23 - HISTÓRIAS PARA BOIS E KYOCHES DORMIREM 2 - TRAGÉDIA NO RIO PARDO

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Indio tirou um livro da estante da biblioteca do castelo kyoche e a poeira deixou a cara do garoto toda enfarofada. Ele deitou o livro numa mesa, limpou a capa e seus olhos se arregalaram.

— Achei, Iogo. Bem que você disse que a gente podia encontrar informação aqui.— O que é isso? — eu reagi na outra ponta do cômodo.

Um minuto depois, eu e Indio estávamos debruçados sobre um livro que não me era estranho.
— Histórias para Bois e Kyoches dormirem? Esse não é a obra lendária que o Amundos falou pra gente? Foi de lá que ele tirou citou a história de Zuno e de Ocheane.
— Acho que é isso mesmo.
— Ótimo. Isso é uma coleção de histórias sagradas. Quem sabe não tem alguma coisa sobre a origem do rio Pardo?
— Bora ver.

A gente ficou folheando o livro, enquanto ideias verdes incolores dormiam furiosamente*.

Até que alguma coisa chamou nossa atenção.

— Olha aqui:

"Animais raros sustentam o núcleo de água do planeta Kyoche. Durante a formação do planeta da boca de Ocheane, pequenas formas de vida se desenvolveram e movem-se no núcleo do planeta, protegendo-o de impactos. Talvez a segurança dessas criaturas lendárias seja responsável pelo planeta Kyoche ser o único praticamente imune a terremotos. Os kyoches atribuem essa proteção a animais desconhecidos. Aliás, a cultura envolvendo só bichos tornam eles o povo com maior leis de direitos dos animais. Essas criaturas são consideradas deuses porque não morrem. Além disso, apesar da habilidade natural da raça realmente permitir que o kyoche se comunique com os bichos, ninguém consegue acessar ou ver tais criaturas de modo que elas só existem no imaginário coletivo".

— Tu já ouviu falar sobre isso? Como se esses animais raros protegessem mesmo o planeta de dentro dele enquanto Zuno protege de fora?
— Acho que já, mas não é isso que a gente tá procurando. — eu bati o pé. —Esse livro não fala nada sobre o anjo. É por isso que eu tenho que ir pessoalmente pro rio.

Foi aí que Indio foi folhear com mais força o livro, como se estivesse torcendo um pano até a última gota de água sair. O pior é que a estratégia deu certo.

Escapuliu umafolha cor de café da enciclopédia de lendas e dançou até o chão. Indio pegou ela do chão.

— Olha isso, cara. — os olhos de Indio brilharam. — É uma página de um caderno de manchete. Isso é o que nóis tava procurando.

PONTO TURÍSTICO É PROIBIDO DE SE VISITAR APÓS INCÊNDIO DEVASTADOR

Evento que reuniu centenas de pessoas termina de maneira trágica e resulta na maldição do rei kyoche ao rio Pardo.

Canal de águas considerado mais límpido e cristalino do universo está em estado de alerta. Um evento realizado ontem envolvendo a realeza em comemoração ao Dia do Beijo acontecia livremente quando um incêndio se alastrou pela floresta, causando tumulto e confusão nas margens do rio. Até o momento registramos 74 mortes, em decorrência de intoxicações por inalação de fumaça, queimaduras e pisoteadas. Um pronunciamento oficial do rei foi divulgado a toda a nação nesta manhã: "Eu amaldiçoo o rio Pardo de uma vez por todas e o proíbo por tempo indeterminado! Ele jamais será responsável por tirar mais vidas". Uma sindicância foi aberta pelo conselho oficial do reino para investigar o caso. Apesar de haver suspeita de um incêndio criminoso, muitas pessoas seguem atribuindo o incidente a fenômenos sobrenaturais envolvendo lendas do rio Pardo".

— Cara, eu não sabia que o rio tinha sido interditado após essa tragédia.
— Nem eu.
— Seu pai nunca falou disso com você?— Não.
— Você devia falar com ele agora.
— Eu até podia. Mas por dois motivos não dá pra fazer isso. Um: ele pode desconfiar do porquê eu quero saber sobre o rio. E dois: ele não está mais aqui no castelo.
— Como assim? Muito saidinho esse rei, Iogo. Ontem foi namorar, mal dormiu e já tá na pista de novo.
— Cara, eu acho que eu não tenho escolha.
— Iogo, é melhor você não ir. Olha a tragédia que esse rio causou. E ninguém descobriu o motivo. Pode ser perigoso. E se a floresta pegar fogo quando você estiver lá?
— Esse é meu medo.
— Mas eu preciso enfrentá-lo pra ver porque isso acontece.
— Iogo — Indio me olhou com cara de susto. — Será que tem alguém que mora lá perto que quer manter as pessoas afastados do rio?
— Pior ainda — eu disse. — Será que os pais do Raphael estão por trás da morte dessas pessoas?

Nota do escritor*: Citação de Noam Chomsky. A frase aqui se torna uma figura de linguagem para ideias confusas.

Anjo das ÁguasWhere stories live. Discover now