cinnamon girl

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Stenio esperou ela se aproximar pelo simples fato de não conseguir se mexer sozinho. A delegada o segurou pelo braço bom e o guiou devagar para a cama. O sentou lá e colocou as mãos na cintura.

— Deu pra escutar minhas conversas agora? — ela perguntou.

— Você sai com uma arma do quarto e eu tenho que ficar calado?

— Tem, é a minha vida, Stenio.

Ele a olhou sério.

— Por que te tiraram da delegacia?

— Outros problemas, Stenio. — ela se afastou dele, pegando toalha para o banho do homem.

— Tem a ver comigo?

— O mundo não gira ao seu redor.

— Olha para mim, Heloísa!

A delegada se voltou para ele contrariada. Precisava que ele calasse a boca, porque cada vez que ele falava sua vontade era gritar que o sequestro foi a pior coisa para a cabeça dela. Reacendeu medos, abriu feridas que não tinham fechado. Todo o abandono e o medo de perder.

E era nessas horas que ela achava melhor não ter Stenio do que ter e perder.

Sem memória era muito mais fácil superar a dor.

Era assim que ela pensava quando tentava se lembrar de sua mãe.

— Que foi, Stenio? Que saco! Chega disso, vai, vamos para o banho já.

— Eu te prejudiquei, não foi? — ele falou sério. — O Monteiro me contou que você escondeu o caso da PF, foi por isso? Por que você fez isso? Poderia ter deixado eles cuidarem disso! Não se prejudicaria!

— E deixar você morrer na mão deles? Você acha que para a PF valia mais a localização do cofre ou a localização sua? Você faz ideia do trauma que iria ser para a Drika? Para a Maria? — ela exclamou

Pra mim?

— Você pode só falar obrigado e seguir com a sua vida quando estiver curado, agora, por favor, vamos para o banho?

Stenio se calou. Não impôs resistência, a essa altura não tinha mais orgulho nenhum, e se até Creusa conseguisse limpar suas feridas sem arrancar sua alma junto aceitaria essa ajuda de bom grado. Heloísa o colocou sentado em cima do banquinho dentro do box. Não tinha nada de sensual em despir o homem daquele jeito, gemendo de dor.

Ver Stenio nu em seu banheiro, cheio de roxos, lhe dava náusea, mas ela tinha que ser forte aqui.

Afinal ela não fosse forte como sempre, quem seria?

Quando Heloísa se aproximou do registro do chuveiro, Stenio segurou seu braço. A delegada o olhou e viu pânico ali.

— Calma... — ela falou devagar. — Eu estou aqui.

— Me fala porquê, Helô.

Ela sabia, ele precisava ouvir. Era como se escutar que ela se esforçou tanto por ele pudesse fazer ele se esforçar um pouco mais pela própria cura.

Devagar, Heloísa se abaixou na frente dele. Stenio a seguiu com o olhar, frágil, completamente a mercê da piedade dela, como se Heloísa fosse uma santa que pudesse lhe salvar do próprio inferno de sua mente.

— Eu faria tudo de novo, Stenio. Eu sacrificaria tudo de novo, você não faz ideia das coisas que eu faria por você.

Ele fechou os olhos e apoiou a mão na parede, como se aquilo pudesse sustentar todas as dores.

Sua alma tremeu com as palavras de Heloísa.

Elas foram cruas, honestas, como ele nunca viu nas várias eras de história. Precisava disso.

Chão de Giz Où les histoires vivent. Découvrez maintenant