Anyone • Gustavo Gómez [PAUSADA]

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📌 Manhã do dia 22 de maio de 2023. São Paulo.

G U S T A V O

5 dias sem acordar ao lado dela e contando. Burro. Idiota. Covarde. Todos os adjetivos ruins possíveis. Eu simplesmente deixei ela sair pela minha porta depois da pior cagada que poderia cometer. Logo para Jazmín. E agora Débora não quer me ver nem pintado de ouro, e com razão. Ela tem toda a razão de estar com raiva. Toda a razão de ter ido embora.

Mas eu tive medo! Medo de Jazmín não entender bem a situação, medo de ela afastar meus filhos de mim, principalmente Pía, que sofreu muito mais com o nosso divórcio. E se ela decidir levar meus filhos para o Paraguai? Sei que as chances de isso ocorrer são baixas, entramos em um acordo que a vida deles já está estabelecida aqui. Mesmo assim, não me senti seguro. E minha decisão gerou consequências.

Eu novamente quebrei minhas promessas. Novamente a machuquei. E dessa vez nem foi por querer. Pisei na bola por medo. Eu iria sim contar para Jazmín que estou com Débora, só que não assim. Ia sentar e conversar. Ia explicar o que aconteceu e como aconteceu. Ia fazer diferente de 2018. Eu estou disposto. Ainda acredito que podemos ficar juntos. Ainda acredito que posso fazer ela me perdoar mais uma vez. Só eu sei o quanto eu sofri quando ela foi embora a primeira vez. Eu tentei salvar meu casamento e foi minha pior escolha. Lucca foi a única coisa boa de tudo isso.

Não vou deixá-la ir tão fácil assim. Débora e eu temos uma história e eu quero valorizar isso. Quero mostrar que dessa vez vai ser sim diferente.

O percurso todo dentro do ônibus eu permaneço em silêncio. Apenas dou bom dia para todos ali, coloco meu fone de ouvido e sigo pensando em tudo que está acontecendo na minha vida. Penso em fazer o mesmo assim que pisamos no avião que nos levará para o Paraguai. Jogaremos contra o Cerro Porteño. Mais um jogo importante de Libertadores. Não posso deixar minha vida pessoal interferir no meu rendimento. Tudo isso que aconteceu entre eu e Débora não pode me tirar a concentração.

Me arrasto até um dos assentos vazios enquanto alguns dos meninos tagarelam sem parar. Percebo que um dos celulares está rondando por todos.

— Resenha do Gabigol? Tatiana tava nesse negócio aí. Será que ela sabe de algo? — franze o cenho.

Sabe de quê?

Respiro fundo ficando um tanto curioso.

— Tinha que ter o nome dele, não é? — Dudu é um dos maiores haters do camisa 10 do Flamego.

Não consigo entender nada. Pelo visto cheguei com o bonde andando. Nem sequer entendi o contexto da situação. Teve resenha na casa do Gabigol ontem. É a única coisa que entendi. E aconteceu algo.

— Porra, cara! Mas é só amiga dele, não é? — Luan também se pronuncia.

Continuo ali sentado com o fone no ouvido sem ouvir música nenhuma. Ainda finjo não prestar atenção na conversa.

— É. É o que sempre foi dito, né? Mas ela é gostosa, eu também disse. Não julgo o cara. — Endrick recebe olhares feios por parte dos mais velhos e levanta a mão em rendição.

Quem é gostosa e não julga quem? Eu já ouvi isso. Apesar de que eles agem assim a maior parte do tempo. E quem é só amiga? Eu acho que tô começando a entender de quem se trata.

Tiro os fones mas me mantenho sentado como quem não está prestando atenção.

— Essa Lets não perde uma. — Murilo aponta para o celular que agora está nas mãos de Ríos.