Capítulo 10

4 1 0
                                    

Segurei a maçaneta com mais força, sentindo um certo desequilíbrio devido à adrenalina subitamente lançada em meu sangue. Encarei os olhos inocentes de Niall, sabendo que por trás do disfarce, algo terrível aguardava o momento certo para se revelar. Um sorrisinho satisfeito fez o canto de sua boca subir quase que imperceptivelmente, o que apenas contribuiu para que minhas entranhas se revirassem. Inclinando a cabeça um pouco para o lado, parecendo divertir-se com a repentina palidez que sua aparição causara, ele enfim falou.
      
– Olá,Anne.
        
Minha respiração se tornou irregular à medida que meu cérebro percebia que aquela situação estava realmente acontecendo. O choque se esvaiu rapidamente, levando consigo boa parte de minha firmeza, e após algumas tentativas frustradas, consegui responder.

– O que você está fazendo aqui?

Niall ergueu levemente as sobrancelhas diante de meu esforço para balbuciar aquelas palavras, esforçando-se para não gargalhar. Quando voltou a falar, seu tom não me agradou nem um pouco, cheio de segundas intenções.

– Vim falar com você, oras. O que mais eu estaria fazendo?

Respirei fundo, tentando recuperar minha autoridade, e de certa forma, consegui. Retribuí o sorrisinho medíocre com um cínico, ainda que com apenas metade da intensidade que gostaria de demonstrar.

– Eu não tenho nada pra te falar.

Sem hesitar, empurrei a porta, com toda a intenção de fechá-la sem a menor cerimônia, mas sua mão me impediu, forçando-a na direção contrária e vencendo sem muito sacrifício.

– Mas eu tenho – ele retrucou, agora me olhando de forma levemente ameaçadora– E acredite, você vai gostar de me ouvir.

– Nada do que você diga me interessa – rosnei, o pânico voltando a se instalar dentro de mim – Vá embora.

– O que é isso? – ouvi Mary perguntar, emergindo do corredor, e após um instante de silêncio, ela se aproximou – O que ele está fazendo aqui?

Niall soltou um risinho de escárnio, sem desviar os olhos dos meus em momento algum. Um calafrio percorreu minha espinha ao imaginar o que ele tinha em mente.

– Boa pergunta – respondi apenas, forçando minha voz a soar confiante, embora eu estivesse assustada e mal pudesse esconder isso.

– Eu não sei como você nos encontrou, mas seja lá o caminho que o trouxe até aqui,por favor, pegue-o novamente e vá embora – Mary disse, colocando-se entre nós e encarando-o firmemente por alguns segundos antes de recuar e fechar a porta sem mais delongas. Sua postura não o impediu de dizer uma última frase, ainda que contra a madeira que nos separava.

– Você vai se arrepender de não ter me escutado.

– Mas é claro que você não tem que escutar nada do que esse crápula tem pra te dizer!

Suspirei pesadamente ao ouvir o sermão enérgico de Mary, afundando meu rosto nas palmas de minhas mãos. O choque de reencontrar Niall após tudo o que havia acontecido entre nós havia me abalado consideravelmente; assim que nos vimos livres de sua presença, me arrastei até o sofá e não ousei me levantar, com os joelhos mais trêmulos que o recomendável para ficar de pé. Mary, em compensação, andava de um lado para o outro, gesticulando enquanto esbravejava ofensas ao visitante indesejado e especulava como ele havia descoberto seu endereço.

– Ele me seguiu até aqui – falei, dando de ombros e silenciando-a imediatamente com meu tom conclusivo – É a única possibilidade.

Mary ponderou minha teoria por um breve instante e assentiu, sentando-se ao meu lado.

Biology IIWhere stories live. Discover now