veneno da videira

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Heloísa tinha para si a certeza de que havia ficado louca. Poucas coisas a deixavam possuída de raiva, e todas elas envolviam Drika de alguma forma. Mãe leoa, a delegada só queria o melhor para mulher, mas de alguma forma, o 'melhor' não era o mesmo no conceito das duas.

Stenio era o melhor para Drika. Stenio não era o melhor para Helô.

E com esse pensamento ela se arrumou para ir buscar a neta na casa do ex-marido. Se fosse um cenário ideal, saberia que Stenio teria o bom senso de trazer a neta para cá, pois ela sabia que Creusa tinha havia o ex-chefe de sua chegada. Creusa não disse, mas Helô sabia. E se nesses três anos o advogado não fez nada para tirá-la do sério, hoje era o dia.

— Cinco dias na companhia exclusiva do Stenio e essa menina fica pior que a Drika, Creusa.

— Mas dona Helô!

— Mas nada, eu conheço o Stenio, ele não tem regras, não tem filtro, ele vai fazer o que Maria bem quiser, e a gente prometeu que não ia cometer o mesmo erro.

— Talvez ele ainda se lembre disso.

Heloísa achava que não. Na verdade, depois de ver a loira peituda com ele, Helô tinha quase certeza que Stenio tinha esquecido de tudo que um dia eles concordaram, a ao mesmo tempo que isso era bom, afinal era obrigação dos dois seguir em frente, isso era ruim, pois toda a história poderia se repetir com a pequena terrorista.

— Não lembra, Creusa. Stenio não lembra de nada a não ser ele mesmo. — Helô falou com aquele jeito de delegada que deixava a senhora nervosa.

Pois a briga era um fato.

Stenio terminou de colocar a mesa, o arroz cremoso com camarão no forno e a princesa e seus olhos de banho tomado no sofá assistindo televisão. Parecia um fim de dia perfeito, se não fosse a falta que certa pessoa estava fazendo nesse cenário tão familiar. E ele se odiava por isso. Três anos em plena superação para Moretti vir com um papo de gostosa e Drika falando que ele teria que conversar com Helô para acertar a ida da garota para a casa da avó nesse meio tempo em que os pais estavam em Angra.

Nessas horas ele se sentia um otário total.

Mesmo com todas as suas tentativas, a bendita, ou maldita, delegada ainda tinha um completo domínio sobre sua mente, como uma doença adormecida esperando o mínimo deslize de imunidade. Ele não queria mais ser aquele homem, ele não queria mais ser o cara que cedia para tudo. Principalmente quando ele não via a mesma tentativa do outro lado.

— Querida, vem, está pronto.

Maria veio correndo a tempo de ver o avô tirar a travessa do forno, fazendo um som de contentamento.

— Que cheiro bom!

— É seu favorito, fiz com carinho.

— Sabia que lá na minha escola, quando eu falo que o senhor é o melhor cozinheiro da família ninguém acredita?

— Por que?

— Porque são as avós que cozinham.

— Se a gente deixar uma panela na mão da sua avó, ela nos entrega uma casa pegando fogo, é por isso que ela tem a Creusa.

— Não vejo a hora de ver a Creusinha. — Maria sentou e esperou o avô a acompanhar.

Stenio conversou com Creusa no dia anterior, surpreso com a ligação da mulher. É claro que ela estava com Heloísa, a filha que ela nunca teve, e ele jamais competiria com isso, mas que a mulher estava lhe devendo uma visita isso era certo.

Chão de Giz Where stories live. Discover now