Capítulo 8

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Um Pequeno favor

Acordo e vejo que são 8:00 da manhã, tiro os fones de ouvido. Essa foi a única vez que esqueci de tira-los antes de dormir. Levanto e vou escovar os dentes. Visto uma calça jeans, uma blusa preta e um par de tênis. Começo a pentear os cabelos, penso em amarra-los, mas os deixo soltos.

Saio do quarto e desço as escadas, parece que ninguém acordou ainda. Ouço um barulho vindo da cozinha e vou até lá. Bernardo e Jaqueline estão preparando o café.

"Como tá de dia, eu faria o mesmo. Lina, se, por um acaso, você ouvir um barulho na madrugada, por volta das três da manhã, você sai correndo dessa casa. Não vai até onde está ouvindo o barulho, pega a primeira pessoa que estiver acordada e CORRE".

-Bom dia- digo. Eles olham pra mim, ainda estão de pijamas.

"Hm...".

- Bom dia- responderam Jaqueline e Bernardo.

- Precisam de ajuda? - Pergunto.

-Não, nós já estamos terminando, mas obrigada, Carolina- responde Jaqueline colocando as xícaras na mesa.

-Pode me chamar de Lina, se quiser-sugiro.

- Ok, Lina- diz Bernardo preparando as torradas- Vamos sair depois do almoço, ok?

"Que vontade de comer torrada com mel...".

- Ok... obrigada- respondo. Ele dá um leve sorriso e ergue um pouco as sombrancelhas.

"Pera aí! Pera aí! É 'So-bran-ce-lhas'! Sobrancelhas! Que erro horrível foi esse?!".

Olho novamente para a porta do consultório da psicóloga e depois para o horário no celular. "Dá tempo".

- Lembra do que eu te disse ontem? Não precisa me agradecer o tempo todo.

- Desculpa- lembro do que ele me disse ontem, não sei mais o quê dizer.

"Um 'ok' é o suficiente".

Cinco minutos mais tarde, Rupert, Riley e Bonnie chegam, nos dão "Bom dia" e começamos a tomar café. Rupert avisa que vai ficar uma semana em uma cidade ao norte do país para terminar seu projeto. Ele termina de tomar café, se despede de nós e vai embora.

Depois do café ajudo Jaqueline com o almoço. Bonnie, Riley e Bernardo foram se trocar.

Quando terminamos de arrumar tudo, ficamos conversando até o almoço ficar pronto.

Terminamos o almoço, eu e Bernardo avisamos que vamos sair. Jaqueline pede que cheguemos antes das 5:15. Nos despedimos dela e saímos.

Bernardo diz que a escola é menos de 30 minutos a pé. Enquanto andamos, o silêncio permanece. Fico observando tudo: as árvores, as casas e os jardins. Passamos pela rua que vi em meu sonho, ao final dela tem um parque. Peço a Bernardo que na volta vamos passar por lá.

Andamos mais um pouco e chegamos na escola, ficamos olhando pelo portão. A escola é enorme, linda, cheia de janelas e um pátio gramado. Esse lugar é incrível.

"Bucólico".

Bernardo parece pensativo, tento puxar assunto:

-Há quanto tempo você estuda aqui?

- Há uns 3 anos-ele responde.

- Legal- não sei mais o que dizer.

- É. ... mais ou menos.

- Por quê? - pergunto.

- Não gosto muito de estudar- voltamos a andar e vamos para o parque.

"'Não gosto de estudar'. Ah, querido! Só você, eu e o pessoal do Corinthienzo!".

Me ajeito no poltrona e descruzo as pernas. Paro um pouco a leitura e inspiro fundo. "Hm... Esse capítulo tá meio fraco". Bem, continuemos...

Andamos pelo parque, vamos para perto do lago e nos sentamos lá.

Ficaria lindo se tivesse descrito o lago. Talvez eu colocasse algo como "O céu refletia nas águas da lagoa, parecendo um enorme espelho que levemente oscilava. Patos e cisnes flutuavam em sua superfície, provocando leves ondulações. O leito lamacento abrigava algumas plantas semelhantes à capim". Oh! Ficaria bom!

Fico imaginando os dois adolescentes na margem, olhando para toda aquela água... talvez não seja muito fundo, caso alguém caia lá. "Será que alguém já caiu no lago do Ibirapuera?".

Possivelmente alguém bêbado ou que foi tentar tirar foto e acabou se desequilibrando e caindo. Será que acontece com frequência?

Escuto vozes se aproximando da porta. "Foca aí!".

Passamos a tarde conversando para nos conhecermos melhor. Ele é engraçado.

"Sobre o que eles conversaram? Será que eu pensei nisso quando eu escrevi?".

Então faço perguntas sobre a escola. Ele me passa todos os horarios das aulas e diz que provavelmente vamos ter algumas aulas juntos. E voltamos a conversar sobre outras coisas. Trocamos telefone, ele me passa os telefones de Rupert e Jaqueline caso aconteça alguma coisa.

São 5:00, então vamos embora do parque. Continuamos conversando o caminho todo. Vamos ser bons amigos. Quando chegamos perto de casa, ele para de andar , olha em meus olhos e fala:

-Posso te pedir uma coisa?

Por quê ele ficou um poucos tímido?

"Drama. Tan tan tan taaaaaaan".

-Pode -respondo. O quê ele vai pedir? Começo a ficar ansiosa.

"Essa parte tá estranha. E devia ter colocado aspas".

- É que ...- ele olha para baixo e depois volta a olhar para mim- Lembra que eu disse que não gosto de estudar. ... Então. .. você se importa em me ajudar em algumas matérias? Meus pais disseram que você tira notas altas e...

"Ô bebê, o Doogle tá aqui pra quê?". Ah, é! Lá não tem. Ou tem...?

- Claro que eu te ajudo- respondo e sorrio- você pode sempre contar comigo.

- Obrigado- ele diz e voltamos a andar.

Estou muito feliz em poder ajuda-lo. Chegamos em casa. Jaqueline está preparando o jantar. Bonnie e Riley estão a ajudando.

-Chegamos- diz Bernardo.

-Gostou do passeio? - Bonnie pergunta.

- Muito- respondo- vocês precisam de ajuda?

- Não precisa, já estamos terminando- diz Jaqueline sorrindo. Ela parece estar feliz.

Jantamos e depois ficamos brincando com Bonnie e Riley.

Já são 21:30, as meninas já foram dormir. 15 minutos depois vou também, dou "Boa noite" a todos. Subo as escadas e vou para o quarto.

Tomo banho, ponho o pijama e escovo os dentes. Depois, arrumo a mala e o uniforme. Não consigo dormir.Pego o celular e mando uma mensagem para Bernardo:

Obrigada ! :)

"'Obrigada'? De novo? Filha, tu já agradeceu uma vez não precisa de mais". Lendo assim, fico incomodada. Porém sei que eu faria isso. Na verdade, eu FAÇO isso.

A maçaneta começa a girar lentamente. Volto minha atenção para as últimas linhas.

Ele deve me achar estranha, cinco minutos depois ele responde:

Eu que agradeço :3

Ponho o celular no criado-mudo. Fico olhando para o teto, sorrindo feito boba. Depois de um tempo, durmo.

"Hm... Não tá bom. Mas vamos seguir o baile".

Clarice, que não é, LispectorWhere stories live. Discover now