Após o segundo divórcio, pedido por Stenio, Heloísa vê o ex marido sair de vez de sua vida, do jeito que ela sempre falou aos sete ventos que queria. O universo escutou e agora Heloísa é obrigada a lidar com o peso de suas próprias palavras.
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Dizer que Heloísa estava ocupada na delegacia era quase eufemismo. Stenio temia ter esquecido o cheiro de sua mulher. Ela chegava quando ele já estava dormindo e saia antes do sol nascer. Ele já tinha encerrado as atividades do escritório no dia 15 de dezembro, mas Heloísa parecia não ter dia para encerrar. Se aquilo continuasse assim, arruinaria seus planos.
Não podia deixar ela engajar em nenhum caso.
Separou um dos vários vinhos deles, o que eles tinham tomado na última ida a Turquia, quando foram ajudar Drika com a mudança de volta ao Brasil. Abaixou as luzes, acendeu as velas. Queria que ela relaxasse o suficiente para não considerar loucura a viagem de última hora.
Ele colocou uma camiseta e uma calça de tecido leve. Ligou o ar condicionado para deixar o apartamento em uma temperatura agradável em meio esse fim de primavera.
Ele colocou alguns pratos na mesa. Tinha passado no restaurante árabe favorito deles, pegando alguns pratos em comum com a culinária do país.
— Nossa, que cheiro bom aqui dentro. — ele ouviu assim que ela entrou em casa.
Heloísa apareceu na sala quando ele colocava uma playlist no Spotify. O instrumental típico árabe de Mert Demir começou a tocar na sala.
Heloísa sorriu e deixou a bolsa de lado, se aproximando do marido.
O beijou suavemente, sendo embalada pela música e envolvida pelos braços dele. Stenio sabia que ela amava essas músicas, e tinha certeza que em outra vida ela foi desse mundo, pois sempre foi muito curiosa sobre a cultura, idioma, culinária.
— A que devo essa surpresa?
Ele sorriu e a beijou mais uma vez antes que a virar em direção a mesa. Ouviu o suspiro surpreso. Estava indo bem.
Stenio puxou a cadeira para que ela sentasse e pariu ao lado dela para abrir o vinho. Deixou o líquido bordô correr para a taça enquanto a olhava. Ela estava linda como sempre, uma deusa na terra.
— Para de me olhar assim, eu quero comer. — ela falou logo.
Stenio riu, sentando ao lado dela.
— Eu esqueci alguma coisa? Isso está uma delícia, Stenio. — ela perguntou demais da primeira garfada na comida.
Ele sorriu de canto.
— Vamos para Istambul.
Aquela informação saiu dos lábios gostosos como se nada fosse. Por um instante, Heloísa achou que ele estivesse brincando. Quando nada disse para se corrigir, Heloísa tinha certeza que ele estava ficando doido. Já tinha o argumento pronto sobre seu trabalho e tudo mais.
Mas algo no tom de voz dele, no olhar, naquele maldito novo corte de cabelo e aquela barba, que a impedia de falar qualquer coisa.
