O Que Não Disse A Você

Epílogo

Theodoro

Fraldas, chupetas, carrinho, mamadeira... está faltando mais alguma coisa.

— Amor, fica calmo. Nós só vamos almoçar com seus pais.

Procuro por todos os lugares, mas não tenho idéia do que seja. Era a primeira vez que estávamos saindo com Analua desde seu nascimento, ela completava dois meses hoje e estava tão esperta.

O parto foi uma loucura, estava na empresa quando Jéssica me telefonou aos berros falando que Athena entrou em trabalho de parto. Lembro-me de levantar com tanta pressa que derrubei o abajur que ficava ao meu lado, sai da sala me deparando com Holly voltando calmamente do seu intervalo com um café na mão, ela me olhou assustada quando agarrei seu braço e a arrastei até o elevador.

Dois meses atrás...

Fomos para o estacionamento, eu corria na frente, e Holly tentava me acompanhar enquanto tirava os saltos e avisava aos outros. Nessas horas tudo parece dar errado, o carro simplesmente demorou para ligar, e o trânsito estava caótico, um acidente envolvendo um carrinho de cachorro-quente e um motociclista. Nenhum dos dois havia se machucado, mas estavam discutindo enquanto suas coisas estavam espalhas no chão.

O homem com uma fantasia de cachorro-quente gigante acertou um soco na lateral no rosto do motociclista, e uma briga generalizada começa quando outros dois motoristas saíram de seus carros e tomaram lados opostos.

A raiva me consumiu vendo aquele show de horrores, e tirei o cinto ouvindo Holly pedir que eu não fosse até eles.

Os quatro se embolavam pelo chão, com todos em volta filmando ou gritando para que parassem, mas de fato ninguém se envolvia. Bufo antes de puxar o homem de fantasia e jogá-lo no chão, e puxo o cabelo do outro que se arrastava até o cachorro-quente gigante.

Vou até os outros dois, os afastando com força e os seguro pela garganta, eles estavam eufóricos pela briga onde só um apanhava.

— Eu não me importo se vocês querem matar uns aos outros, agora saíam do caminho porque a minha filha vai nascer, e se eu perder o nascimento dela, o ciclo da vida de vocês se encerram hoje!

Empurro os dois em direções opostas e vou até o carrinho puxando até o outro lado da calçada. Escuto a voz de Holly que discutia com um dos homens, ela estava descalça, a meia-calça com dois furos nos pés e sujas de ketchup.

Não entendo muito bem o que acontece, mas Holly pisa no meio das pernas de um dos homens sentado no chão, ele se contorce de dor enquanto ela arruma seu cabelo e volta para o carro.

— Hey, cara. Você arranhou o meu carrinho inteiro, como vou trabalhar ? — o homem de fantasia pergunta

Eu estava estressado e com pressa de chegar ao local, mas não seria justo eu deixá-lo sem o seu sustento. Pego o cartão da empresa em meu paletó e dou em sua mão.

— Procure por Scarllet e diga que foi a mando de Theodoro Montteli.

Corro para o carro e quando abro a porta do motorista Holly está sentada com as mãos no volante. Ela me encara por alguns segundos, não me dando a chance de responder. Me sento no banco do passageiro e a vejo estalar o pescoço, segurando o volante com mais força. Coloco o cinto e seguro o banco a ponto de meus dedos ficarem brancos.

— Você sabe dirigir ? — pergunto

Ela me olha soltando um riso de escárnio e se vira para frente novamente.

— Isso é você quem vai me dizer.

Filha, sei que não nos conhecemos e não sei se teremos a chance, mas saiba que o papai te amou desde que descobrimos da sua existência.