Capítulo 23

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A verdade doeu. O silêncio que a sucedeu doeu ainda mais.
Dias se passaram sem qualquer contato, dias que viraram semanas, duas semanas de ligações sussurradas com Elliot e mais nada. Fora isso, silêncio.
Meu pai não ousou pagar para ver se eu teria coragem de cumprir a ameaça que o fiz, e apareceu na casa dos Styles ao anoitecer daquele dia, para confirmar tudo o que eu dissera, com muita vergonha e arrependimento, de acordo com Elliot. Parte de mim, ainda que ín fima comparada ao resto ainda muito machucado por sua participação naquela trama, ficou aliviada ao saber disso; no fundo, eu sabia que queria perdoá-lo, agora que a poeira baixara e eu enxergava a situação com olho smais distanciados, com a mente menos atribulada pelo furor da descoberta.
Somente o tempo diria o que de fato aconteceria.
No momento, eu tinha outras preocupações mais urgentes com as quais lidar. Como, por exemplo, o fato de que Niall estava passando as tardes na mansão, junto ao filho, enquanto Harry ainda estava lá.

– Não posso dizer que o clima é leve – disse meu espião, numa de nossas conversas telefônicas às escondidas – Mas não aconteceu nenhuma tragédia até agora. Cada um fica no seu canto, sem sequer se verem. Mesmo assim, não é difícil perceber que Harry fica no limite de seu autocontrole só de saber que Niall está aqui.

Meu coração doeu ao imaginar o que ele estava enfrentando, a batalha interna que travava... Se o desejo de correr até ele e abrigá-lo em meu abraço apenas se intensificou, mas eu sufoquei o impulso com todas as minhas forças, mesmo que isso me causasse ainda mais sofrimento.

– Não deve ser fácil para ele assistir ao homem que tanto o prejudicou entrar pela porta da frente em sua própria casa, e ocupar o posto com o qual ele enfim começava a se acostumar.

– Realmente, não é uma cena nada bonita de se ver – Elliot concordou, penalizado –Pelo menos Ben tem se dado bem com o pai. Claro que ainda existe uma confusão a respeito dessa mudança brusca, mas ele está se adaptando bem, e Niall está bastante comprometido com a tarefa de deixá-lo o mais confortável possível durante essa transição.

– Fico feliz por isso, de coração... Por Ben, por Emily, por todos vocês. Mas por Niall... – falei, com um nó na garganta ao me recordar da forma como ele olhou para o filho no fatídico encontro há alguns dias – Depois de tudo o que me fez passar, e não falo só dos recentes acontecimentos, acho que levarei um bom tempo para aceitar que ele está feliz, que conseguiu o que tanto queria, apesar de seus métodos horríveis.

– Entendo perfeitamente... Você tem todo o direito de se sentir assim.
Alguns segundos de quietude reflexiva se seguiram, até que ele se pronunciou, como se soubesse exatamente a pergunta que eu queria fazer.

– Ele não está bravo com você.

Suspirei, apertando a réplica de tartaruga prateada pendendo de meu pescoço como um fanático religioso apertaria um pingente da cruz em seus momentos de aflição.

– Como pode ter tanta certeza?

– Primeiro, porque ele não é capaz de nutrir qualquer sentimento ruim por você. Segundo, porque ele não está bravo comigo.

– Não está? – questionei, positivamente surpresa, e Elliot confirmou – Ele disse alguma coisa? Conversou com você?

– Não exatamente. Ontem à noite, depois do jantar, eu o procurei. Disse que você merecia uma satisfação depois de tudo o que fez pela nossa família, fosse ela positiva ou negativa.

– Você disse isso? – indaguei, sem conseguir conter a angústia que crescia cadavez mais dentro de mim.

– Claro que sim, eu precisava dizer e ele precisava ouvir – Elliot confirmou com veemência – Conversamos por alguns minutos sobre você... Ele perguntou como foi sua conversa com seu pai. Eu falei a verdade, que você foi muito corajosa e que ele deveria se orgulhar... Nem todo mundo iria tão longe para descobrir uma verdade que mal lhe diz respeito.

Biology IIWhere stories live. Discover now