Abracei o travesseiro outra vez, escondendo meu rosto do olhar inquisitivo de Harry , que terminava de organizar algumas roupas e pertences na mala ao meu lado sobre a cama. Apesar de ter sucesso em minha missão, não foi suficiente para bloquear sua voz; como antídoto, inalei os traços de seu perfume que sobreviviam na fronha a que eu me agarrava feito uma bolinha (insegura) de gente.
– Anne, você não precisa ir se não quiser – ele suspirou, e eu me encolhi ainda mais ao ouvir a resignação em seu tom.
– Mas você quer que eu vá – resmunguei, ainda mergulhada no travesseiro, o que
fez com que minhas palavras saíssem abafadas – Não quer?Ouvi seus passos se afastando da cama e seguindo rumo ao banheiro, sem receber resposta. Alguns segundos de silêncio depois, ousei erguer um pouco a cabeça e inspecionar meus arredores, mas logo retomei minha posição defensiva quando notei seu retorno.
– É claro que eu quero. Eu sempre quero que você esteja comigo, e dessa vez não é diferente, ainda mais agora que...
Sua frase permaneceu incompleta por um momento, durante o qual deixei minha manha de lado e devolvi seu olhar distante com um preocupado, angustiado. Larguei o travesseiro, esticando os braços para segurar uma de suas mãos com as minhas.
– Vem cá – murmurei, puxando-o em minha direção e liberando espaço sobre o colchão para que ele se sentasse. Obviamente, assim que ele o fez, coloquei-me em seu colo, aninhando-o em meus braços com um beijo no pescoço.
– Tudo bem, está tudo bem – disse ele, baixinho, devolvendo o abraço com carinho.
– Não está tudo bem, Harry – refutei, encarando-o com seriedade – Sei que já faz um mês desde que tudo aconteceu, mas o impacto ainda é forte demais para enfrentar sozinho.– Mas é o aniversário de Ben – ele argumentou, dando de ombros – Não posso simplesmente ignorar isso, nem quero. Não vou me esconder.
– E nem deve – concordei prontamente – Também acho que você deve ir. Sei que Ben sentirá sua falta se você não aparecer.
Harry desviou o olhar do meu antes de falar, sabendo que eu reprovaria o que viria a seguir.
– Não tenho tanta certeza… Ele tem… Outra pessoa para cuidar dele agora.
– Harry Styles , não seja ridículo! – exclamei, e como prova de minha irritação, segurei seu rosto para que ele não pudesse evitar minhas pupilas transbordando determinação – Ainda que ele tivesse trezentas pessoas para tomar conta dele, isso não se compararia ao vínculo que vocês formaram durante o tempo em que conviveram. Ele vai ficar chateado se você não for, tenho certeza absoluta disso.
– E eu vou ficar chateado se você não for! – foi a réplica que recebi, acompanhada de uma expressão de cachorrinho sem dono com vestígios de desespero verdadeiro. Após respirar fundo, ciente de que ele tinha razão em resistir à minha ausência na casa de seus pais, ponderei sua chantagem emocional.
– Eu sei. Eu deveria ir. Niall estará lá, e por mais que eu não queira mais vê-lo nunca mais na vida, só de imaginar vocês dois no mesmo ambiente já me dá um aperto no peito.
– Eu não vou fazer nada de errado – Harry se prontificou a esclarecer, tirando as mãos de minhas costas por um instante para erguê-las em sinal de paz, assim como fez com suas sobrancelhas – Já ele...
Concordei com a cabeça enquanto massageava o lóbulo de sua orelha distraidamente.
– Como sempre, ele é o problema. Depois de tudo o que aconteceu, não podemos ser considerados culpados por não confiarmos nele.
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Biology II
Teen FictionTodos os problemas pareciam superados... Pelo menos os problemas que não existiam.