32. Country Spirit

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C O L L I N

Meu irmão mais velho havia se tornado um pouco mais calado desde a noite do rodeio e isso estava começando a incomodar nossos outros irmãos, principalmente Theo, que estava se sentindo terrivelmente culpado por ter colocado Rowan na situação, mesmo que não fosse o caso. Uma parte de mim achava que Rowan, no ápice de seu instinto protetor, estava esperando um conflito, esperando o pior e, quando isso não aconteceu, o fez se sentir deslocado, perdido até. Nós sabíamos como lidar com problemas muito mais do que sabíamos lidar com gentileza. 

O pobre Theo havia até mesmo se oferecido para devolver seu presente, o que finalmente havia feito Rowan se recompor o suficiente para aliviar a consciência de nosso irmão caçula, para dizer que estava tudo bem. Mesmo assim, Rowan ainda tenso de certa forma, talvez um reflexo das conversas que haviam surgido entre nós nas últimas semanas sobre a incerteza do futuro. Quanto mais tempo passava, mais nos perguntávamos quanto tempo ainda tínhamos.

Naquela tarde, Rowan e eu havíamos aproveitado carona com Bray e Nick para buscar uma encomenda para Elena do outro lado da cidade. A pousada parecia cheia naquela semana e Elena certamente havia estado ocupada, mas isso não a havia impedido de tomar café conosco todas as manhãs e nos desejar um bom dia, jantar conosco todas as noites e perguntar sobre o que havíamos feito.

Enquanto esperávamos que tudo fosse arrumado para levarmos, Bray veio até nós.

— Eu fiquei pensando sobre o que você disse no aniversário da Julie. — ele disse para mim — Como se você ainda fosse sortudo por estar aqui.

De fato, eu havia dito algo nesse sentido, talvez um efeito dos sentimentos que meus irmãos haviam começado a expressar, de incerteza, como se houvesse uma ampulheta invisível pairando sobre nós e a areia estivesse escorrendo. Como Rowan, eu havia aprendido a esperar o pior e a se preparar para o pior — e isso havia nos metido em problemas — mas no fundo eu também era terrivelmente esperançoso. E agora, mais do que nunca, eu queria tanto que essa fosse nossa última casa.

Nós havíamos encontrado algo aqui, algo verdadeiramente bom e valioso e perder isso parecia mais doloroso do que sair de qualquer outro lugar em que já estivemos desde a morte da nossa mãe.

Bray apoiou os antebraços na cerca diante de nós olhando para o horizonte, parecendo perdido em seus próprios pensamentos, mas então ele falou:

— Nosso pai era um covarde. — começou, me pegando de surpresa. Pela expressão de Nick, que havia se juntado à nós logo após o irmão, esse era um tópico inesperado para qualquer um — Ele deixou todos nós para trás e nunca mais voltou, preferiu as noites apostando no bar agindo como se não tivesse família. Nós não merecíamos isso, a mamãe não merecia isso, mas acho que nós todos sabemos que a vida não costuma nos dar o que nós merecemos. Ela simplesmente dá e simplesmente tira.

— Eu sei que você devem ter passado por muita coisa para você sentir que sempre lhe vai ser tirado, mas às vezes você recebe. E quando você recebe, você tem todo o direito de agarrar isso com força e de não viver esperando o tapete seja puxado de baixo de você. Eu sei que eu não tenho direito ou propriedade nenhuma para dizer como vocês devem fazer as coisas, mas eu queria se vocês soubessem que, quando vocês quiserem se segurar, nós estamos aqui para segurar vocês de volta. Eu estou.

— Por que? — Rowan perguntou. Assim como ele havia feito quando Asher presenteou Theo na outra noite, meu irmão mais velho estava agindo com o instinto desconfiado de anos tendo que interpretar as intenções das pessoas, tentando que enxergar além para nós proteger. Era um botão que eu não sabia se algum dia ele desligaria, para o bem ou para o mal, mas uma parte de mim queria que ele o fizesse apenas para que ele pudesse se sentir em paz também, se sentir seguro.

Where We BelongWhere stories live. Discover now