ele já não gosta mais de mim

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— Aqui, chegou o Habeas Corpus daquele cara que a gente prendeu. — a voz de Yone tira Heloísa dos próprios devaneios.

Ela olha para a pasta e respira fundo. De uma coisa ela sabia: aquele documento não tinha a assinatura de Stenio. A palavra Habeas Corpus não lhe dava mais medo desde o segundo casamento, mas principalmente depois do segundo divórcio. Confirmando suas teorias, o escritório de advocacia que liberou o canalha era outro.

Alencar e Monteiro estavam longe de sua vida ao que parecia décadas, mas faziam só três anos desde que a própria Laís foi advogada responsável pela papelada. A amiga do ex-casal nunca ficou tão arrasada em assumir um caso.

— Esses advogados são como praga. — Heloísa rebateu, lendo a defesa do cliente indefensável.

— Seu ex-marido não é advogado?

— Por isso é ex-marido. — Helô falou com um sorriso esperto, saindo de sua sala para pegar mais café na copa.

Três anos que não via Stenio, e até poderia ser estranho se não fosse previsível depois da última vez que se falaram. Mesmo assim, algo dentro dela ficava inquieto toda vez que pensava nisso. Stenio nunca foi homem de não ser insistente, chegando a ser irritando e por vezes fazendo Heloísa querer dar voz de prisão a ele. Dessa vez era diferente. Dessa vez ela que tinha que engolir esse peso na garganta.

Que ela tinha medo de ser feliz isso não era uma novidade. Aceitar se casar com Stenio pela segunda vez lá atrás foi a maior prova de que o amor poderia levar as pessoas a cometerem loucuras. Poderia fazer uma delegada séria se render ao advogado cafajeste de novo, poderia fazer essa mesma delegada engolir o orgulho e aceitar que o mesmo advogado cafajeste tinha mudado para um homem direito. O amor poderia fazer Heloísa assumir que Drika tinha virado uma ótima mãe de menina apesar do péssimo exemplo que teve em casa. O amor poderia fazer Helô enlouquecer pela neta, querendo quase que obrigar a filha a morar aqui.

O amor no final das contas só a deixou cega.

Ela podia se lembrar bem do dia em que colocou na cabeça que Stenio estava a traindo de novo. Heloísa tinha certeza, afinal, policial não errava, não é? A verdade era que ela estava se sentindo feia, passando por um conflito dentro da profissão, querendo mudar de jurisdição, querendo se aposentar, querendo se afastar, e na mesma época o marido estava expandindo para Europa, fazendo viagens longas, a deixando sozinha com os próprios demônios.

Mas ele pedia sempre: confia em mim, eu te amo, Heloísa.

Heloísa tinha certeza da traição.

Ela só precisava ver.

A única coisa que ela viu foi Stenio em um jantar de negócios, e essa era a rotina dele nos últimos três dias que ela esteve em Portugal o vigiando.

Mas ela tinha tanta certeza.

— Eu não consigo acreditar que você veio até Portugal para me vigiar, Heloísa.

— E você queria que eu fizesse o que? Ficasse em casa esperando os novos pares de chifre que você ia me dar de presente?

— Qual o seu problema? Que motivos eu te dei? Helô, eu faço tudo por você, por nós, tudo que eu planejo, penso, idealizo é pensando na nossa vida, na nossa velhice, nas nossas bodas de sei lá o que! Eu só quero você, mas você não consegue acreditar nisso!

Chão de Giz Where stories live. Discover now