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Esse capítulo contém datas diferentes. Atenção.

📌 13 de abril de 2023. São Paulo.

D É B O R A

Tá no trabalho?

O meu visor acende revelando o nome do zagueiro que tem tirado meu sono nesses últimos três dias.

Gustavo Gómez.

Oi, tô sim.

Finjo que tudo está ok. Quando na verdade desde que nos "encontramos" naquela premiação, tudo que fizemos vem sendo o único pensamento que paira pela minha cabeça.

Tá, fica atenta aí.

Respiro fundo olhando confusa para a tela do celular. O que ele quis dizer com fica atenta? Eu espero do fundo do meu coração que ele não apareça aqui. O medo já me domina.

Sempre soube que Gómez é capaz de tudo. E lá se vai meu dia tranquilo. Ou melhor, nada tranquilo. Quem eu quero enganar? Nada vem sendo tranquilo se quando eu me concentro só consigo lembrar dele me fodendo naquele camarim.

Com minha melhor câmera quebrada, hoje decidi ficar somente editando os trabalhos que preciso entregar na empresa. Gustavo disse que iria resolver o problema mas até agora não falou nada sobre buscar minha câmera em casa, ou algo do tipo. E bom, cada um sabe da sua responsabilidade.

A minha era carregar o peso na consciência de saber que cedi pra ele mais uma vez. 5 anos se passaram e eu não aprendi nada. É como se tudo que vivemos passasse diante dos meus olhos sempre que eu tento fecha-los para dormir.

📌 Dezembro de 2018. São Paulo.

— Jazmín me ligou de novo. A Pía chorou chamando papá. — o zagueiro senta apreensivo no meu sofá

— Eu fui aceita no curso de fotografia em Barcelona. — estendo a carta de admissão na mão dele.

Meu estômago está embrulhado. Sinto vontade de vomitar. Meus olhos devem estar cheios de lágrimas.

— Débora... Un sinal. Isso é un sinal. — o sotaque carregado me deixa estremecida.

Gustavo passa as mãos no cabelo e bufa baixo. Isso é um sinal que eu preferia ignorar. Que nós estamos ignorando.

— Acho que nossa viagem para Cancún no ano novo está cancelada. — sorrio nasalado.

Um dos nossos planos era esse. Conversas de travesseiro. Bobas e sem fundamento.

— Pía precisa de un papá. E sou eu. Eu sou o papá. Mas no estou lá. Preciso estar. — respira fundo ainda sem me olhar.

— Eu não sei se consigo outra chance dessas de estudar em Barcelona. E esse sempre foi meu sonho. — umedeço os lábios engolindo o choro. Ou tentando.

— Acho que chegou o momento. — me faz sentar no colo dele e segura minha mão.

Deixo o choro cair. Em algum universo eu pensei que nós dois fôssemos possíveis. E não, não éramos. Não naquele momento.

— Você precisa voltar pra sua família. Pía precisa de você. Vai, conversa com a Jazmín. Luta pelo seu casamento. — consigo falar entre intervalos de choro.

A minha vontade, na verdade, era de pedir "Fica, por favor, trás a Pía, a gente cuida dela. Eu só preciso que seja a gente". Mas não é assim que vida funciona.

Anyone • Gustavo Gómez [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora