Capítulo 56

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Athena

Dou um pulo da cama quando ouço batidas fortes e a maçaneta de minha porta quase sendo quebrada de tanto que forçam para tentar entrar. Ao abrir, me deparo com Jéssica encostada na parede, com os braços cruzados e uma cara nada boa. Seja lá o que fosse, não tenho culpa, só saio do quarto para ir ao banheiro.

— Vem aqui, agora!

Não tenho a opção de discutir, já que sou arrastada pelo corredor até a sala, me deparando com um espelho enorme no centro e Andrew fazendo caretas para ele.

— O que você vê quando olha para o espelho ?

— Meu reflexo ?! — interrogo, ainda sonolenta

— E você está satisfeita com o que vê ?

Jéssica gira minha cabeça para que eu continue a me olhar e para atrás de mim, apoiando o queixo em meu ombro.

Fico me analisando por um longo tempo, desde às unhas dos meus pés sujas, o esmalte das mãos descascando, short surrado e com um pequeno furo na coxa, a blusa amarrotada, e o cabelo sem pentear por no máximo quatro dias. Eu estava morta por fora, e a única coisa que falta era apenas me enterrar.

— Eu... desculpa. — abaixo a cabeça, envergonhada — não queria que nada tivesse chego a esse ponto.

— Você precisa falar com a sua mãe, ela foi a culpada por isso tudo, por estragar sua vida. — Jéssica acariciava minha cabeça

Me afasto abruptamente quando a idéia de conversar com Melissa é mencionada, ela é uma pessoa ruim.

— Não, eu não posso. Vocês lembram o que ela fez comigo quando eu tinha treze anos, ela me espancou e eu fui parar no hospital!

A bile sobe a garganta, me impossibilitando de respirar, meu corpo fica trêmulo e fraco, e me esforço para me manter de pé. Se eu pudesse apagar toda a merda que aconteceu na minha vida, eu apagaria sem pensar duas vezes.

— Foi somente um palpite, se acalme. — Maya se aproxima

— Nós estaremos com você, se preferir. — Oliver sugere

— Não! Ela me bateu tanto que eu fiquei inconsciente, aquela mulher é um monstro e por pouco não me matou. — esbravejo

Minha vista fica embaçada por conta das lágrimas e sinto meus pulmões queimarem. Perco a força nas pernas e caio de joelhos, sendo amparada por meus amigos, novamente sentindo a maldita dor no peito.

— Ela me deu tantos chutes na barriga, que agora não posso ter filhos. Eu tive uma hemorragia tão forte, que se Aurora e Nicolas não tivessem me levado para o hospital, não sei se estaria viva!

Eu detestava ser tocada enquanto tivesse uma crise de pânico, mas, pequenos braços rodearam meu pescoço, depositando um beijo em minha têmpora. Andrew estava lá — mais uma vez — na esperança de que eu pudesse me controlar, ou que ele conseguisse fazer isso. Eu me odiava por fazê-lo presenciar isso com mais frequência do que gostaria, ele era tão pequeno para assumir uma responsabilidade tão grande.

— Eu estou aqui com você, titia. — cochichou em meu ouvido

— Me perdoa por isso — tento falar, com o desespero tomando conta

— Está tudo bem, eu também choro às vezes...

Balanço a cabeça negativamente, pois, nossos motivos são totalmente diferentes ou quase. Ele sofria com a saudade da sua mãe, já eu sofria com a presença insignificante da minha.

— Você consegue, estamos aqui. — ele afaga minhas costas

Era bom ouvir sua voz doce e serena, como se não tivesse noção da maldade do mundo, e da tamanha crueldade que pessoas — bem próximas — podem causar em nossas vidas.

O Que Não Disse A Você Where stories live. Discover now