Capítulo 7

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Sexta-feira,

Hora do lanchinho.

Quando eu era mais nova, a hora do lanche era a hora de sair correndo da sala de aula. Porém, os universitários chegaram à belíssima conclusão de que: a hora do lanche é hora de dormir, ficar na sala de aula, ouvindo música.

Lá fora está um belo dia (Não tão lindo, no meu conceito). Quente, ensolarado e céu azul. Estou na sala de aula, com o ar-condicionado ligado. A luz do sol invade o recinto, atravessando as longas cortinas cinzas.

Eu poderia estar lá fora. Até porque não consigo dormir, não quero ouvir música e só quero voltar pra casa pra ler os contos de Nile Gaiman. Me estico sobre a mesa e bocejo preguiçosamente. Olho para um lado, depois para o outro. "Meu Nile Gaiman...".

Olívia saiu para pegar um livro na biblioteca. Poderia ter ido junto, gosto de lá. Mas atravessar o campus num dia muito quente é algo muito pesado para a minha pessoa. E... também tem gente! "Os seres humanos que estão na sala contigo não são gente, então?".

Apoio o queixo nas mãos e olho para os grupinhos formados. Atrás de mim, Georgia está lendo "Lola e o Vizinho". Sinto vontade de conversar um pouco, mas atrapalhar a leitura de alguém é quase um crime. Bocejo de novo e deito minha cabeça na mesa. "Você poderia continuar lendo a sua história, não é?". Ahn... Que preguiça.

A porta se abre e levanto o rosto, com a esperança de que seja Olívia. Arthur entra, parecendo que acabou de cair da cama. Seus cabelos cacheados estão meio bagunçados e seu olhar, cansado.

- Bom dia, jovem – eu o cumprimento.

- Bom dia – ele responde – tudo bem?

- Aham. E com você?

- Com sono, mas tô bem.

Ajeito minha postura e dou um leve sorriso. Arthur olha para mim e depois para as carteiras ao meu lado. "Será que ele quer sentar aqui?".

- Quer se sentar aqui por enquanto? Acho que Olívia não se importaria – eu o convido.

- Ah, não! – responde sem graça – não precisa.

- Tudo bem.

Arthur continua parado na minha frente, com a mochila pendendo pesadamente em seus ombros. "Será que ele está procurando um lugar para sentar?". Olho para os lados e para trás. Uma boa parte das carteiras estão ocupadas por outros estudantes, uma ou outra com mochila para marcar que tem alguém lá.

Tem um lugar vago à umas 3 cadeiras atrás de mim. "Será que ele viu?". Volto minha atenção para o jovem. Dessa vez, percebo que ele não estava olhando para os assentos, mas sim para mim. Seus olhos negros parecem meio sem brilho, extremamente cansados, vazios. Seu rosto está sério – diria deprimido ou sonolento, ou os dois.

Encaro-o de volta. Apesar de estarmos próximos, sinto como se Arthur nem estivesse lá. Como se eu estivesse frente a frente com uma estátua. "Ele não parece estar vendo nada".

- Jovem? – eu o chamo, porém não tenho resposta. Sua expressão continua abatida – Arthur? Tá tudo bem? – a preocupação começa a aparecer. "Pelo amor de Deus, não desmaia não!".

- Aham. Desculpa. – Arthur reage e dá um meio sorriso artificial – eu dormi acordado. Foi mal. Vou ficar ali atrás.

Ele dá uns dois passos e me manifesto. Arthur para, evitando olhar para mim.

- Você não me parece bem não. Não quer ir pra casa? Eu te mando a matéria depois.

- Não precisa...

Clarice, que não é, LispectorOnde histórias criam vida. Descubra agora