22 - PLANEJANDO MEU PRÓXIMO SUICÍDIO

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Consegui voltar ao castelo são e salvo e prometi a mim mesmo que se meu pai desse uma fugidinha de novo eu ia deixar ele fugir sozinho. Imagina se eu morresse, não ia poder pintar minhas unhas na semana que vem com o novo esmaltinho de ouro. Já estava tudo combinado no salão do castelo e morrer antes desse lançamento seria uma deselegância, terráqueo.

Quando eu cheguei, Aspique e Indio estavam na porta do quarto discutindo por ele ter deixado eu sair. Devia ser umas meia-noite e ali estava eu pingando água e tremendo de frio. Aspique puxou tanto minha orelha que eu achei que ia ficar sem ela. Ele só não contou pra todo mundo porque senão ele ia ser penalizado, então aquele incidente ficou só entre nós.

Só que, como eu sou maléfico, eu já estava planejando o próximo suicídio. Mas, prometo, terráqueos, vai ser o último.

O pior é que eu só queria me enterrar na cama e esquecer aquela reunião, mas meu desejo foi ignorado solenemente. Fiquei matutando que o dia começou comigo sendo humilhado pela Pata e terminou comigo humilhado pelo destino. Tirando isso, parecia que o pessimismo do meu pai encontrou uma brecha em mim.

Eu sonhei que meu pai, como um dos guerreiros da independência, era convocado na missão até o planeta Oyoche e morria ali. Depois, eu era nomeado para governar o país. Só que eu não queria aquilo. Eu era incapaz. Primeiro porque eu odeio este lugar. Se eu pudesse me mudava para um planeta com um índice de desenvolvimento humano melhor, mais civilizado, onde as pessoas não tirassem meleca do nariz em público ou comessem com as mãos. Mas eu sou obrigado a conviver com esse povo, porque nasci entre eles.

No dia seguinte, eu queria visitar o rio Pardo, mas não queria dar um tiro no escuro. Eu queria saber o que me aguardaria ali e se eu estava seguro. Por isso, quando Indio me chacoalhou na cama uns meio-dia eu acordei no susto, dando o maior catarrão na cara do garoto.

— Cara, ó só o que cê fez! — Indio disse com a cara meio verde e meio cor de pele.
— Ah, — eu enxuguei a mão no nariz — quem mandou você me acordar? — tossi que nem uma vaca. — Eu tô meio resfriado.
— Claro, fica se aventurando de madrugada no frio. Meu irmão ficou uma fera com você.
— Ah, Indio, mas foi por um bom motivo.
— Se foi, então porque você não me diz o que aconteceu?
— Não, não foi nada demais. Meu pai só foi encontrar uma admiradora secreta.— Mas tem que gostar muita da pessoa pra sair aquela hora naquele gelo.

Se tem uma coisa que eu aprendi é que arquivos confidenciais das autoridades devem permanecer secretos. Eu fazia parte da realeza. E você, terráqueo, também proteja a história que está sendo relatada a você pois se ela cair nas mãos erradas, nós podemos cair junto e pagar um preço alto.

Eu queria até contar do plano de salvar o príncipe trino e invadir o planeta Oyoche, mas não podia confiar o peso desse segredo nas costas do Indio. Para o bem dele.

— Indio — mudei de assunto. — A única coisa que me preocupa agora é o rio Pardo.
— Por quê?— Rapha disse que eu deveria ir lá em dois dias.
— Caramba.— Mas eu quero saber aonde eu tô pisando.
— Nadando, no caso.
— É.
— E como você vai fazer isso?

Foi aí que uma lâmpada brilhou na minha cabeça.

— Eu tive uma ideia. Vem comigo...

Anjo das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora