Quando vi meu genro chegar para conversar com Juliette, eu fui saindo de fininho de dentro do quarto. Encontrei Juarez no caminho e me alegrei que ele tenha voltado pra casa.
Fiz saída da casa e fui caminhar pelo campo. Eu me sentia sem um rumo e era ciente que minha filha e seu marido não tem nenhuma obrigação de me sustentar e tão pouco a esse bebê que eu espero.
Me escorei junto de uma grande árvore, de copa volumosa, e fiquei ali por minutos completamente sozinha. Eu estava feliz no íntimo por que era o meu segundo filho e mesmo com a idade um pouco avançada, eu queria poder viver o tempo suficiente de criar mais uma criança.
Eu olhava para o horizonte e querendo ou não, existia em mim o temor pelo amanhã. O quê seria de mim agora?
- Fátima... - ergui minha vista e vi Ernesto junto a mim.
- oi Ernesto.
- posso sentar aqui?
- pode.
Ele sentou do meu lado e ficamos em silêncio por um tempo, até que ele tomou a iniciativa de falar.
- eu te esperei ontem e não foi... - sua voz parecia um pouco triste. - o quê houve?
- dormi cedo e não consegui ir.
- e hoje? Pode ir me ver hoje?
- Ernesto eu acho que estamos fazendo uma loucura.
- mas não é bom pra você? Por que pra mim é bom.
- nunca me comportei assim...
- e isso importa? Pra mim não... Fátima eu quero saber se tem vontade de ficar comigo?
- mas... - eu tentei falar.
- ficar no sentido total da palavra. Eu sei que teme a reação de Juliette, mas podemos explicar. Dizer que aconteceu. Somos viúvos e livres, podemos aproveitar os anos de vida que nos restam juntos. Você e eu... Podemos viajar e curtir a vida, aproveitar o aconchego dos braços um do outro. Estamos cansados da solidão. Você perdeu seu marido muito jovem, criou sua filha sozinha, mas hoje ela é mulher feita, não precisa mais de ti... Eu perdi a minha esposa e o meu filho no parto, não tenho ninguém e acho isso tão ruim.
Eu não respondi de imediato, mas tive que respirar fundo para lhe revelar o quê se passava.
- eu estou grávida Ernesto. Esperando um filho seu.
Ele me olhou assustado e abanou a cabeça.
- grávida? - ele perguntou com um jeito incrédulo.
- sim. Eu acredito que estou com um mês e alguns dias, mas eu sei que é gravidez. Não sou novata nisso. E mais uma vez eu sinto a história se repetir na minha vida.
- Fátima eu achei que uma mulher na sua idade... Não teria perigo. Não está enganada?
- não acho que é engano...
Ernesto passou a mão nos cabelos e depois segurou a minha mão.
- me responde se quer estar comigo... Se quer criar essa criança junto a mim...
- me responde uma coisa: e se um dia descobrir que só sente por mim pena?
- pena? Eu senti pena de você quando te vi nas ruas. Mas depois eu senti muita raiva e depois muita atração. E agora...
- agora?
- eu sinto que quero viver o resto da vida com você e ser pai de verdade dessa criança que espera. Quero essa família que Deus está me dando mais uma vez...
- eu também quero. Quero muito.
Ernesto me abraçou e depois demos um beijo carinhoso.
...