interludio I

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Interludio

Quando Cadu chegou em casa, pequeno e indefeso, trazido pelas mãos de Anastácia. José correu pela casa achando que ia receber algum presente. Mas ficou muito, extremamente surpreso ao ver aquela cabeleira ruiva.

— O que é ele?

— Seu novo irmãozinho — explicou Anastácia.

— Não é não. Ele não é igual ao papai, quer dizer... um pouco, — espiou o Cadu no colo de Anastácia — mas nem igual a você, e você não engoliu a sementinha mágica igual a tia engoliu da Pandora. Aquela que faz crescer a baliga.

— É "barriga", Cebolinha.

— Mas eu não quelo um irmão, ele não é meu irmão. Quem é mamãe dele?

Anastácia agachou na frente de José .

— Ele não tem mamãe, por isso serei eu a mamãe dele.

Aquelas palavras eram fortes para uma criança birrenta e mimada feito José. Mas Anastácia sabia que devia deixar claro para José que agora aquilo faria parte de sua realidade e que nada que ele fizesse mudaria as coisas.

— Olhe... Ele é só um bebezinho, ele não sabe nada. Vou precisar muito que você me ajude a cuidar dele, assim como o papai também vai me ajudar. Seremos uma família maior agora — explicou Anastácia.

José olhou por cima da manta o pequeno bebezinho que o olhou. E José sentiu que seu ciúme birrento, se jogar no chão, gritar ou espernear não iria realmente funcionar, Cadu era mais indefeso que ele mesmo.

Ficou muito frustrado e andou para seu quarto dizendo não querer um irmão. Estava abruptamente enciumado por ter de dividir o trono.
Naquele dia José passou o dia todo longe, não queria brincar, nem comer, nem nada, estava odiando aquela ideia, mas odiando mesmo, ninguém nunca vira uma criança com um sentimento tão amargurado quanto aquele que ele mesmo estava gerando em si.

— Acha que ele vai se acostumar querida? — perguntou Renê

— Ele vai ter de se acostumar. Não tem como voltar atrás Renato.

Anastácia terminava de fazer a cama, José já estava adormecido, e Cadu também. Era muito tarde, aquele dia e aquela noite estava sendo exaustiva. Cadu chorava a todo minuto.
Quando Anastácia finalmente pensou que fecharia os olhos bastou um cochilo de apenas quarenta minutos para acordar com o berreiro choroso de Cadu. Renato dormia feito uma pedra. Anastácia se levantou devagar, passar por tudo aquilo de novo?
Acordar de madrugada? Se preocupar com o novo bebê? Se está respirando? Se está pesando os quilos que deveria? Tudo que ela já passou? Valia a pena correr isso tudo? Ela não sabia, não sabia a resposta.

Caminhou pelo corredor feito um zumbi, mas antes de chegar Cadu parou de chorar.
Ela escutou a voz de José que vinha do quarto do pequeno bebê.

— Não precisa cholar... Você não precisa se sentir mais sozinho, agora você vai ter uma mamãe.

Anastácia espiou, José estava pendurado no berço. Era perigosos que ele caísse.

— Você quer que eu entre? Mas não pode mais cholar... Hoje fiquei sozinho o dia todo por sua causa, é muito ruim, mas a gente pode ser amigos e posso fazer companhia para você. Irmão eu não sei, mas amigo.

Anastácia deu um riso, ainda escondida entre a porta espiando. Ali estava a resposta para todas suas dúvidas. Sim valeria a pena passar por tudo aquilo de novo.

— Quando eu for para a escolinha ninguém vai achar que você é meu irmão de verdade você é muito difelente. Mas quando você for eu posso cuidar de você se você for um bom menino. Você estava cholando só por que estava sozinho né?

José escalou o berço e entrou no berço de Cadu, estranhamente Cadu parou de chorar, não era dorme, era realmente a estranheza de estar sozinho em um novo ambiente, mas agora ele está a com a companhia perfeita.

— Agora você tem uma família, eu gostei dos seus olhos verdes e do seu cabelo pintado. — José riu — Olha... você já nasceu com o cabelo pintado mamãe não deixa pintar o meu, mas eu queria verde, só no carnaval que pode.

José riu de novo.
E Anastácia pôde ouvir a primeiro resmungo do neném, como se realmente ele estivesse gostando.
Anastácia entrou no quarto.

— Zé? O que está fazendo? — perguntou de modo doce.

— Acho que ele não está gostando da nova casa e de ficar sozinho. Posso dormir aqui hoje.

Anastácia olhou a sua volta.

— Não no berço. Pegarei o seu colchão e colocarei no chão pode ser?

— Isso... mas por que não posso dormir aqui?

— Por que Cadu é muito pequeno e pode sufocar ele.

— Mas eu não vou mãe

— José isso não é um acordo.

Naquela noite até mesmo Anastácia dormiu no colchão, e José  durante a madrugada escalou o berço sem Anastácia ver e dormiu dentro dele ao lado de Cadu.
Depois daquilo foi só uma questão de tempo, José se adaptou rápido, mais rápido do que Cadu a nova realidad, se tornou um irmão coruja, as vezes antes de Anastácia chegar ele já estava lá, pertinho do berço observando o irmão chorão.

Amor Azul CentáureaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora