Capítulo 10

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Desço a rua Galvão Bueno no finalzinho da tarde. A luz alaranjada do pôr-do-sol pinta a fachada e as vitrines das lojas de um jeito caloroso. Poucos carros percorrem esse trajeto no sábado, pois uma boa parte do bairro é ocupada por pedestres e barraquinhas de comida e artesanato.

O vento fresco bate suavemente em meu rosto. Tão leve que parece uma cortina da mais fina e delicada seda. Inspiro fundo. Cheiro de fritura, poluição e liberdade. "Se eu pudesse, moraria nesse bairro".

Passo rapidamente em frente à vitrine de uma loja e reparo no meu reflexo. Ponho uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e dou um leve sorriso. Atrás do vidro, percebo que aqui vende as balinhas que Olívia gosta.

Adentro na loja e olho um antigo relógio que está atrás do caixa. "Tenho 10 minutinhos, dá e sobra". O senhor, que acredito ser o dono da loja, está colocando alguns pacotes de mochi na prateleira. Ele olha para mim e acena levemente com a cabeça. Faço o mesmo movimento, sorrindo um pouco.

Vou para o corredor ao lado, onde estão os mais diversos tipos de doce. Em potinhos de plástico estão as balas, cada uma com uma embalagem bonitinha e bem colorida.

"Vejamos... Olívia gosta dos "coelhinhos de lichia", "gatos de melão" e "cãezinhos tangerina". Pego um pouco de cada. Ah, é! "O Wii também vai tá lá!". Então, pego "coalas de morango", mais alguns "cãezinhos tangerina" e outras de "tanuki sakura". Vou até o caixa, pago e saio de lá.

Na esquina à frente, as últimas pessoas saem do Distopia 9 ¾. A cafeteria de paredes de tijolos marrons e janelas com símbolos e frases icônicas de "Larry Potter", "Jogos Famintos", "Game of Houses" e "Divergência".

Olho o lugar através da porta de vidro. Alguns funcionários terminam de limpar as mesas e varrer o piso de madeira escuro. Fico na ponta dos pés, para ver se encontro Olívia atrás de um dos balcões. A vejo de costas, com os cabelos trançados no estilo "Katerina Evergreen" e um boné preto, limpando a máquina de expresso.

Entro na cafeteria. O cheiro de café e de pães doces preenche o ar. "Tão quentinho e aconchegante". Fecho a porta com cuidado e observo um pouco o lugar. Paredes de tijolos avermelhados e quadros com os símbolos de cada saga. Mesas de madeira, uma longa no meio do salão e outras menores ao redor. As cadeiras são de madeira, estofadas com remendos de tecidos usados. Em sua maioria, vermelho, laranja e castanho escuro.

"Não importa quantas vezes eu venha para cá, sempre me parece a primeira vez".

- Posso te ajudar? – um rapaz de cabelos castanhos aparece na minha frente, sorrindo de um jeito simpático.

- Eu vim pro evento de hoje à noite – respondo timidamente.

- Lice! – Olívia sai de trás do balcão e vem me cumprimentar com um abraço – Ela tá comigo, Jorge!

- Ok. Sinta-se em casa! – Jorge me diz e vai organizar as prateleiras de livros no fundo do estabelecimento.

- Senta aí – Olívia indica a mesa mais próxima – só vou terminar de ajeitar as xícaras. Daí fico com você.

Ela ajeita seu avental marrom com o logo da cafeteria e volta para seu posto de trabalho.

- Peraí!

Me levanto, vou em sua direção e ajeito os bottons de Larry Potter e Game of Houses na sua camisa polo preta.

- Prontinho!

- Valeu – Olívia sorri em agradecimento.

- O Wii tá na cozinha?

- Aham. Daqui a pouco ele vem pra cá.

- Ok!

Ajeito-me na cadeira e fico observando as coisas ao redor. O tilintar de talheres e pratos diminui consideravelmente depois de uns 5 minutos. Outros poucos convidados vão chegando e sentando-se nas mesas. O Sol se põe completamente lá fora e as luzes aqui de dentro tornam-se mais brilhantes.

Clarice, que não é, LispectorWhere stories live. Discover now