Capítulo 5

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– O quê?

De alguma forma, as palavras escaparam por minha boca, mesmo que eu duvidasse de que era capaz de falar.

– Ele sabe disso, Emily também, é claro, a família toda sabe – Elliot continuou,detendo-se aos fatos e ignorando minha pergunta – Ele não quis assumir o filho e manda algum dinheiro todo mês como pensão, mas nunca...

– Elliot, você está aí!

Eu teria pulado de susto se já não estivesse completamente paralisada ao ouvir a voz de Emily unindo-se a nós na sacada.

– É, eu... Eu vim fumar – ele mentiu, colocando a mão no bolso e tirando um cigarro dali no maior estilo blasé, como se eu mal estivesse ali. Excelentes atores, eles.

– Você pode fazer isso mais tarde, papai quer falar com você agora – ela disse,tirando o cigarro de sua mão e me lançando um sorriso rápido – Desculpe, se importa se eu roubá-lo um pouquinho?

Balancei a cabeça negativamente, forçando-me a reagir. Não adiantaria de nada ficar parada ali feito pedra e dar bandeira agora, por mais que eu não quisesse ter que encarar aquela situação.
Emily voltou para o interior da casa com o irmão em seu encalço, e ele me lançou um último olhar cheio de segredos antes de sumir de vista. Dei as costas para a porta da sacada, respirando fundo algumas vezes, o pânico de antes reinando novamente, agora muito mais forte e mesclado a outro sentimento que eu infelizmente conhecia bem.
Traição.
Ele sabe disso.
Ele nunca quis assumir o filho.
Fechei os olhos, minha mente rodopiando perigosamente e me forçando a apoiar as mãos sobre o parapeito.
Havia algum motivo para tudo aquilo. Ele não teria simplesmente ignorado um filho por nada, não era possível. Ele não teria abandonado a própria prima com uma criança que também era sua e se livrado de todas as responsabilidades com apenas uma pensão mensal sem uma boa razão.
Uma peça muito importante estava faltando. E só havia uma pessoa que poderia completar o quebra-cabeça.
   
– Até que enfim te achei.
                 
Meu corpo se retesou ao ouvir a voz de Harry, e logo em seguida seus braços envolvendo minha cintura. Tentei agir naturalmente.   

– Pois é, eu... Precisava de um pouco de ar fresco.

– Com toda aquela gente fumando em cima de você, imaginei que você escaparia mais cedo ou mais tarde – ele riu baixo, plantando um beijo na curva de meu pescoço – Mas está frio aqui fora e você está sem casaco.

– Eu estou bem – falei apenas, desviando o rosto do dele e implorando para que elenão percebesse minha mudança de humor.
Obviamente, não funcionou.

– Aconteceu alguma coisa?

Meu coração quase parou ao ouvir sua pergunta. Por onde começar?

– Não... Eu só estou um pouco zonza mesmo – respondi, sem coragem de dizer averdade e fingindo um sorriso – Minha cabeça está um pouco pesada.

Harry franziu a testa por um momento, desconfiado.

– Você está um pouco pálida... O que mais está sentindo? – ele murmurou, virando-me de frente para si e analisando meu rosto.

Havia tantas coisas que eu gostaria de responder! Mas eu ainda não estava pronta para aquele confronto. Minhas pernas tremiam e eu tinha medo de desmaiar a qualquer momento, subitamente sem chão. Como o homem que eu conhecia e o homem que abandonara seu filho com a própria prima podiam ser a mesma pessoa?

– Um pouco de fraqueza – falei, evitando contato visual – Eu acho que vou me deitar.

– Tem certeza? Não é melhor chamarmos um médico? Você estava bem há pouco tempo – ele disparou, impedindo que eu me movesse quando ameacei seguir para a sala de estar – Isso não é normal, Anne.

Biology IIWhere stories live. Discover now