Capítulo 54

126 33 21
                                    

Mal dormi a noite e Juliette também não dormiu. Eu sentia que era necessário ir, mas alguma coisa me tocava para que eu ficasse, pelo menos até ela se acostumar mais com meus pais. Porém, era inevitável a minha viagem e quanto antes eu tomasse a decisão, melhor seria.

- posso viajar tranquilo? - perguntei a encarando.

- não sou sua filha, então não me trate como tal... Sou apenas mais nova que você, mas não sou estúpida. Não vou me aventurar por lugares desconhecidos ou fazer coisas perigosas. Eu prometo.

- pois bem... eu vou em paz. - disse ficando de pé e logo pegando minha bolsa, já vendo Juliette fazer um olhar triste. - Não faça assim. - eu a olhei.

- quer que eu fique feliz longe de você? Eu não vou ficar... Não me peça para sorrir.

- não vou pedir... Mas não serão muitos dias, eu prometo. Aproveite para descansar e ficar bem.

- aqui não tem mesmo nada pra fazer. Na cozinha não deixam eu fritar um ovo. Na casa, nem esse quarto posso limpar. O jeito é ficar aqui, sem nada pra fazer.

- leia um livro... Temos uma biblioteca aqui.

- eu sei.

- pode também pedir a minha mãe para te ensinar a bordar.

- ela tá bordando as coisas do bebê da sua irmã... Não tem tempo para me ensinar e não quero incomodar.

- não vai incomodar. Minha mãe te adora.

- vou ver com ela... Prometo.

- agora vou seguir viagem.

Demos um abraço e ela me deu um beijo delicado.

- que Deus te proteja e te abençoe amor. Estarei aqui te esperando.

- obrigado princesa.

Saímos os dois de mãos dadas e eu me despedi do pai e da mãe.

- dirija com cuidado meu filho. - minha mãe disse ao me abraçar.

- que Deus te guie Rodolffo e que não se demore tanto. - falou meu pai.

- até breve. - disse acenando e entrando no carro.

Quando o barulho do motor ecoou eu entendia muito o porquê um padre não deve ter família e uma esposa. Era muito difícil deixar quem se ama, era doloroso e triste, mas era necessário.

Se já era difícil sair e deixar a Juliette agora, imagina no dia que ela estiver grávida ou que tenhamos um filho? É impossível ficar longe. Pelo menos para mim é assim.

...

Vi ele sair de perto de mim e senti o coração apertar um pouco.

- calma filha... Ele sabe dirigir bem e conhece as estradas daqui a Goiânia. - disse Juarez do meu lado.

- mais ainda é muito perigoso. - Vera alertou.

- não aterrorize ela Vera. Pare com isso. - ele a repreendeu e vi minha sogra ficar com um olhar triste.

Não respondi a nenhum deles sobre aquilo.

- estou indo para o quarto. Hoje está fazendo muito frio. - disse me abraçando ao próprio corpo.

Segui para o quarto e me deitei na cama, me cobrindo com os lençóis. Eu estava triste e também sozinha.

Meu coração tinha saudades de mainha e agora também de Rodolffo. Meu corpo estava um pouco quente, uma temperatura mais alta que o habitual e eu sentia que estava um pouco inchada. A cólica não estava presente por hora, mas ela viria e pelas emoções vividas talvez eu sentisse muito esse mês.

Em outros tempos eu não me dava ao luxo de ficar quietinha, mas agora eu não tenho mais trabalho e posso ficar deitada durante esses dias.

...

Horas mais tarde.

- Vera, cadê Juliette? - perguntei sentindo falta da minha nora no almoço.

- ela está deitada. Disse que está indisposta.

- e não levou nada para ela comer?

- ela não quer Juarez. - ela disse fazendo pouco caso.

- não ofereceu de certo.

- é mesmo necessário que se adule ela? É uma criança? Rodolffo só vive a mimá-la. Agora até você?

- não é mimá-la... Ela não comeu nada hoje.

- não comeu porque não quis. Eu chamei no café e no almoço. Mas ela tá com frio.

- não está adoentada?

- não sei. Acho que não.

- nem se dá ao trabalho de ir lá se certificar que a menina esteja bem. E olha que prometeu ao Rodolffo cuidar dela.

- Juarez ninguém me mimou quando casei contigo. Muito pelo contrário.

Vera nunca tirava essas palavras da boca quando queria me atingir.

Cansei de tentar convencê-la e fui eu mesmo ver a Juliette.

...

Amor no improvável Onde histórias criam vida. Descubra agora