Próxima Jogada

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— [Nome] porque você está de óculos escuros — Nico perguntou balançando minha mão enquanto andávamos em direção à quadra que tinha no bairro. — Ainda é de manhã.

Fideo deu risada e bateu a bola de basquete que ele tinha em mãos no chão, recebendo um empurrão meu em seguida. Depois do convite, demorou algum tempo para eu parar de chorar, nem mesmo quando todos já haviam dormido consegui segurar as lágrimas que vinham sem aviso.

Ainda que estivesse sentindo o tecido da camisa e a textura do número gravado nas costas, me sentia presa dentro de um sonho. Como se a qualquer momento pudesse ser arrancado da minha mão novamente.

— Está bem claro Nico, só estou com os olhos um pouco sensíveis — e inchados como nunca. Coloquei a mão em sua cabeça num carinho esperando o sinal abrir para atravessar a rua.

Fabrício e o filho intrometido, que chamo de irmão, voltariam para Miyagi no fim do dia. E claro que antes de partir o loiro não ia perder a chance de jogar basquete com Nico, ainda tinha uma esperança falha de dobrar o mais novo para outro esporte.

Por ser bem de manhã poucas pessoas estavam na praça onde tinha a quadra, o caminho de corrida também. Tirei o agasalho e deixei junto com o pertence dos garotos, ficando apenas de regata. Joguei os braços para cima me alongando, em seguida as pernas, ia aproveitar para gastar a animação acumulada.

Ajeitei o laço no cabelo e deixei os dois para trás com um aviso para Fideo tomar cuidado, Nico mal chegava em sua cintura.

No percurso comecei com um ritmo leve, meus tênis eram próprios para impacto então também ajudaram a suavizar o exercício sobre o meu joelho. Todo cuidado agora é pouco.

Quando meu pai retornou com Fabrício a noite, descobri que ele já estava a par do convite. Afinal sendo meu fisioterapeuta sabia da minha condição melhor que ninguém, não faria sentido receber a camisa da seleção sem poder de fato jogar.

Foi um dos motivos dele mudar meu treino e colocar um pouco mais de carga, pulos em cama elástica ou fortalecimento. Do momento em que Dominic D'Calligari descobriu a intenção do time, ele começou a incluir manobras para preparar meu corpo para a carga. É um fato que não vou conseguir recuperar em pouco tempo a condição física, mas não me importo em não jogar todos os sets.

Apenas um, como a antiga Rainha de Copas, é o suficiente para fechar essa ferida na alma.

No meio do verão japonês podia sentir a temperatura subindo com o sol, não cheguei a ver quanto tempo corri. Porém, suor escorria pela minha nuca, foi quando resolvi parar e não abusar do meu joelho.

Me aproximei de um bloco de concreto com algumas torneiras, muita parecida com os que tinha no colégio, tirei os óculos e lavei o rosto com água fria. Passando a mão gelada pela nuca suspirando pelo alívio algumas gotas escorreram para dentro da regata, porém não me importei. Sem uma toalha por perto peguei a barra do tecido e levantei até o rosto para o secar.

— Sei que os costumes são diferentes, mas não saia mostrando seu abdome no parque desse jeito.

Levantei a cabeça devagar, só havia uma pessoa para falar algo com esse tom.

— Estou sem uma toalha — respondi Kuroo e olhei ao redor —, não é como se estivesse fazendo um show.

Um riso escapou da sua boca, parece que ele teve uma ideia parecida. Pois assim como eu também estava com vestes esportivas e alguns fios de cabelo escuros estavam grudados em seu rosto. A camisa branca também suada grudava em parte de seu tronco evidenciando os músculos definidos pelos anos de treino.

Constantly Flowing - (Kuroo x Leitora)Where stories live. Discover now