23. Country Feelings

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C O L L I N

A corrida havia se tornado terapêutica para mim. Antes de vir para West Valley, eu nunca havia sido um grande apreciador da atividade física e não imaginava que iria me conectar tanto com algo assim. Agora, eu ansiava pelas manhãs e pela brisa batendo contra o meu rosto.

Por isso, eu era mais grato do que Camille imaginava, afinal, eu não achava que teria encontrado esse hobby se ela não tivesse me chamado para acompanhá-la naquele primeiro dia, quando eu não fazia ideia do que estava fazendo quando escolhi segui-la. E havia continuado a segui-la desde então, o que desenvolveu nosso vínculo em uma amizade que eu valorizava muito agora, talvez porque Camille tivesse sido realemente a primeira amiga que eu tinha que não compartilhava o meu sangue.

— Esse foi um bom tempo. — Camille sorriu para mim, soltando seu cabelo para refazer seu rabo de cavalo — Collin, eu preciso dizer, você ia se dar tão bem na equipe de atletismo.

— Não exagere, Cami. — eu bufei. Correr ali no campo, sem nada valendo, era uma coisa. Entrar em uma equipe da escola, assumir a responsabilidade de competir, era outra bem diferente.

— Estou falando sério. — ela disse — Claro, não vai ser imeditato, mas pense em quanto você pode evoluir até o ano que vem, começar a se destacar nas competições. Olheiros das faculdades vem para as competições estaduais. Eles estão procurando por talentos. Sabe o que isso significa, Collin? Você poderia receber uma bolsa de estudos, ter mais opções.

A conversa sobre faculdade era uma espécie de gatilho para mim. Faculdade me lembrava que, logo, eu teria dezoito anos e então não seria mais responsabilidade de ninguém. Não do Estado, não de algum tutor. Eu seria um adulto aos olhos da lei e estaria apenas nas mãos de Deus. O pensamento de estar completamente desamparado ao invés de só parcialmente desamparado.

Era uma linha de raciocínio que levantava outra questão também: o futuro. Faculdade sempre havia parecido uma realidade distante, considerando o custo elevado do ensino superior, mas Sarah e algumas outras pessoas com que lidamos no serviço social ao longo dos anos sempre agiram como se fosse possível, como se tívessemos escolhas que eram mais do que arrumar um emprego e sobreviver. Como, ainda era uma pergunta para mim.

Assim, eu não tinha uma resposta para Camille, porque eu sabia que ela genuinamente se importava conosco e queria ajudar e incentivar de todas as formas possíveis, mesmo que as vezes suas sugestões, que eu sabia serem normais para ela, parecessem extraordinárias para nós, irreais.

— Eu não consigo entender como você faz isso e cheer. — comentei, desconversando. Camille percebeu, mas não interferiu, apenas dando de ombros.

— A corrida ajuda a manter minha vitalidade e é puramente pelo prazer passoal. Mas o cheer é a grande paixão e foco. — ela disse.

— E como vai o treino? — perguntei.

— Muito bom. — Camille sorriu — Estamos na metade da rotina e tudo está dando certo até agora. Os treinos são fechados então você vai ter que acreditar no que eu digo, mas o elemento surpresa vai ser bom quando vocês virem só no final.

Ela falou com a confiança de que estaríamos aqui para ver sua apresentação, que eu sabia que ainda estava a meses de distância. Ela parecia absolutamente certa da nossa presença futura, algo que eu não sentia e sabia que meus irmãos também não. Constância era algo que nunca tivemos, de modo que não nos permitíamos imaginar o futuro assim quando tudo em nossas vidas estava sujeito à mudança muito mais do que deveria. Também não querendo entrar nesse tópico, no entanto, eu desconversei novamente:

Where We BelongWhere stories live. Discover now