Calma, estamos cinco minutos adiantados – falei, ligeiramente assustada com sua pressa.
Fomos até o balcão e informamos o número do protocolo. No momento em que a atendente começou a procurar o envelope correto dentre os vários armazenados na gaveta do arquivo, meu coração foi invadido por um enorme nervosismo; o peso daquele momento tinha pairado sobre minha cabeça o dia todo, mas ao me deparar com sua inevitável iminência, sobressaltei-me. O comportamento de Niall pareceu bastante justificável então, e ao olhar para Elliot, notei, pela aflição nítida em seu rosto, que ele também se identificava com o homem impaciente entre nós.
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Biology II
Teen FictionTodos os problemas pareciam superados... Pelo menos os problemas que não existiam.