CAPÍTULO 50

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Sentada ao meu lado no banco do passageiro, Alison está em silêncio, com a cabeça encostada no vidro da janela fechada do carro enquanto assiste apaticamente as casas, lojas e restaurantes do lado de fora da rua passando diante de seus olhos

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Sentada ao meu lado no banco do passageiro, Alison está em silêncio, com a cabeça encostada no vidro da janela fechada do carro enquanto assiste apaticamente as casas, lojas e restaurantes do lado de fora da rua passando diante de seus olhos. Quando entreguei a Charles as chaves do carro dela e seus cartões de crédito, ele pareceu completamente confuso. Não que eu o culpasse. Eu provavelmente também exibia a mesma expressão de incompreensão no rosto. O que devia ter sido uma simples conversa tinha assumido uma proporção gigantesca em um período de tempo muito curto para que pudéssemos assimilar.

— Eu não sei direito o que aconteceu. A sua mãe chamou Alison para conversar em particular e minutos depois ela saiu de lá transtornada, desesperada para ir embora. Quando perguntei o que houve, Alison disse que a mãe de vocês tinha expulsado ela de casa e pedido para que ela devolvesse a chave do carro e todos os cartões de crédito que ela tinha — falei, passando a mão pelo rosto, com um suspiro pesado. — Eu vou te dizer, Charles. Não faço a  menor ideia do que as duas conversaram, mas porra nenhuma justifica uma coisa dessas. Eu estou me segurando muito para não entrar na merda do escritório da sua mãe e perguntar se ela enlouqueceu.

— Essa parte você deixa comigo — ele disse, com o semblante mudando de confusão para uma seriedade sombria. Eu conhecia aquele olhar. Era o instinto que todo irmão mais velho sentia em partir em defesa do mais novo quando ele precisava de ajuda. — A minha mãe é... Ela tem problemas. Não estou falando quanto a personalidade, porque está óbvio que ela é uma pessoa muito difícil de se lidar. Ela foi diagnosticada com transtorno bipolar há uns três anos atrás. Meu pai me contou em segredo, porque a mamãe não queria que minha irmã e eu soubéssemos. Ela já sofria dessa condição quando éramos crianças, mas não sabia. Assim que ela descobriu, começou a se tratar. Estava melhor com a medicação, apesar de ainda ter alguns episódios  depressivos ocasionais. Alison nunca percebeu porque nossos pais se mantinham longe de casa, principalmente durante esses períodos, sempre sob a desculpa de estarem viajando a trabalho.

— Puta merda, Charles — eu xinguei, pego completamente desprevenido com aquela confissão. — Eu não sei nem o que te dizer. Guardar um segredo desses por tanto tempo deve ter sido horrível, ainda mais da sua irmã. É tão errado que o seu pai tenha te pedido para suportar uma situação dessas. Não deveria ser sua obrigação lidar com tudo sozinho e fingir que não sabia de nada. Meu Deus, isso tudo é uma merda.

— Eu estou acostumado a assumir esse tipo de responsabilidade. Minha mãe me treinou muito bem para suportar com cara de paisagem qualquer desconforto ou situação desagradável, por pior que fosse — ele tentou sorrir, como se estivesse falando do clima e não da criação traumática que teve com a bipolaridade da mãe. — Já tenho notado as manias dela se apresentando de modo mais incisivo nos últimos dias, mas esse surto com a Alison só confirma as minhas suspeitas de que ou ela parou com o tratamento, ou os remédios não estão mais fazendo o efeito devido. Mas isso não vai ficar assim, isso eu te garanto. Uma situação como essa é insustentável. No mais, eu só peço que cuide da minha irmã enquanto eu não resolvo as coisas. Ela sempre se esforçou muito para obter a aprovação da mamãe. Essa expulsão repentina deve estar sendo difícil de suportar.

Suspiros de uma garota nem um pouco interessada em vocêWhere stories live. Discover now