Manhã do dia seguinte...
Uruaçu, Goiás.
Eu estava sentado embaixo da grande árvore que tínhamos na frente de casa, ali tínhamos dois balanços e eu ocupava um, enquanto tomava uma xícara de café.
- acordou tão cedo... Por que meu filho? - chegou ao meu lado minha mãe.
- sua benção mamãe...
- Deus te abençoe. O quê foi? Está triste?
- estou. - eu estava me sentindo uma pessoa horrível. - mamãe eu preciso conversar sobre isso.
- o quê se passa Rodolffo?
- estou fraquejando. Eu sei que estou...
- como? Você não é de fraquejar.
- conheci uma menina e não tiro ela da cabeça.
Os olhos da minha mãe se abriram e ela me repreendeu em seguida.
- uma menina?
- muito mais jovem que eu... Ela só tem 19 anos.
- é o demônio. Rodolffo o diabo está tentando você. Meu filho reze e repreenda.
- acha mesmo que não fiz isso? É o quê mais tenho feito nos últimos dias.
- está fraco. Precisa intensificar. Nunca vacilou na sua caminhada e não será agora que fará. Não largará a sua batina e nem a igreja por causa de uma meretriz.
- mamãe... Não fale assim dela, ela não merece esse julgo. Ela não tem ideia do que sinto e nem tem culpa.
- ela seduziu você... Como não tem culpa?
- ela não me seduziu de nenhuma forma possível... No fundo ela nem sabe fazer isso.
- e como está dessa forma por ela? Não faz sentido.
- é... não faz sentido... Só aconteceu.
- vai esquecer dela... Não ser correspondido é ainda melhor... Dou graças a Deus por isso. É uma fase... Vai passar e nunca conte isso a seu pai, pelo o amor de Deus.
- não vou contar.
...
No estábulo dos animais, do outro lado da fazenda.
- quero que cuide de tudo por aqui Joaquim. Eu precisarei me ausentar uns dias.
- onde o senhor irá seu Juarez?
- vou ao nordeste. Meu filho vai assumir uma nova igreja e eu quero estar ao lado dele.
- que dia partem?
- acredito que amanhã... Vou checar a informação com ele. Mas confio em ti para deixar tudo em ordem, certo?
- certo. O padre já sabe que o senhor vai junto?
- não... Mas eu vou. Comigo do lado, ele estará bem melhor.
Eu precisava chegar perto de minhas suspeitas. Mesmo que fosse inadequado, eu faria o quê tivesse ao meu alcance para que Rodolffo voltasse a vida e deixasse a igreja.
...
Piancó, Paraíba.
- estou atrasada mainha... Vou perder a hora. - disse dando um beijo na minha mãe e saindo rumo a escola.
O caminho não era tão longo e eu logo cheguei.
- bom dia meus pequenos e pequenas.
Eu era sempre recebida com muitos abraços e beijos, minha turma tinha muitas crianças carinhosas.
- tia para você. - todas as manhãs eu ganhava inúmeras maçãs.
- obrigada princesa.
Hoje teríamos aula de conhecimento de algumas consoantes e de soma.
- quanto é dois mais dois? - eu mostrava os dedos recordando a tarefa já passada e uma pequena foi a primeira a responder.
- é três tia...
- por que três querida? - me baixei para ficar da sua altura e ouvir sua explicação.
- por que é três tia.
- não é três não tia... É quatro. - outra criança explicou.
A pequena que havia errado começou a chorar.
- calma querida. Não fique assim... Todo mundo erra, tá bem? - lhe dei um abraço e um beijo no topo da cabeça.
Ser professora era muito mais que ensinar uma cartilha ou uma tabuada. Era lidar com todas as emoções dos alunos nos mais variados momentos, mas mesmo perante as dificuldades eu amava essa profissão.
...