♦ Trentasette ♦

774 92 11
                                    

Alev entrou na residência apoiado nos braços de Fatih, havia poucas pessoas para vê-lo chegando, mas era melhor assim, não queria lidar com tanta gente em um momento como aquele. Dante estava ao seu lado com Asaf no colo, o bebê estava com uma chupeta, os olhos com lágrimas recentes e um chocalho em uma das mãos, ao mínimo alarde, ele se recolhia de volta para o peito do pai. Alev então subiu para seu quarto, foi deitado delicadamente sobre a cama e deixado a sós com seu marido.

-Vem, o baba quer pegar você -Alev estendeu as mãos em direção ao seu filho. Hesitantemente, o bebê também fez o mesmo e logo estava em cima do seu pai alfa -eu estava com muita saudade de você, Aşkım.

Asaf levou a mãozinha até o rosto de Alev e depois se deitou sobre ele, sem reação o homem apenas acariciou as costas do nenê.

-Ele está bem. Nosso menino está bem apesar de ter passado por tudo aquilo.

-Ele é tão forte desde cedo, sinto muito Asaf que tenha passado por isso. Ei, que cara é essa?

-Eu estava realmente com saudades -o ômega falou.

-Não foram tantos dias, estou aqui agora -Dante também se deitou ao lado de Alev e o olhou fixamente até se aproximar o suficiente para beijá-lo. O alfa retribuiu passando uma de suas mãos no rosto do marido, chupando seus lábios, sentindo sua saliva adentrando sua boca. Ambos pararam quando Asaf se irritou pelo ciúmes ao ver os dois pais muito próximos, o bebê tentou se levantar com uma cara fechada e partiu para o colo de Dante que imediatamente puxou sua camisa para ser abocanhada.

-Esse papai também é meu!

-Deixe de birra, Alev.

-Céus, eu tomei um tiro, filhotinho. E o beijo do papai ajuda a curar. Você pode ficar com um dos peitos dele por alguns meses e eu com o resto, que tal?

Mas Asaf virou o rosto para o outro lado.

-Tudo bem então, Aşkım, no seu tempo, está bem?



Passava das onze quando finalmente Dante conseguiu separar Asaf dos braços de Alev e colocar o enfermo para dormir, no momento ambos preferiram permanecer na residência dos Yildiz enquanto o alfa se recuperava do ferimento e as coisas que eles passaram podiam ser digeridas. Estava tudo tão recente que era melhor não levantar qualquer ideia para ser feita, Dante sabia disso. Os Yildiz tinham sido atacados enquanto seu grupo ia à procura de Asaf, tiveram pequenas perdas, mas ainda assim um gasto de energia e tempo.

Dante pôs Asaf no berço depois de segurá-lo no colo por longas horas, ele então beijou a face de Alev e saiu do quarto para o andar debaixo, a casa já estava vazia com todos em seus quartos e a maioria dormindo. Ele teve a liberdade de se sentar e folhear novamente o diário de sua falecida mãe após tudo o que passou.

Eram muitos sentimentos, muitas mágoas que ainda ressentiam no seu coração. Era um sentimento profundo e triste, amargurado em si depois de tantos anos de sofrimento… essa era uma palavra para também descrever o que Clara tinha passado, o que Antônio tinha falado piorava ainda mais toda a caminhada que sua mãe tinha passado. Dante percebeu que naquele momento sua missão tinha se completado verdadeiramente com a morte de Antônio, seus demônios estavam mortos, sobrava apenas culpa e vários arrependimentos.

Clara o amou tanto e fez tantas coisas por ele que Dante também começou a compreender ainda mais e respeitar, ele deu a luz a uma vida, ele morreria por ela e já matou por ela também. Sua mãe foi muito corajosa com o que tinha disponível. O ômega suspirou com as palavras que lia.

Ah, Dante. O que era a sua vida?

E naquela noite ele sonhou. Estava livre dos pesadelos.

No seus sonhos, ele vagou por um longo percurso, tinha água até a altura da sua cintura, mas ainda assim ele continuou andando, não se sentiu cansado, somente sabia que não podia desistir. Em determinado ponto, a água foi baixando até a altura de seus pés e então conseguiu correr, se sentiu tão livre como nunca, gritou mesmo que estivesse sozinho naquela imensidão gélida e molhada.

Então um cheiro conhecido foi sentido e ele sorriu à procura, mas quando tentava voltar a correr seu corpo ficou pesado, ele arfou quase sem ar, parecia que chumbo tinha entrado nele, mas quando lançou o olhar sobre si havia um ventre enorme diante dele.

Ele ficou sem reação e com receio de tocar, mas mesmo assim pôs sua mão em cima e notou as tremidinhas que ele tanto conhecia e amava. Sorriu de novo anestesiado e imerso naquele momento acariciando sua curva tão avantajada. Era uma recordação?

-Ei! Dante! Venha aqui! -A voz de seu marido soou bem perto.

-Alev! Alev! Cadê você? Eu não consigo correr!

-Aşkım, eu estou aqui -Alev abriu um sorriso ao seu lado passando os braços em sua cintura e beijando sua bochecha  -e essa linda barriga, ein? Nunca para de crescer.

-Minhas costas doem.

-É normal, Aşkım. Falta poucos dias para o bebê nascer.

-Onde estamos? Parece que minha cabeça está dando voltas!

-Estamos com você, não é Asaf?

Dante franziu a testa. Onde estava seu filho? Não era o bebê em seu ventre?

-Papai! -Um menininho correu para abraçá-lo fortemente.

-Asaf?… Asaf?! -Dante perguntou ainda mais confuso. Seu filho era ainda um bebê, não uma criança que estava diante de si!

-Oi papai! -O menino também abraçou sua barriga e como resposta houveram diversos chutes de dentro -qual é nome dela, papai?

Dante acordou como se tivesse tomado susto, ele puxava ar com dificuldade e estava suado. Quando olhou no relógio ainda não passava das três da manhã, mas seu sono estava perdido. Ele então se levantou e saiu.

Ele caminhou sem rumo assim como em seu sonho, mas agora estava no mundo real. Ainda era inverno e fazia frio, mesmo que ele estivesse agasalhado se sentia congelando, Dante continuou a andar até os pés fazerem bolhas, então parou em frente do Dock Bridge, a passos lentos e hesitantes foi até o centro da ponte e observou o rio que corria embaixo dali. Rio Passaic, sua mãe tinha escrito sobre isso, ela já esteve ali.

Dante sorriu.

Ele se apoiou no batente da ponte e subiu, estendeu os braços para que tivesse equilíbrio e olhou para a água do rio fluindo alheia aos problemas mundanos, Dante sentiu naquele momento uma paz absurda, sentiu um vento frio e uma sensação de conclusão que ele tanto procurava. Tinha acabado, finalmente tudo tinha acabado.

-Mãe, eu estou livre -Dante disse antes de pular.

Rei de CopasWhere stories live. Discover now