Capítulo 60

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Athena

Me recordo de ter saído de casa para caminhar, quando senti que estava sendo seguida, olhei para trás, mas só havia pessoas andando de um lado para o outro. Continuei meu trajeto, novamente com a sensação de que alguém estava atrás de mim.

Um homem de estatura alta, usando um moletom preto cobrindo uma parte de seu rosto com o capuz, estava parado a alguns metros me olhando e entrou em um beco. Pensei que o conhecia de algum lugar e fui atrás para vê-lo melhor. O corredor é cheio de caçambas de lixo, canos de água, e fumaça de ar-condicionados. Não o encontro em lugar nenhum, e decido ir até o final do beco que tem saída para a outra avenida. Após isso, não me lembro de absolutamente mais nada.

Agora, estou amarrada em uma cadeira com uma corda em minha barriga, em um lugar escuro, somente com uma luz em cima de mim. O chão é cinzento, sujo de poeira e latas de refrigerante, um odor desagradável causado pelas paredes mofadas e o teto caindo aos pedaços. Me sinto sonolenta, como se tivesse ingerido uma grande quantidade de calmante.

— Até que enfim nos reencontramos... — a voz sinistra adentra meus ouvidos

Não consigo identificar quem seja, ele estava parado na porta, mas a luz que refletia em meus olhos me incomodava o suficiente para que eu os mantenha fechados.

— Quem está aí ? — pergunto, sentindo minha cabeça girar

Ele chega mais perto da claridade, me forçando a abrir os olhos vejo suas botas sujas de lama seca, a calça jeans escura com respingos molhados e o moletom que tinha o visto mais cedo, estava fora de seu corpo, agora com uma camiseta branca.

— Não acredito que tenha se esquecido de mim...

Recuperando minhas memórias, ergo mais a cabeça me deparando com a última pessoa que pensei em ver novamente um dia. Além de tentar me prejudicar, fui ofendida de todas as formas possíveis.

— Kaio ? O que... ?

— Não seja tão ingênua, achou mesmo que eu iria deixar barato tudo o que vocês fizeram comigo ?

Ele se aproxima, e eu tento me soltar, mas sinto uma dor horrenda, prestando bastante atenção, percebo que meus pulsos estão amarrados com arames farpados. Eles furam minha pele, me fazendo soltar um grito agonizante.

— No seu lugar, eu faria de tudo para não me mexer muito, isso machuca pra caramba! — ele diz, com sarcasmo

Seu humor me assusta, ele está acabado, olheiras visíveis, rosto pálido, emagreceu bastante, e o cabelo cresceu.

— Por que você está fazendo isso ?

— Eu fui tratado como um lixo naquela empresa e você pergunta o motivo ? — ele grita, desferindo um tapa em meu rosto — você é uma vadia burra!

Kaio não foi tratado como um lixo, ele teve o que mereceu, me difamou, e que eu não era merecedora de minhas conquistas. Temos sempre que pensar no que falamos, e para quem dissemos, o risco de que algo maior aconteça é assustador.

Quando nos disse que isso não ficaria assim, achamos que tivesse sido apenas da boca pra fora, no momento de raiva. Não soubemos de nenhuma notícia a meses, relacionado a ele, achamos até que Kaio poderia ter ido embora, mas, nos enganamos. Ele esteve o tempo todo aqui, e nossas vidas são tão agitadas que não nos preocupamos em ir atrás dele.

— O que você quer ?

— Achei que estava óbvio. Vingança. Você vai sofrer cada soco que eu levei do seu namoradinho, cada chute...

Não consigo respirar no momento em que sou atingida na barriga por um soco forte que ele me deu, meu corpo se curva para frente com tamanha dor, mas, ela se torna menor quando as farpas rasgam meus pulsos virados para cima. Lágrimas descem desenfreadas junto com os gritos, e o mesmo com um sorriso largo.

O Que Não Disse A Você Where stories live. Discover now