Eu esfregava as mãos no vestido, como forma de disfarçar o meu desconcerto. Estava totalmente desconcertada com o quê vi e com toda a sequência de coisas que aconteceram aqui.
O padre também estava sem graça e evitava me olhar. Não sei por quanto tempo ele estava ali, mas não parecia ter chegado no momento que o vi. Na hora que nossos olhos se cruzarem, senti minhas pernas tremerem e por isso me desequilibrei da cadeira.
- o senhor disse que queria conversar comigo... - eu queria ser breve nessa conversa.
- sim... Não é nem exatamente uma conversa, mas um pedido. - ele não me olhava.
- pode dizer...
- precisa se cuidar. Seu ex noivo esteve ameaçando padre João e ele não me parece ser um homem nada confiável.
Levei as mãos a boca e aquela informação me deixou assustada.
- precisa manter a distância daquele homem e entender que ele não tem boas intenções com você.
- não queria vê-lo e agora menos ainda. - disse de forma firme.
- já está tarde. Deveria retornar para casa e aproveitar a luz do dia. Aí fora vem uma chuva forte. - ouvimos o barulho de um trovão.
- eu vou fechar tudo aqui e vou.
- eu fecho procê... Pode ir. - o padre disse de forma contida e eu não pensei nem duas vezes, peguei minha bolsa e fiz saída dali.
- até amanhã. - disse da porta.
- até... - ele respondeu me olhando e eu desviei seu olhar do meu.
Meu coração assim que sai do salão paroquial batia forte e ritmado. Minhas pernas queriam ser mais velozes mas não eram.
Eu tinha duas vontades, uma era de literalmente correr e a outra era o seu inverso. Um trovão me obrigou a ser mais rápida e finalmente cheguei em casa antes da chuva começar.
- menina... Está tão afetada por quê? - mainha me perguntou me olhando.
- medo dos trovões. Mainha vai chover muito.
- sim... Vai. Deus nos ajude.
- Deus nos ajude...
- Juliette, o Antônio esteve aqui. Pobre rapaz... Muito arrependido. - mainha disse com voz de pena.
- pobre não... E arrependido coisa nenhuma. Não dê ouvidos para aquele estúpido. Não quero ver ele nunca mais.
- minha filha... Você ia casar com esse rapaz e agora simplesmente quer fingir que ele não existe. Cadê os seus sentimentos?
- não quero saber daquele falso. E as coisas que eu ganhei para esse casamento vou devolver tudo. Não quero nada que me remeta a esse erro.
- por Deus Juliette.
Mainha fazia gosto que me casasse com Antônio, talvez ela fosse a única pessoa no mundo que quisesse essa união, mas para mim pouco importava, não o queria mais perto de mim.
...
Salão paroquial.
- o senhor ainda está aqui? Vem uma baita chuva aí. E cadê a Juliette? - me perguntou um simpático Emílio.
- ela já foi. Estou terminando de fechar tudo aqui para ir embora. Emílio, gosta de verdade dela?
- dela? Quem? - ele me olhou confuso.
- da professora Juliette...
- gosto muito... Muito mesmo. - ele disse com um largo sorriso.
- vou tentar te ajudar com isso... - disse o olhando.
- como?
- assim que eu voltar de viagem, vou te ajudar nessa empreitada. Te dou a minha palavra.
- não acho que tenho muitas chances padre... - ele disse um pouco desanimado.
- tenha fé homem... Não pode desistir sem tentar.
- obrigado senhor padre. - ele sorriu satisfeito e eu sorri fraco.
...