Capítulo 18

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Foi a viagem mais longa que já fiz na minha vida e naqueles dias eu tenho certeza que cumpri as minhas penitências.

- estamos chegando papai. - anunciei e ele se animou.

- graças a Deus... Estou bastante ansioso para por os pés nessa terra.

Era engraçado essa animação toda, mas ao mesmo tempo era preocupante. Foram dias tentando descobrir o porque dele ter vindo e ele não deixava escapar nada.

- bem-vindo a Piancó seu Juarez.

A cidade estava enfeitada e parecia muito alegre. Pessoas estavam no meio da rua e tudo era festejo.

Íamos passando do lado da igreja e o primeiro que avistei foi o Emílio saindo com algum coisa da igreja. Depois surgiu o padre João.

- esse é pároco que vai sair pai. É o padre João.

- então vamos descer aqui... Eu quero cumprimentá-lo.

Meu pai não era o tipo mais paciente. O combinado não era descer ali mas ele queria por que queria falar com o padre.

Descemos e a sorte que tinhamos pouca bagagem.

- olha lá... Padre Rodolffo. - anunciou padre João ao me ver.

Acenei enquanto subia as escadas.

- voltei e trouxe meu pai para conhecer o nordeste comigo. Esse é o padre João pai e esse é o meu pai Juarez.

Eles trocaram um aperto de mão e eu comecei a ouvir um canto que vinha de dentro da igreja.

- quem canta essa música padre?

- ah são as meninas da banda... Juliette está ajustando os equipamentos... Não tem uma bonita voz?

Não esperava encontrá-la tão logo e muito menos que ela cantasse.

- ela vai cantar na missa? - perguntei com a voz fraca.

- vai e não só ela, mas ela é uma cantora muito boa. Quer olhar o ensaio?

- não... Estou cansado. Vou para casa.

- que para casa o quê... Vamos olhar sim. - respondeu seu Juarez.

Meu metido pai foi literalmente invadindo a igreja. Padre João foi atrás e eu entrei por último, a vendo cantar uma bela música.


Sua voz era melodiosa e tão bonita quanto ela.

Era tão instantâneo tudo que sentia ao vê-la que eu nem sabia explicar, só sentia.

Ela estava de costas e não me via, seus cabelos estavam totalmente soltos e podia ver que estavam úmidos. Ela usava um vestido azul, esse era um pouco mais justo e eu tentei desviar o olhar para não olhar para suas curvas, mas era inútil, em segundos eu já estava a olhando de novo.

...

"Meu amor é como este vinho, que era fruto

Que alguém plantou, depois colheu
E depois encheu-se de carinho
E deu mais vida, e saciou o povo meu
Eu te ofereço vinho e pão

Eu te ofereço meu amor... "

Cantava animada essa parte da música "Minha vida tem sentido" quando me virei para olhar quem nos ouvia.

Eu sabia que ele chegaria hoje e aquilo já inquietava o meu coração, mas ao vê-lo ali de pé e me olhando meu coração ficou pequenino no peito.

Nossos olhares se cruzaram como um ímã e por mais que meu racional gritasse, meu coração tolo não ouvia.

Sua beleza estava desnorteante. Ele usava uma clássica camisa preta e no colarinho tinha o colar clerical. Aquilo me trazia de novo a realidade e eu entendia que cada um de nós tinha o seu lugar. Cada um tinha a sua vida e não valia a pena sonhar.

Sai do meus pensamentos quando Camila colou no meu ouvido.

- Ju do céu... Mentirosa.

- hein?! - olhei para a minha amiga.

- ele é um gato. Que pecado. Disfarça... Ele tá vindo aí. - ela disse num cochicho.

Ele veio até o local que estávamos e parou diante de nós.

- parabéns... Vocês estão muito bem.

Só acenei com a cabeça e não o olhei.

- Juliette... Você canta muito e tem um tom incrível. Essa música combinou com sua voz.

- obrigada padre. - disse sem o encarar.

Com ele assim tão perto, eu sentia tanta vergonha que tinha vontade de chorar.

...

- quem é a moça? - perguntei ao padre João.

- qual delas?

- a cantora...

- Juliette... Ela é também professora de alfabetização e é uma moça muito virtuosa e de Deus.

- solteira?

- sim... Ainda é uma jovem solteira.

Bingo. Era ela. Olhei cada movimento e cada detalhe de Rodolffo enquanto ela cantava. Vi sua relutância em não olhá-la, mas vi que isso foi mais forte que ele. Também observei com atenção a moça e ela repetiu o mesmo padrão, só que expressou um pouco mais de tristeza.

Era uma moça bonita, virtuosa e talentosa, mas de fato era bem jovem, porém não menos mulher. Se seu rosto tinha a beleza de um anjo, seu corpo despertava os desejos de um homem e o meu filho era um homem... Essa moça o ajudaria nesse reencontro consigo mesmo.

Sorri satisfeito ao ver a timidez de um com o outro.

...

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