cresci

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No começo ele achou que fosse morrer. A dor era quase a mesma, ao menos ele pensava que não pudesse haver nada que doesse mais do que abrir mão da coisa que você mais amava na vida. Ele ficou de cama por uma semana, com dor no corpo e febre, depois continuou na cama por pura falta de vontade de sair. Seu primeiro mês foi dentro do perímetro do apart.

Seu segundo mês foi dentro de um espaço maior, seu novo apartamento, e agora ele poderia ficar mais confortável para se deitar em qualquer canto de casa. Seu celular continuava na mão e a conversa com ela no WhatsApp seguia aberta. Ele ignorava todas as outras conversas, todos os amigos perguntando se ele estava bem - já que faz o clássico movimento de apagar as fotos das redes. Ignorava Laís com novidades sobre a papelada do divórcio.

No dia em que ela disse que estava tudo feito, ele ficou de cama de novo e dessa vez ele tinha certeza que morreria.

Ele nunca pensou que fosse estar nessa situação de novo e dessa vez por escolha própria.

Então por que ele seguia em frente com esse?

Pelo simples fato de que Helô em momento algum tentou impedir isso de continuar.

Quando pousaram de Portugal, ela pegou as malas, entrou no primeiro táxi e saiu com a cara emburrada como se ele fosse o culpado. Como se ele fosse a pessoa colocando o casamento dos dois a prova desde o começo.

E ele não aguentava mais isso.

Sabe aqueles momentos na vida em que você não quer acreditar que aquilo está mesmo acontecendo? Que a realidade parece doer demais para se ter coragem de encarar? Stenio sentia isso. Ver seu casamento escorregar pelas mãos de novo, depois de tantos bons momentos, e depois de poucas brigas, diga-se de passagem. Afinal não foram as brigas que deixaram eles chegarem até aqui. Não, foi um conjunto de coisas que ele não viu se acumular, mas quando se deparou com o monstro ele era maior do que esperava.

E estava pronto para lhe matar.

Pelo sexto mês, Stenio voltou a dar uma boa gargalhada com os amigos. Voltou a olhar a vida de outro jeito. Parou de esperar mensagens de Heloísa.

Pelo fim do primeiro ano, ele entendeu que aquilo no final das contas foi melhor daquele jeito. Depois de um ano e seis meses, ele parou de ver Heloísa em cada detalhe. Ainda existia carinho por ela, é claro, eles tinham uma filha, uma neta, mas ele achava por melhor cada uma ficar no seu canto. Ele não a buscava mais em cada canto, sua vida caminhava para frente, e não para os lados a procura dela.

Ele começou a se sentir melhor depois de dois anos.

E agora ele se perguntava se não deveria ter feito isso antes, lá no primeiro divórcio. Simplesmente seguir sua vida sem Heloísa nela.

— Aqui, esse cliente chegou para nós, vamos pegar o caso? — escutou a voz de Lais na sua frente e sorriu para a parceira.

Pegou a pasta da mão dela e abriu. Não precisou percorrer o documento todo para fechar a pasta logo, devolvendo para ela.

— Encaminha ele para o escritório do Marcelo.

— O que? Por que? — Lais perguntou com falsa ignorância.

Stenio tombou a cabeça e sorriu para a amiga.

— Até parece que não sabe, não é?

— Ah, Stenio, qual é...

— Lais, não quero nosso escritório atrelado à delegacia da Heloísa, será que podemos passar esse caso? Eu te disse que essa era minha única condição?

Chão de Giz Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ