Enquanto isso no quarto de Juliette e Rodolffo...
- Juliette... - mainha bateu e colocou a cabeça na porta do quarto.
- entre mainha. Estou aqui arrumando umas coisas nesse baú. Umas cobertas.
- cadê Rodolffo?
- acho que está pelo armazém ou realizando qualquer outra função junto dos funcionários e do tio. Chegue, senta aqui. A senhora tá melhor?
Mainha não parecia estar tão bem, mas sentou-se na minha cama.
- Juliette eu sei que não fui uma boa mãe para ti.
- mainha, a senhora fez o quê pôde e tá tudo bem.
- não fiz tudo que pude... Fiz o quê deu pra fazer. Te criar sozinha foi um desafio que eu tive medo de não dá conta. Como tu sabe meus pais partiram muito cedo e eu fiquei com meus irmãos mais velhos. Quando me envolvi com seu pai foi tudo muito rápido, logo me vi grávida e não tive escolhas, mas ficar viúva foi algo que não foi fácil. Eu esperava ter um marido e acreditava que uma mulher sozinha é mal vista e não é respeitada.
- mainha... Por que está me dizendo isso?
- escute. - ela deu um suspiro. - Eu tive que aprender a ser mãe ainda muito jovem e imatura, e a verdade é que eu não soube ser uma boa mãe. Eu te mantive em uma redoma... Te criei para o estudo e para a igreja e também para ser esposa do Antônio.
- mainha... - ela levantou a mão em sinal de que eu ficasse calada.
- eu achava que o Antônio seria um bom homem pra ti e ele tinha status, saúde boa e com certeza não ficaria viúva como eu. Dediquei toda a minha juventude a sua criação e não fui capaz de impedir o quê te aconteceu. Te coloquei tão dentro da igreja que foi se apaixonar por um padre.
Mainha começou a enxugar as lágrimas do rosto e eu já estava detestando o rumo dessa conversa.
- nos apaixonamos mesmo lutando contra isso. Deus viu que eu pedi para que Rodolffo se afastasse e a verdade é que ele se afastou, nos evitamos por um mês até que ele foi atrás de mim e se declarou. Eu sei que a senhora acha que nós fomos dois sem vergonha e que eu deveria estar virgem até hoje a espera do casamento, mas não estou e espero um bebê... - eu fiz uma pausa. - E esse bebê é muito amado e eu sei que Deus planejou quando proporcionou o nosso encontro. Eu só queria que as pessoas compreendessem que de algo improvável ou até mesmo impossível surgiu um grande amor e também uma família...
- não estou te julgando. - ela me interrompeu. - Sei que pode parecer julgamento, mas não é... Vejo que meu genro lhe quer bem e lhe tem carinho e nós precisamos de alguém para amar, isso é bom.
- eu sinto muito que a senhora não tenha vivido isso mainha... Sinto por meu pai não ter sido o amor de sua vida e por tudo que não foi bom ao lado dele.
- ele me deu você e eu tive tanta sorte de ter tido uma criança tão boa, alegre, dedicada e cheia de Deus como você. Juliette tu é uma filha especial e uma benção para qualquer mãe.
- e eu te amo muito mainha. - tomei a iniciativa de lhe dá um abraço e quando nos desgrudamos ela continuou.
- também te amo minha menina e eu preciso lhe contar uma coisa, mas me prometa que não vai se abalar tanto.
- que coisa? Está pior mainha?
- tenho certeza que não estou doente do estômago... Não da forma que eu achava que estava.
- e acha que é o quê?
- eu não sei se te falei, mas a minha mãe me teve aos 44 anos...
- sim, a senhora já me falou isso e que ela morreu a senhora ainda tinha 14 anos, mas o quê tem haver uma coisa com a outra?
- eu tenho 41 anos ainda Juliette...
- sim mainha, eu sei.
- não me permiti viver romances enquanto tu estava comigo e cuidava de você. Mas isso nunca foi um desejo também. Mas agora as coisas mudaram.
Eu nem consegui falar.
- como sabe quem me resgatou das ruas foi o Ernesto e ele se mostrou um bom homem comigo. Muito respeitoso, temos uma história de vida parecida. No início eu fui bem resistente, mas depois eu permiti sua aproximação e nós nos envolvemos. Da forma que os bebês são feitos.
- mainha... - eu não tinha nem o quê dizer.
- ele não sabe ainda, por que eu precisava te contar primeiro, mas acredito que estou gestante de um filho do Ernesto. E eu sei que vai me julgar e julgar a nós dois por que é uma pouca vergonha e tudo bem, mas isso pra mim é o de menos, perto da angústia de ter que enfrentar tudo de novo e sozinha mais uma vez.
- mainha... - eu segurei suas mãos. - Por que um homem tão bom te deixaria sozinha? Não consigo ver o Ernesto fazendo isso. Ela é um homem que sofreu, mas ele ainda foi tão generoso e tem feito tanto por nós todos. Não sofra antes do tempo e se ele não quiser criar o meu irmãozinho, tenho certeza que dessa vez não estará sozinha.
Nós nos olhamos com afeto, mas fomos interrompidas por Rodolffo que entrou subitamente no quarto e tinha o rosto molhado por lágrimas e um papel na mão.
- o quê foi meu amor? - eu te perguntei saindo de perto de mainha.
...