Capítulo 15

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Esfrego meu rosto nas mãos. Não consigo me concentrar na explicação de Carmem ou no texto que Camila me pediu para revisar ou em qualquer coisa.

Minha cabeça inclina-se levemente para o lado, enquanto vejo Carmem anotar na lousa branca: "Aliteração: Ondas da praia; ondas do mar". A professora tampa a caneta e a coloca no apoio do quadro, junto ao apagador. Meus olhos voltam-se para a folha de caderno que Camila me entregou, a caneta vermelha em minha mão frouxa. Me sinto apática, uma sensação semelhante ao cansaço que vem após uma crise de ansiedade muito forte.

Não que isso tenha acontecido.

Está tudo bem.

Eu só tenho imaginação demais.

Me levanto e saio da sala. Atravesso o corredor branco e silencioso, indo em direção ao banheiro. Ao chegar, jogo água gelada em meu rosto, evitando olhar para o reflexo no espelho a minha frente. "Pelo menos o sono se foi".

Volto para a sala e me sento em minha carteira. Pouso minhas mãos sobre a mesa, sentindo a ponta de meus dedos gelada. Não me mexo pelos próximos dez minutos, até a hora do intervalo, que Camila passa por mim para sair da sala, abre a boca para me perguntar se eu já acabei de ver o texto dela.

- Até o final da aula eu te entrego – digo, fingindo que estou lendo a folha que ela me entregou.

Assim que a garota sai da sala, Olívia diz:

- Você tá com uma cara...

- Eu sei – respondo, sem olhar para ela – tô meio sei lá.

Suspiro.

- Sonhei que algumas pessoas estavam com raiva de mim – me viro para Olivia, omitindo a parte de que "algumas pessoas" são só duas pessoas que existem na minha cabeça.

- Hm... O que mais aconteceu?

- Sonhei que eu fui visitar essas pessoas, cheguei lá e uma delas bateu a porta na minha cara e me mandou ir embora. Daí a outra, que também morava nessa casa, abriu a porta e ficou me encarando como se estivesse com medo.

- Hm... Você já pesquisou o que é? Ou tem uma ideia do que possa ser? Tipo, viu isso em algum filme ou algo assim?

Faço que não com a cabeça.

- Acho que tô pensando demais. Acordei no meio da noite e não consegui dormir mais depois.

- Talvez você esteja se cobrando demais, por isso deve ter sonhado com essa raiva.

- Pode ser... Vida de universitário é complicada.

- Nem me fala... – Olívia parece se lembrar de algo – mudando de assunto – ela dá um sorrisinho travesso – tá sabendo que o Wii e o Fran estão no mesmo setor agora?

- Sério? – pergunto curiosa, parte do meu desânimo some.

- O Wii agora tá na parte de confeitaria junto do Fran integralmente. Parece que a Dandara gostou dos cupcakes de brigadeiro que ele trouxe umas semanas atrás e perguntou se ele queria mudar pra confeitaria e ele aceitou. Agora os dois estão lá.

- E o bonito não me falou nada! – digo em um tom em parte reprobatório e em parte brincando – mas e aí? O que você tá achando disso?

- Shippo.

Shippo super!

Rimos um pouco.

- Vou mandar mensagem pra ele agora. Onde já se viu não contar pra mim.

Pego o celular, entro no YouApp e mando mensagem para Wii.

"Consagrado, parabéns por ter ido pra confeitaria \o/

Clarice, que não é, LispectorWhere stories live. Discover now