[02] LE PECHEUR QUI NE VOULAIT PLUS VIVRE

181 22 0
                                    


✢ O Pecador Que Não Queria Mais Viver ✢


A doce voz de Jihyun cantarolava baixo, era apenas um murmúrio. Adentrei cauteloso no ambiente, as janelas abertas deixavam o vento morno soprar e esvoaçar as cortinas acetinadas. A cadeira de balanço rangia conforme ela empurrava, com os pés, o chão. Os lírios-brancos, que haviam sido coletados especialmente para ela, estavam dispostos na pequena mesa de cabeceira ao lado do berço de madeira.

— Como você é faminta, minha pequena — disse no mesmo timbre de voz baixo.

Segurei o balanço da cadeira com uma das mãos, de modo a poder observar a cena dela, alimentando a nossa pequena filha. Seus olhos tão azuis logo se iluminaram quando ela me viu, e um breve sorriso estampou seu rosto. A longa trança que prendia seus fios dourados estava desgrenhada, como costumava deixar após sair para colher algumas frutas silvestres no bosque.

Dei a volta para ficar defronte a elas, agachando-me aos seus pés, entre os seus braços estava nossa filha, completamente enrolada por uma manta cor-de-rosa. Parecia tão pequena e frágil. A mão destra de Jihyun estava no pano, sendo possivelmente agarrada pelos dedos da pequena, afastei vagarosamente uma parte do tecido, a expectativa em ver a face miúda e angelical da nossa filha logo me abateu, porém logo observei que as bordas dos tecidos estavam manchadas de vermelho, ao tocar, senti serem manchas de sangue.

Vermelho, assim como daquela noite. Olhei afoito para o rosto de Jihyun e a sua fisionomia já não era a da mulher por quem havia me apaixonado perdidamente, era a mesma jovem meretriz de uma noite silenciosa.

O pano que, então, cobria a criança caiu do seu rosto, a pele era pálida, os pequeninos lábios arroxeados e, quando o recém-nascido abriu os olhos, eram cor de carmesim, assim como os de um demônio morto-vivo, em uma noite estranhamente familiar.

— É como um anjo, não achas, senhor Jeon? — falou a mulher com o tom sereno.

Joguei-me para longe, apavorado com a cena. Meu peito inflava, subia e descia com a respiração descompassada. Uma das mãos da mulher era devorada pela criança, como um cão faminto que mastiga um pedaço de osso podre. O vestido, que usava, estava coberto pelo seu próprio sangue.

Sua voz voltou a cantarolar a mesma canção de ninar do início, porém, agora, parecia como um gemido de agonia e a sua face continuava serena, tranquila e feliz. Assim como quando o demônio a devorou naquele beco escuro. A cadeira de balanço rangia agudo, tive que tampar meus ouvidos e me encolher no lugar para fazer com que aquele som ensurdecedor fosse abafado.

— Senhor Jeon?... Senhor Jeon?!... — Ouvi a mesma voz daquela noite me chamar, vinha de todos os cantos. Tentei gritar para que cessasse, nada a fazia parar. Até que um solavanco fez com que saísse daquele transe, e o ar, que me faltava, encheu meu peito, preenchendo cada espaço vazio.

A luz da manhã invadiu minha visão, a pouca sombra que pôde confortar meus olhos foi a da cabeça redonda do jovem rapaz de cabelos cobertos pelo chapéu de palha. Ele me ajudou a sentar-me no chão, já que meu corpo estava estirado no chão de pedra do mesmo beco da noite anterior. Confuso, bisbilhotei pelos cantos, notando a presença de dezenas de curiosos à nossa volta, esses que eram impedidos de passar pela guarda local da cidade. Próximo a mim, estava o lençol rosado, o mesmo do meu pesadelo, coberto pelas mesmas manchas de sangue em suas bordas.

Esfreguei as mãos pelo meu rosto e puxei meu cabelo, tentava organizar as imagens da noite anterior na mente e não me vinha nada, era tudo um completo vazio que envolvia uma tela em branco sendo manchada pelo sangue de mais uma vítima do assassino de mulheres daquela cidade

DRINK FROM ME ༌ JIKOOKWhere stories live. Discover now