errei, fui Hanayama

621 31 6
                                    

O som que porta do quarto fez denunciava a chegada de Julia em casa e pela potência do impacto, provavelmente haveria uma tempestade se aproximando

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

O som que porta do quarto fez denunciava a chegada de Julia em casa e pela potência do impacto, provavelmente haveria uma tempestade se aproximando.

— francamente. — Julia reclamou alto, a maneira desajeitada como estava caminhando denunciava sua raiva. Sentada em frente a sua penteadeira, ela começava a se desfazer de todas aquelas coisas que estava usando, olhar para elas traziam as lembranças do episódio infeliz que havia acontecido algumas horas atrás.

Seu namorado ultrapassou todos os limites quando decidiu tomar a frente e fazer as coisas sozinho, mesmo que fossem um casal. Certamente ele tinha motivos para agir daquela forma, era seu dever protegê-la acima de qualquer coisa, mas para Julia, o fato de seu relacionamento ter sido "escondido" durante aquele jantar foi o suficiente.

De início, ele não pretendia deixar os seus sentimentos virem a público, não queria que Julia estivesse sob a mira de possíveis problemas, essa parte ela conseguia compreender perfeitamente.  Porém, em algum momento daquele jantar, um homem desconhecido se sentou ao seu lado e deu início a várias tentativas de conversa. Até então, nada de novo, era sempre a mesma coisa, homens poderosos sentindo-se no direito de fazer e dizer o que queriam com mulheres que aparentam estar sozinhas. Nada que ela não conseguisse lidar sem dificuldades, já estava acostumada. Mas por algum motivo, só a presença daquele homem sentado ao seu lado fez o sangue de Hanayama ferver, não só o dele como o dela. Ele era insistente o suficiente para invadir o espaço pessoal dela, colocando aquelas mãos asquerosas sob a pele macia de suas coxas, o que gerou um conflito dos grandes.

Julia reagiu com agressividade ao quebrar os dedos da mão daquele ser asqueroso, mas acabou sendo ferida no processo. Um dos capangas daquele homem sacou sua arma escondida, disparando uma única bala na direção dela antes de ter seus braços finos esmagados pelas mãos de Kaoru Hanayama. Por sorte a bala não acertou um ponto vital.

— Julia. — a voz rouca de Hanayama ecoou pela casa, sinalizando a sua chegada.

— vá embora! — Julia gritou, tomada pela frustração.

Estava cansada, machucada e envergonhada, a última coisa que ela queria fazer naquele momento, era discutir com Hanayama. Ainda sentia o local onde havia sido atingida ardendo feito uma queimadura, mas era tão teimosa que não deu ouvidos aos conselhos do médico que a atendeu. Com muito esforço ela conseguiu se livrar daquele vestido, sua prioridade era não agravar mais o estado do seu ferimento.

Julia, com a respiração acelerada, ignorou a presença persistente de Hanayama e continuou a desfazer-se das roupas, seu rosto refletindo a mistura de dor e frustração. A tempestade em sua mente era tão intensa quanto a que se aproximava lá fora.

— Não vou embora. — Hanayama declarou com sua expressão séria mostrando uma determinação que não aceitaria ser ignorada.

Julia ergueu o olhar para ele, seus olhos faiscando de raiva. — Você não entende, Hanayama. Toda essa situação, esse segredo... — ela hesitou, procurando as palavras certas. — Foi humilhante. Eu não preciso ser protegida como uma criança indefesa.

O silêncio tenso pairou no quarto por um momento antes de Hanayama finalmente falar. — Eu não quis te humilhar. Eu só queria proteger você, mesmo que isso signifique manter nosso relacionamento em segredo.

Julia bufou, incrédula. — Proteger? Você chama aquilo de proteção? — Ela apontou para o ferimento em seu corpo, a lembrança física do tumulto naquele jantar.

O olhar de Hanayama suavizou, revelando um lampejo de preocupação. — Eu não previ que isso aconteceria, Julia. Eu só queria evitar problemas.

A jovem suspirou, percebendo a sinceridade nas palavras dele. A raiva começava a ceder espaço para a exaustão. — Eu não quero problemas, Hanayama, mas também não quero ser tratada como se não pudesse cuidar de mim mesma.

Hanayama se aproximou lentamente, consciente da tensão no ar. — Eu sei que você é forte, Julia, mais forte do que imagina. Mas às vezes, até os fortes precisam de alguém ao seu lado.

Ela o encarou por um momento, antes de finalmente concordar em silêncio. No meio da tempestade, uma trégua se formava entre eles, uma compreensão mútua nascendo das cicatrizes visíveis e invisíveis daquela noite conturbada.

Hanayama permaneceu ao lado de Julia, seu olhar penetrante buscando compreender as profundezas da tormenta emocional que a consumia. Julia, por sua vez, sentiu a intensidade de sua presença, uma mistura de proteção e sinceridade que começava a romper as barreiras da desconfiança.

Com cuidado, Hanayama tocou suavemente o ombro de Julia, uma tentativa silenciosa de transmitir apoio. Ela não afastou sua mão, permitindo-se absorver a sensação reconfortante daquele toque em meio ao caos emocional.

— Eu sei que agi de maneira impulsiva, Julia, e nunca quis que você se machucasse. — Hanayama falou com um tom de voz mais suave, revelando um lado mais vulnerável que raramente era exposto.

Julia assentiu lentamente, começando a compreender a perspectiva dele. — Eu só não quero ser mantida no escuro, Hanayama. Não quero sentir que minha vida é um segredo.

O silêncio pairou por um instante, quebrado apenas pelos sons distantes da tempestade que se aproximava. Hanayama respirou fundo antes de continuar. — Eu vou aprender com isso, Julia. Não quero esconder nossa relação, mas preciso encontrar uma maneira de equilibrar a proteção com a transparência.

Os olhos de Julia refletiam uma mistura de cansaço e aceitação. Ela reconhecia a sinceridade nas palavras de Hanayama e estava disposta a dar uma chance para que as feridas emocionais se curassem.

Com um gesto suave, Hanayama ajudou Julia a se levantar da penteadeira, seu olhar transmitindo a promessa de apoio contínuo.

Kaoru Hanayama

Naquela noite, durante um jantar, houve um distanciamento momentâneo entre nós. Reconheço que foi um erro não ter dado a devida atenção. Se eu tivesse escutado atentamente e formalizado nosso relacionamento naquele momento, acredito que poderíamos ter evitado um acidente que estava por vir. O arrependimento surge agora, à luz da compreensão tardia.

— Querido. — ouvi Julia resmungar contra o meu peito. A entonação suavizada pelo sono e o adjetivo usado foram eficazes para afastar os meus devaneios por alguns minutos. — Vai acabar ficando com olheiras se continuar assim.— comentou sorrindo. Ela não pretendia me deixar acordado sozinho, apesar de estar lutando contra o sono.

Senti sua respiração falhar quando agarrei sua cintura, precisava sentir mais do calor de seu corpo. Naquela situação, com o temporal pesado que caía lá fora, eu não conseguia evitar que meus pensamentos acabassem atrapalhando a minha noite de sono. O som da chuva batendo contra as janelas fornecia uma trilha sonora inquietante para os meus pensamentos tumultuados.

Julia, com sua paciência de sempre, acariciou meu rosto suavemente e sussurrou palavras tranquilizadoras. Apesar da tempestade lá fora, encontrei um refúgio de calma e ternura naqueles olhos redondos. Aquelas palavras ecoaram como um consolo, mas a sombra do arrependimento persistia, misturada ao som da chuva que batia nas vidraças, criando uma sinfonia peculiar de emoções.

Entre os murmúrios da tempestade, nossos olhares se encontraram, e um sorriso carinhoso iluminou o rosto de Julia. — Às vezes, a vida nos reserva surpresas, e nem sempre podemos controlar tudo. O importante é estarmos juntos, superando obstáculos, não importa o quão imprevisíveis eles sejam. — Suas palavras eram como gotas de serenidade em meio ao caos lá fora.

Baki Imagines 1Where stories live. Discover now