♠ Trentasei ♠

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Dante estava sentado em uma cadeira, o dia estava frio e caía neve por todo o jardim, Asaf estava em seus braços mamando meio dormindo meio acordado, desde que seu bebê tinha voltado para ele, estava passando por maus momentos. Ao mínimo som ou toque estranho era uma razão para que chorasse por horas desesperadamente, tremendo e se debatendo contra o seio do ômega. Ainda havia as pequenas cicatrizes ou arranhões pelos seus bracinhos que em cada instante que seu pai olhava sentia que deveria ter feito os causadores sofressem mais e mais até que sangrassem por cada poro do corpo.

Dante acariciou novamente seu lindo cabelo, uma mantinha o cobria para que seu sono fosse embalado com proteção enquanto um cheiro maternal de laranja, tangerina e limão o envolvia. O bebê succionava seu peito até parar e voltar instantes depois com o mesmo movimento, seu pai sorriu singelamente apoiando a cabeça na parede que tanto doía, seus olhos estavam inchados de tanto chorar e ele já estava farto de usar preto, mesmo que naquele dia tivesse motivo, era de luto.

-Eu queria que seu pai estivesse aqui, meu bebê.

Parecia um déjà vu, mas era apenas uma cena que se repetia. Uma casa cheia de pessoas vestindo preto e chorando e no centro do lugar, um caixão. Dentro havia uma pessoa que já esteve viva, já sorriu, já chorou, já abraçou aqueles que amavam, já fez loucuras e já teve momentos bons e ruins, mas que no final jazia morto. Seu coração que um dia bateu tão forte estava frio e parado, imóvel e a parte das condolências.

Era uma culpa que Dante levaria pelo resto de sua vida, porque ele teve a chance de continuar, Cemil não. Cemil estava morto enquanto uma de suas mães segurava uma mão sua e chorava desesperadamente.

-Meu menino! Meu menininho! Eles mataram meu menininho! -O corpo de Ayla tremia violentamente. Suas feições eram de uma tristeza profunda e fatal, seus olhos eram órbitas vermelhas, inchadas e repletas de lágrimas e a face tão bela e bem cuidada estava acabada e abatida -tiraram o meu filhinho de mim!

Samar se aproximou da esposa, a mulher alta de preto também tinha uma cara abatida e seus olhos estavam profundos e cansados. Ela estendeu os braços para Ayla que se jogou em mais choro.

-Minha esposa, o que eu vou fazer? O que eu vou fazer sem meu filho? O meu Cemil se foi, se foi para sempre! -Ayla estava tão desorientada e histérica que Samar só conseguiu apertá-la mais contra os braços enquanto também chorava.

-Eu não sei. Eu não sei, querida.

-Não era essa a vida que eu queria para ele, não era!

Todos lidavam com seu luto de algum modo desesperado. Demir preferiu beber enquanto se escondia no jardim da casa, as lágrimas que nunca tinham caído daquela face agora eram mais que suficientes para encher um rio. Erem chorava enquanto tentava se afastar para que sua filha não visse o desenrolar da cena, a residência dos Yildiz era grande para que nenhuma criança ficasse perto dali, mas todas amavam Cemil, mesmo não entendendo totalmente, elas já sentiam falta do primo que não voltava há alguns dias para casa. Sua avó chorava do outro lado do caixão segurando um lencinho próximo ao rosto, Fátima era uma mulher vivida e sofria pela primeira vez o luto de enterrar alguém de sua família, seu marido estava ao seu lado com os braços em volta dela confortando-a. Várias tias também choravam, algumas tentavam se distrair ajudando com os chás, alguns se ausentavam não sabendo lidar com o luto. Grande parte da família que ainda vivia na Turquia estava ali e também haviam os amigos de Cemil, amigos da vida, do ofício, da antiga escola.

Então chegou alguém diferente que tinha conseguido passar pelos seguranças, era um homem bem jovem, alto e loiro, vestia um terno preto e segurava um buquê de peônias rosa bebê, seus olhos azuis também contrastavam com o vermelho.

Rei de CopasWhere stories live. Discover now