Capítulo 6

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 Primeira conversa com Bernardo

O relógio na parede marca quase onze horas. Deixo minha xícara em cima da mesinha de centro e recosto-me no sofá, ouvindo mais uma das histórias de Lilly.

- Estou sentindo falta de alguém – ela diz e olha para os lados – ah, mocinho! – Lilly chama a atenção de Bernardo, que estava quase dormindo. "Ele é tão quieto que esqueci que estava aqui".

- Me desculpe – Bernardo responde – estou cansado. Só isso.

- Quer subir um pouco para dormir? – Rupert pergunta.

- Aham – ele acena afirmativamente, nos pede licença e retira-se para seu quarto.

Observo-o se levantar. Seus movimentos meio duros, mecânicos, como se ele estivesse se contendo. Volto meus olhos para as xícaras sob a mesa. "Meu pescoço dói", penso enquanto volto minha atenção para os anfitriões.

- A viagem foi bem longa, né? – Sr. Oliver diz, sorrindo levemente.

Aceno positivamente com a cabeça, sentindo meu rosto queimar um pouco por ele ter dito isso tão de repente. "Talvez eu esteja com cara de cansada".

- Já vamos te apresentar seu quarto – Jaqueline diz, colocando o pires na mesa – meninas, vocês não querem mostrar para Carolina seu quarto?

As gêmeas se levantam animadas.

- Tá bom, mamãe! – elas respondem e vem para perto de mim.

- Vamos sair às três e quarenta e cinco para te mostrarmos a cidade, ok? – Rupert me informa.

Levanto-me do sofá, me despeço das pessoas da sala com um sorriso e um leve aceno de cabeça, e Bonnie e Riley me levam pela mão pela minha nova casa.

Saímos da sala, atravessamos o hall de entrada, subimos as escadas cobertas de carpete cinza escuro. No segundo andar, elas me guiam pelo corredor, ao lado direito.

- Esse aqui – a de cabelo solto aponta para a porta de madeira à nosso frente – é o seu quarto. Papai, Riley e eu ajeitamos ele – ela diz orgulhosa, colocando as mãos na cintura. Vejo em seus olhos que elas querem que eu abra logo a porta – aquele no fundo é o nosso – ela indica – e aquele é do Bernardo – Bonnie aponta para a porta que está perpendicular à minha.

- Ok!

Ela vira para o outro lado do corredor.

- Aquele no fundo é o da mamãe e do papai. E aquele outro é o banheiro – a menina indica a porta ao lado.

- Entendi! Obrigada – sorrio e ponho a mão na maçaneta – agora verei o quarto que vocês montaram! – falo de um jeito brincalhão. "Estou começando a me derreter por elas" – vamos de contagem regressiva?

- Yeah! – as gêmeas concordam, seus rostos mostram felicidade e um pouco de ansiedade.

- 5... 4... – começamos juntas – 3... 2... 1!

Abro a porta e adentramos num quarto cor de palha, com móveis marrom-claros. Escrivaninha, uma janela encoberta por cortinas brancas, criado-mudo e uma cama. Minhas malas estão aos pés do armário. Inspiro o cheiro agradável de amaciante.

- Tá tão lindo! – vou até a escrivaninha, onde um porta lápis de metal preto e uma luminária estão.

Volto minha atenção para elas, que estão com um ar orgulhoso.

Clarice, que não é, LispectorWhere stories live. Discover now