♣ Otto ♣

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Dante estava em um local afastado da cidade, estava escuro e a única coisa que via era uma cabana de madeira velha e decrépita, mas ele viu algumas pessoas, alguns homens vestidos totalmente de preto se aproximando, ele tentou se mexer ou mesmo gritar, mas não conseguia, era como se sua boca estivesse costurada e seus pés concretados no chão… ele sabia do que aquela cena se tratava e por isso tentava desesperadamente se mexer, gritar, correr, mas só sentia impotência e medo. De novo não! De novo não!

Os homens rapidamente entraram na cabana e puxaram uma mulher de cabelos bem negros e escorridos em ondulações, tinha olhos verdes de felino e uma face apesar de jovem e bela, marcada pelas dificuldades dos últimos sete anos. Ela gritava, gritava e se retorcia tentando fugir daquelas mãos que a seguravam, ela chorava e chamava por um nome.

-DANTE! DANTE! Não toquem nele! Não toquem nele! Não toquem no meu filho, seus desgraçados!

Um menino também foi puxado dali, ele se parecia com aquela mulher, era baixo, delicado e muito bonito, ele chorava sem entender exatamente o que estava acontecendo.

-Mamãe! Mamãe!

-Me levem! Me levem! Deixem meu filho e podem me levar! Eu deixo fazerem o que quiserem comigo!

Os homens riram, um riso horroroso e alto, eles sabiam o que queria fazer com Clara Bianchi, demoraria o tempo que fosse, mas ela morreria lentamente e humilhada.

Um Dante já adulto e alheio a situação entendia o que estava acontecendo, aquele mesmo pesadelo sempre martelando-o, sufocando-o todas as vezes que ele deitava a cabeça sobre o travesseiro, mas naquele estava sendo pior, ele via com mais clareza, sempre eram cenas borradas, mas ele via tudo mesmo que tentasse fechar os olhos, não conseguia. 

Os gritos da sua mãe enquanto era agredida por todos aqueles vermes, seus gritos de criança desesperado se debatendo para ajudar sua mãe, uma dor lancinante no peito, as lágrimas nos olhos, a falta de ar. Agora ele percebia que aqueles homens queriam que Dante visse tudo, queria que Clara visse que seu filho a olhava naquele momento, queriam tirar a dignidade de sua mãe diante da coisa mais preciosa dela.

Por que o pesadelo não acabava? Era como se tivesse passado tantas horas, se passaram tantas horas e agora um Dante criança não aguentava mais se mexer, estava cansado e sem forças ao ver o corpo da sua mãe na sua frente, ela estava mais morta do que viva, mas ainda respirava em seus momentos finais até que um homem… ele não se lembrava daquele homem.

Seu rosto estava totalmente borrado, Dante não conseguia ouvir o que ele falava, então ele sacou uma arma e antes que aquela criança pudesse ter reação ele puxou o gatilho dando fim a vida de Clara Bianchi.

Dante chorou mais, Dante gritava como nunca, ele se mexia e se empurrava para frente, os homens que o seguraram não conseguiram e então ele se soltou indo em direção àquela figura. Houve um riso, um riso que fez Dante consumir ainda mais em ódio, o homem foi em direção a criança e o segurou pelos ombros, se aproximou do seu rosto e disse algo que ele não consegue ouvir ou lembrar, mas em respostas Dante passou uma moeda que segurava fortemente naquela face. Não lembra onde, mas com uma força surreal que fez a pele rasgar e gotas de sangue cair, a última coisa que ele viu antes de apagar foi a arma do homem indo em direção a sua cabeça e fazendo a visão escurecer.

-Não! Não! Não! De novo não! -Dante gritou desesperado despertando do sono, seu corpo estava coberto de um suor frio e seus olhos tinham lágrimas histéricas e incessantes, seu coração batia tão rápido que não acompanhava a respiração falhando. Dante novamente sentiu uma impotência cobrir seu corpo de dor, ele queria apagar essas memórias, mas elas insistiam em ficar.

Ele colocou as mãos trêmulas no rosto e chorou, era estranho fazer isso depois de anos, mas era a única forma de liberar aquela dor que sentia.

-Dante.

Rei de CopasWhere stories live. Discover now