exatamente onde você me deixou

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Quando Heloísa se voltou para a porta da sala, viu o rosto de Stenio se contorcer de raiva. Aquela expressão era bem conhecida por ela, mesmo que ele insistisse em dizer que escondia muito bem o ciúme que sentia.

— Bom, tenho que ir. — Gabriel falou, chamando a atenção dela.

O rápido despedir do homem era esperado por Heloísa. No contato, ela salvou seu nome como Delegada Heloísa Sampaio. Boa parte dos homens abriam mão das cantadas e iam caçar mulheres mais fáceis de manipular para levar para a cama. Vantagens e desvantagens da profissão.

Ela sorriu para ele, forçando, e observou ele sair. Algo nele era curioso, porque mesmo enquanto ia para fora ele não parou de lhe olhar e sorrir.

— Quem era? — ouviu a voz de Stenio ao seu lado e se surpreendeu como ele estava andando tão bem sem sua ajuda.

— Está se virando bem sem mim, não é?

— É, é, quem era? — ele perguntou de novo.

— Gabriel, ele é paciente aqui também.

— Conhece ele?

— Conheci agora.

— E já deu seu numero para ele? É sério?

— Desculpa, mas... o que isso tem a ver?

A verdade é que Heloísa sentiu vontade de fazer algo diferente pela primeira vez em três anos. Por três anos, ela viveu um luto por um casamento que ela estragou, que ela perdeu porque ele cansou dela. Heloísa não estava cansada dela mesma, ela estava viva. A falta que Stenio fazia em sua vida era grande, era dolorida, mas por quanto tempo ela deveria se prender nessa falta?

O sequestro dele lhe abriu feridas que ela queria curar. Lhe abriu o sentimento que tinha por ele.

Amor.

É óbvio que amava Stenio. Não tinha, não se lembrava, de um momento em sua vida em que não havia amado Stenio. Ele era o homem que lhe tinha quando quisesse, ainda que ela oferecesse resistência.

Mas quem poderia a julgar se ela quisesse pegar a sua vida, seu coração em posse de Stenio, para fazer o que quisesse?

Queria Stenio, mas ele tinha cansado.

E o que mais ela poderia fazer?

Estava nas mãos dele, mas queria estar nas suas próprias também, nem que fosse uma pequena ilusão.

— Não tem nada, Helô, você sabe o que faz, não é? — ele falou sério.

— Ele não vai fazer nada, Stenio. Eu coloquei como delegada no telefone dele, homens não gostam.

— Moleques não gostam. Homem de verdade adoram uma mulher assim. — ele falou a olhando de cima a baixo.

— Assim como?

Stenio a olhou de novo, caminhando então para a recepção a fim de marcar as próximas consultas.

A delegada abaixou o olhar, a atenção nas próprias mãos era mais interessante do que encarar a verdade de Stenio. Ele era uma incógnita para ela, a noite anterior, aquela proximidade, tinha sido tão necessária, mas ao mesmo tempo era como se tivesse sido jogada ao vento, ao universo.

O silêncio no trajeto para casa foi ensurdecedor. Stenio tinha um incômodo no rosto que ela sabia bem da onde vinha, ela tinha um desconforto, uma agitação por dentro.

Viver estava desconfortável.

— Quer alguma coisa específica de almoço? — ela perguntou.

— Não, nada especial. — ele respondeu, sentando no sofá. — Senta aqui.

Chão de Giz Where stories live. Discover now