Desço a rua Galvão Bueno no finalzinho da tarde. A luz alaranjada do pôr-do-sol pinta a fachada e as vitrines das lojas de um jeito caloroso. Poucos carros percorrem esse trajeto no sábado, pois uma boa parte do bairro é ocupada por pedestres e barraquinhas de comida e artesanato.
O vento fresco bate suavemente em meu rosto. Tão leve que parece uma cortina da mais fina e delicada seda. Inspiro fundo. Cheiro de fritura, poluição e liberdade. "Se eu pudesse, moraria nesse bairro".
Passo rapidamente em frente à vitrine de uma loja e reparo no meu reflexo. Ponho uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e dou um leve sorriso. Atrás do vidro, percebo que aqui vende as balinhas que Olívia gosta.
Adentro na loja e olho um antigo relógio que está atrás do caixa. "Tenho 10 minutinhos, dá e sobra". O senhor, que acredito ser o dono da loja, está colocando alguns pacotes de mochi na prateleira. Ele olha para mim e acena levemente com a cabeça. Faço o mesmo movimento, sorrindo um pouco.
Vou para o corredor ao lado, onde estão os mais diversos tipos de doce. Em potinhos de plástico estão as balas, cada uma com uma embalagem bonitinha e bem colorida.
"Vejamos... Olívia gosta dos "coelhinhos de lichia", "gatos de melão" e "cãezinhos tangerina". Pego um pouco de cada. Ah, é! "O Wii também vai tá lá!". Então, pego "coalas de morango", mais alguns "cãezinhos tangerina" e outras de "tanuki sakura". Vou até o caixa, pago e saio de lá.
Na esquina à frente, as últimas pessoas saem do Distopia 9 ¾. A cafeteria de paredes de tijolos marrons e janelas com símbolos e frases icônicas de "Larry Potter", "Jogos Famintos", "Game of Houses" e "Divergência".
Olho o lugar através da porta de vidro. Alguns funcionários terminam de limpar as mesas e varrer o piso de madeira escuro. Fico na ponta dos pés, para ver se encontro Olívia atrás de um dos balcões. A vejo de costas, com os cabelos trançados no estilo "Katerina Evergreen" e um boné preto, limpando a máquina de expresso.
Entro na cafeteria. O cheiro de café e de pães doces preenche o ar. "Tão quentinho e aconchegante". Fecho a porta com cuidado e observo um pouco o lugar. Paredes de tijolos avermelhados e quadros com os símbolos de cada saga. Mesas de madeira, uma longa no meio do salão e outras menores ao redor. As cadeiras são de madeira, estofadas com remendos de tecidos usados. Em sua maioria, vermelho, laranja e castanho escuro.
"Não importa quantas vezes eu venha para cá, sempre me parece a primeira vez".
- Posso te ajudar? – um rapaz de cabelos castanhos aparece na minha frente, sorrindo de um jeito simpático.
- Eu vim pro evento de hoje à noite – respondo timidamente.
- Lice! – Olívia sai de trás do balcão e vem me cumprimentar com um abraço – Ela tá comigo, Jorge!
- Ok. Sinta-se em casa! – Jorge me diz e vai organizar as prateleiras de livros no fundo do estabelecimento.
- Senta aí – Olívia indica a mesa mais próxima – só vou terminar de ajeitar as xícaras. Daí fico com você.
Ela ajeita seu avental marrom com o logo da cafeteria e volta para seu posto de trabalho.
- Peraí!
Me levanto, vou em sua direção e ajeito os bottons de Larry Potter e Game of Houses na sua camisa polo preta.
- Prontinho!
- Valeu – Olívia sorri em agradecimento.
- O Wii tá na cozinha?
- Aham. Daqui a pouco ele vem pra cá.
- Ok!
Ajeito-me na cadeira e fico observando as coisas ao redor. O tilintar de talheres e pratos diminui consideravelmente depois de uns 5 minutos. Outros poucos convidados vão chegando e sentando-se nas mesas. O Sol se põe completamente lá fora e as luzes aqui de dentro tornam-se mais brilhantes.
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Clarice, que não é, Lispector
RomanceClarice é uma universitária de personalidade excêntrica (palavra essa que, segundo ela, lembra russos com bigodes ao estilo Salvador Dalí). Sua vida deixa de ser comum quando conhece Arthur, um colega de classe que é idêntico a Bernardo, o personage...