Capítulo 19

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– Eu não sei se estou pronta para fazer isso...

Harry colocou uma mão sobre a minha, trêmula, fria, assim como o resto de meu corpo. Senti minha mãe passar um braço ao redor de meus ombros e beijar minha têmpora. Mary, sentada aos meus pés perto do sofá, pôs as mãos sobre meus joelhos e os apertou de leve, em mais um sinal de apoio.
Um envelope branco repousava em meu colo, ainda lacrado. Meu coração batia desesperadamente dentro do peito. O ar parecia relutante a adentrar meus pulmões, como se não quisesse fazer parte do potencial desastre irreparável que sucederia a leitura daquela carta.

– O que quer que esteja escrito nesse exame, nós estamos com você – Mary murmurou, partilhando do mesmo nervosismo que os outros presentes na sala de estar de minha casa.

– Você está segura, meu amor – mamãe disse, com a voz nitidamente embargada, eeu quase me rendi às lágrimas ao ver meu medo refletido em seus olhos – Aconteça o que acontecer, ele pagará pelo que fez.

Assenti devagar, baixando o olhar para o objeto de minha – nossa – angústia. Senti os dedos de Harry exercerem leve pressão ao redor dos meus; seu polegar deslizou sobre as costas de minha mão, transmitindo força e carinho em silêncio.
Sem me permitir titubear uma vez sequer, abri o envelope e li o resultado do exame de corpo de delito.
O nó que havia se formado em minha garganta se desfez ao ter minha dúvida sanada, liberando o caminho para que eu soltasse o ar que havia prendido inconscientemente em meus pulmões por sabe-se lá quanto tempo – talvez, desde que acordei numa cama que não era a minha, alguns dias atrás, e me dei conta de que ao invés de despertar de sonhos lindos, mergulhei de cabeça num pesadelo terrível.
Mesmo que fosse capaz de respirar normalmente outra vez, não consegui emitir qualquer som ou sinal que indicasse o que li no papel timbrado. Fechei os olhos, sentindo algumas lágrimas se formarem sob minhas pupilas, e desmoronei contra o ombro de Harry , que me abraçou apertado e mais que depressa tomou o documento de minhas mãos, para revelar o mistério que ainda assombrava todos à minha volta.
Um longo suspiro escapou de seu peito ao en   fim descobrir a verdade.
          
– Não foram encontradas evidências – ele murmurou, aliviado, beijando o topo de minha cabeça – Não aconteceu nada. 
      
Ouvi minha mãe e Mary celebrarem o resultado, lançando seus braços ao meu redor como podiam, num abraço grupal desconcertado do qual emergi rindo, com as mãos sobre o rosto, escondendo o choro tímido e exausto após dias de tensão e pavor.

– Nem acredito que... Que... – gaguejei, encarando o papel já esquecido sobre o sofá, no apertado espaço entre Harry e eu, e sem conseguir completar a frase, apenas balancei a cabeça e voltei a me esconder (dessa vez, no abraço de minha mãe, que chorava comigo, e distribuía beijinhos por onde pudesse).

– Amiga, você não imagina como é bom te ver assim outra vez! – Mary exclamou, pronta para me esmagar com seus braços assim que os de mamãe me libertaram – Sorrindo desse jeito, feliz de verdade. Dá licença que eu vou chorar também!

Às gargalhadas, retribuí seu abraço apertado, sentindo meu coração acelerado dentro do peito, porém agora de alegria e nada mais.

– Obrigada, gente, mesmo – funguei, enxugando o rosto e sentindo minhas bochechas quentes em meio à euforia pulsando em minhas veias – Obrigada por me apoiarem durante essa última semana... Não sei o que seria de mim sem vocês.

– Tá, tá, já entendemos, você nos ama – Harry riu, puxando-me para mais um abraço – Nós também te amamos, caso ainda não tenha ficado claro.

Todos rimos novamente, sem qualquer preocupação no mundo. Continuei sorrindo mesmo após nos levantarmos e seguirmos para a cozinha, e também durante todo o almoço em família (e agregados, embora eu os encaixasse na primeira classificação), sem precisar de outro motivo, incapaz de superar o alívio que aquele exame trouxera. Agora mais do que nunca, tudo o que eu queria era sorrir, ser feliz com as pessoas que amava e que me amavam de volta, e mais nada. Nem mesmo a lembrança de Niall, e de como ele esperava que eu o encontrasse no dia seguinte para enfim realizarmos o exame de DNA, ameaçava desfazer meu sorriso.
Elliot havia me ligado no dia anterior, dizendo que tinha uma amostra de DNA de Ben e Emily (após alguma pesquisa, descobrimos que era mais seguro coletar saliva do que cabelo, e ele o fez com o pequeno, que dormia feito pedra e não se recordaria do evento; descobrimos também que amostras maternas auxiliavam no resultado, mas com a mãe, o mesmo procedimento não foi possível, e nos conformamos com os fios de cabelo de seu pente) e o exame anterior, de anos atrás, em mãos. Ele me pareceu tenso, mas disse apenas que gostaria de me acompanhar no encontro com Niall; eu, mais do que contente com a ideia de não ficar sozinha com aquele crápula, concordei.

– Sabe de uma coisa? – Harry disse, ao enfim retornarmos ao sofá, dessa vez sozinhos, depois da breve, porém alegre refeição para se encaixar no horário de almoço de mamãe – A Mary tem razão.

– Como assim? – indaguei, deitada com a cabeça em seu colo. Seus olhos estavamperdidos em meio à mobília à nossa frente, e o fantasma de um sorriso moldava seus lábios.

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