Capítulo 98

111 27 14
                                    

Eu dirigi com máximo cuidado até a fazenda do meu pai que não era muito distante da nossa casa.

Olhava para a estrada, mas também olhava para Juliette e era notável que ela já sentia dores do parto.

- não sei se vai dá para chegar em Goiânia. - ela disse com os olhos cheios de lágrimas.

Eu senti tanta raiva de mim mesmo. Era por minha culpa que a população da cidade não a aceitava, por eu ser padre e a ter levado comigo sem casar que ela era falada por toda a sociedade de gente mesquinha e sem Deus no coração.

- Vamos dá um jeito, eu prometo. Não sofra por isso.

Eu tinha que acalmá-la. Não era possível que negassem um atendimento a minha esposa grávida. Isso seria o auge da desumanidade.

Cheguei na fazenda e pedi que ela ficasse no carro. Entrei em casa correndo e encontrei meus pais almoçando.

- bença pai... bença mãe. - entrei falando.

- que Deus te abençoe meu filho. Vamos almoçar?

- Deus te dê saúde filho... cadê a Juliette. - perguntou minha mãe.

- minha esposa está no carro. Mãe, ela estourou a bolsa e está com dores de parto.

- ôh meu filho... graças a Deus. Vou com vocês até a cidade. - minha mãe disse saindo da mesa imediatamente.

- vai avisar a Fátima?

- não... Juliette não quer preocupá-la, afinal ela também espera um filho. Meu pai... - eu desabafei. - tenho medo que não recebam a Juliette. Tenho medo que a saúde negligencie o parto dela.

- não vão... tenha calma. Eu vou com vocês. Sou um homem influente e ainda mais agora... as pessoas tem medo de mim por que eu matei um homem e duvido que não atendam a Juliette. Vamos... temos que ser rápidos.

Chegamos no carro e Juliette tinha um sorriso fraco. Minha mãe lhe perguntou algumas coisas de mulheres e depois a tranquilizou.

- calma minha querida. Vai dá tudo certo. Estarei contigo.

Minha mãe acompanharia o parto enquanto eu me contentaria com informações e veria o bebê apenas depois de nascido.

Juliette não contestou aquilo, mas eu queria estar lá com ela. Era eu quem deveria o rostinho do meu bebê junto da mãe dele, mas eu tinha que me conformar.

Segui para Uruaçu e a primeira pessoa que desceu do carro foi minha mãe. Eu pedi que ela fosse até a recepção da maternidade e dissesse a situação.

Por Deus não negaram assistência a Juliette e fomos recebidos ali. Houveram muitos olhares curiosos, mas não tanto julgadores. Inclusive uma senhora de idade se aproximou de nós e disse:

- que venha com muita saúde e que Deus dê uma boa hora a ela.

- obrigado. - eu disse em seguida.

Vi Juliette se distanciar de mim e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Sua mão ficou junta a minha até que a enfermeira puxou seu braço.

- por que eu não posso entrar pai?

- por que não é ambiente para o pai... a Vera está com ela... tenha paciência.

Em mim haviam muitos sentimentos, um misto de ansiedade, preocupação.

- acha que ela vai sofrer muito? - perguntei a meu pai.

- sim... desde que o mundo é mundo as mulheres sofrem Rodolffo. É o natural.

- não quero mais filhos. Não suporto viver essa agonia de novo. - eu estava sentindo até uma pressão no peito.

- homem de Deus tenha paciência. Vai dá tudo certo.

Meu pai tentava me tranquilizar, mas nada me deixava mais calmo. Eu tentava ouvir pelas paredes, mas não ouvia nada, isso me deixava ainda mais aflito.

...

Amor no improvável Where stories live. Discover now