O mal vence

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O resto do dia se transformou em um nevoeiro de emoções, tão denso que ela passou toda a semana seguinte ainda tentando processá-las, e mesmo assim nada parecia fazer sentido.

Ela tinha permanecido na sacada por pelo menos uma hora antes de finalmente desistir.

Parte dela tinha ficado orgulhosa do que fizera. Ela tinha falado coisas que vinha sentindo há meses, coisas que ficavam entaladas em sua garganta, que ela se forçava a engolir mesmo que lhe deixasse um gosto amargo na boca. Mas, como ela deveria ter esperado, elas nunca tinham ido realmente embora – e regurgitaram do pior jeito possível.

Fred também lhe falara coisas horríveis. As palavras dele ainda a cortavam, e ela não conseguia se imaginar algum dia as esquecendo. Ele confirmara alguns de seus piores medos, suas maiores inseguranças, e dissera em um tom casual assustador, como se pensasse tudo aquilo há tempos.

Mas, mesmo assim, ela permanecera na sacada, pois acreditava que ele iria voltar. Eles dois tinham se exaltado, se deixado levar pelo calor do momento, mas ainda se amavam. Ainda iriam ficar bem. Tinham que ficar bem.

Mas ele não voltou, e o vento congelante parecia cortá-la em mil pedaços, matando-a aos pouquinhos, cada rajada dizendo: ele não vai voltar, aceite logo. Acabou.

Somente quando ela estava novamente nos dormitórios, demorando uma eternidade debaixo da água escaldante que queimava os seus ombros, que ela se permitiu refletir no que tinha acontecido.

Eles tinham acabado.

Eles não estavam mais namorando.

Fred não era mais seu namorado.

Ela estava solteira. Eles nunca mais iam se falar. Eles iriam se evitar nos corredores. Eles evitariam olhar nos olhos um do outro, mas, se acontecesse, iriam desviar imediatamente. Ela também não falaria mais nem com Jorge ou Lino. Ele não falaria mais com Claire. Eles sentariam de costas no Salão Principal, tentando ignorar a existência do outro. Eles nunca mais segurariam as mãos um do outro, nunca mais se abraçariam, nunca mais se beijariam. Eles não iriam mais passear em Hogsmeade juntos, ele não iria acompanhá-la na loja do tio. Eles não escreveriam mais cartas. Fingiriam que aqueles últimos dois anos nunca tinham acontecido. E, em alguns poucos meses, Fred iria se formar, e nunca voltaria para Hogwarts, e teria sido como se ele nunca tivesse estado ali.

Como tudo isso tinha acontecido em apenas uma hora? Como eles podiam estar perfeitamente bem em um segundo, e no outro tinham acabado com tudo? Tinha Fred escolhido aquela sacada para a conversa de propósito? Tinha ele decidido que terminaria o relacionamento deles no exato lugar onde ele havia começado? No lugar onde ele havia se declarado pela primeira vez?

Apenas uma semana atrás, ele tinha dito que a amava mais do que era capaz de dizer. Ele tinha prometido o resto da vida deles juntos, tinha lhe prometido todos os seus anos. Teria ele mudado de ideia tão rápido? Ou será que ele nunca acreditou naquilo de verdade?

As dúvidas martelavam a cabeça de Olívia a um ponto infernal. Ela finalmente desligou o chuveiro, colocando já as roupas para dormir, e entrou no quarto, torcendo para que ele estivesse vazio.

No entanto, Laura estava em sua cama, com uma pilha de livros aberta em sua frente.

Elas apenas trocaram um olhar rápido, e Olívia sentiu o olhar inquisitivo de Laura fixo nela enquanto ela se deitava. Sabia que devia estar com os olhos vermelhos e o rosto inchado, mas imaginou que elas não tinham mais a intimidade necessária para que Laura questionasse qualquer coisa.

"Laura?" ela chamou. "Você tem, hum, uma poção para dormir?"

Ela encarava os próprios pés quando fez a pergunta, rezando para que os últimos seis anos de amizade lhe inspirassem empatia o suficiente para aquele favor. As duas mal tinham trocado uma palavra nas últimas semanas, se resignando a falar somente quando necessário, e sempre num tom educado e frio.

Nossas Escolhas | Fred Weasley (Livro 2)Where stories live. Discover now