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📌 13 de abril de 2023. São Paulo.

D É B O R A

Ando de um lado para o outro da sala de casa. Já me olhei no espelho incontáveis vezes. Um vestido solto e casual. Não quero que ele pense que eu estou esperando algo. Porque não estou. Mesmo sabendo que nos conhecendo bem, sempre acontece. A gente sempre desliza, muito mais do que Yuri Alberto vem deslizando na Arena Remédio.

Não comprei nada. Sequer fiz comida. Aqui a gente decide se pede um japa, ou se fazemos o que sabemos de melhor e pulamos para a sobremesa.

Eu confesso que ver ele me traz a mesma sensação de aconchego de 5 anos atrás. A mágoa continua aqui dentro de mim. Mas ao mesmo tempo, reviver tudo de incrível que nos aconteceu em tão pouco tempo, me deixa em paz. Me faz sentir as mesmas borboletas no estômago de quando eu era somente uma menina.

Ninguém nunca fez eu me sentir assim. Mesmo namorando com Miguel por mais de três anos, o que eu senti por ele é completamente diferente do que um dia eu senti pelo Gustavo, antes da mágoa e da dor de partir. Miguel foi quem ajudou a me reerguer, foi quem fez Barcelona ser ainda mais incrível, mas sabíamos que nossa relação na verdade era muito mais amizade e cumplicidade do que propriamente amor.

Quando terminamos, por mais que tenha doído porque perdi um amigo, um confidente, alguém que esteve por mim quando eu cheguei em um país diferente, com uma cultura diferente, não se comparou a dor de ter "terminado" o que eu tinha com Gómez.

Miguel sabia de Gustavo, eu contei tudo, e ele sabia que no fundo eu nunca o esqueci. Ele ignorava todas as vezes que pela força do hábito eu o chamava pelo nome do zagueiro. Ele ignorava toda as vezes que eu acordava de madrugada em prantos por sonhar com Gómez. Ele ignorava todos os fatos que apontavam para o fato de que mesmo eu guardando minha dor numa caixinha, esse sentimento sempre transbordava.

Mas com o passar dos tempos isso foi cessando. E vivemos uma relação feliz, uma relação que também me completou. Que também me deu vida. Que me deu uma amizade incrível, e mesmo eu tentando fingir que era amor, não foi. E se foi, foi algo completamente diferente do que sentia pelo jogador do Palmeiras.

Eu não sei como Gustavo se sentiu. Não sei se ele foi feliz com a Jazmín, provavelmente sim, afinal, eles tiveram outro filho. Confesso que mesmo lutando para não acompanhar, vez em quando eu dava uma olhada. Mesmo não querendo e não tendo contato algum, eu não conseguia evitar olhar como ele estava. E cada foto com a família, eu me contentava que nossa decisão foi correta.

Até eu chegar no Brasil e saber que eles estavam se separando. Confesso que isso massageou meu ego, por pior que isso possa parecer. Me deixou com a sensação de que não foi só eu quem falhou no amor.

Pensava muito em como Gómez se sentiu, porque quando eu terminei com Miguel, eu senti sim falta, falta da companhia dele, e depois de algum tempinho que a raiva passou, tudo ficou bem, mesmo não sendo a amizade de quando nos conhecemos, mantemos o mínimo de contato. Afinal, moramos juntos por mais de um ano, na pandemia éramos só nós dois. Criamos um vínculo bom.

Pensei em como foi com a Jazmín. Ele se sentiu mal em terminar com ela de novo? Ele chorou como fez quando "terminou" comigo? Esses tipos de dúvida vez ou outra pairavam sobre minha cabeça.

Só consigo parar de pensar quando a campainha toca. Eu ainda não tinha parado de andar de um lado para outro.

Porra, ele chegou.

E o pior, que ideia ruim de nos encontrarmos em meu apartamento. O mesmo apartamento que vivemos muitas coisas, não tantas igual no antigo apartamento dele que provavelmente ele deve ter vendido quando voltou para a casa com a esposa.

Anyone • Gustavo Gómez [PAUSADA]Where stories live. Discover now