25 - UMA AVENTURA NO RIO PARDO

3 0 0
                                    

Eu nunca imaginei que faria parte de uma aventura alucinante para aprender os dotes culinários submarinos, mas era bem melhor do que ser um mutante de duas cabeças.

Contudo, o mistério envolvendo o rio Pardo era bem mais profundo do que a caverna 21. É isso que vou contar a partir de aqui. A minha aventura do rio Pardo.

Ao chegar às margens do rio, meus pés enfarofaram de areia. Por baixo do sobretudo de camurça, meus pelos se eriçaram de frio e eu cruzei os braços. Dava para ouvir grunhidos, pios e uivos se confundindo por dentro da floresta. Cada vez que eu respirava um anel de fumaça escapulia da minha boca.

Tomara que dentro da água esteja mais quente, eu pensei. Mas antes de vir o próximo pensamento um canto agudo tomou os holofotes.

Quando me virei para as águas, ali estava o ágalo de estimação do Raphael com suas penas alaranjadas. Ele bicava o rio com a vontade de um pombo bicando a pipoca. Talvez a água tivesse o gostinho de suco de frutas dependendo da cor que estivesse no momento, mas eu não era nem louco de tomar aquilo. Dizia a lenda que nossa pele iria derreter em questão de minutos e eu não ia jogar minha juventude no lixo assim.

De repente, o pássaro arregalou os olhos e recuou em minha direção. Um segundo depois, eu entendi o porquê. Naquela região do rio a água borbulhava, como se ele tivesse entrado em ebulição. Pus as mãos entre as penas do ágalo e senti o alento do bicho."Calma, vai ficar tudo bem".

Meu primeiro palpite foi que Raphael inventou de fazer churrasco de sardinha outra vez. Na verdade, eu quase acertei.

A voz de Raphael ecoava dos quatro cantos da floresta.

— Você está aí? — eu franzi as sobrancelhas em dúvida de para onde olhar enquanto falava.
— Eu tô — anunciei fazendo um megafone com as mãos— mas cadê você, meu filho?
— Estou dentro do rio, tire os calçados e o sobretudo, ponha os pés na água e mergulhe devagar. Eu vou te explicar melhor quando nos encontrarmos.
— Raphael, eu não sou trino, mágico, nem feiticeiro — disse eu, retirando sobretudo e pendurando-o um galho de uma árvore. Já os calçados, deixei entre as raízes.
— Melhor você usar um de seus truques se eu morrer afogado, eu volto do além para puxar teu pé à noite.
— Não tenha medo, Iogo — disse o anjo. — Está tudo sob controle.

Foi aí que eu dei dois tapinhas no ágalo e me aproximei até a ponta dos meus pés. Um calafrio percorreu minha espinha. A diferença de temperatura era óbvia. As águas estavam mesmo mornas e aconchegantes como uma chuveirada quente numa manhã degraus negativos.

Apesar de atraente como uma fonte termal, uma coisa me fez travar. Um aperto no peito. Uma lembrança. Um temor.

— Por que eu tenho que ir aí? Seu pai bem que podia mandar um recado. Ou ele mesmo levantar a bunda da caverna 21 e vir aqui. Se for para eu ficar ouvindo palestras sobre peixes você vai se ver comigo depois. Era só o que me faltava.

Foi aí que eu senti uma mão emergir da água e acorrentar meu tornozelo. Na velocidade de um flash, me senti puxado para o rio Pardo e foi como cruzar um portal para outro planeta.

Anjo das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora